Sínodo 2024: Presidente do CELAM admite possibilidade de rito amazónico e lembra situação de comunidades sem padres

Três futuros cardeais destacam papel crescentes das Igrejas fora da Europa

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Cidade do Vaticano, 08 out 2024 (Ecclesia) – D. Jaime Spengler, arcebispo de Belo Horizonte e presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), disse hoje no Vaticano que a possibilidade de um “rito amazónico” continua em aberto.

“Temos comunidades em vários lugares onde se passam, não dias ou semanas ou meses, mas anos sem a celebração da Eucaristia”, assinalou o futuro cardeal, durante o briefing diário dedicado aos trabalhos da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária dos Sínodo dos Bispos, que decorre até 27 de outubro.

Na Igreja Católica existem os ritos latinos (tendo por base o rito romano e admitindo as variantes dos ritos ambrosiano, hispânico e outros, como o bracarense) e ritos orientais (especialmente o bizantino); várias Igrejas orientais em comunhão com Roma admitem a ordenação sacerdotal de homens casados, mas não é consentido casar depois da ordenação.

O Sínodo especial de 2019 apelou à criação de um “rito amazónico”, que o Papa assumiu na exortação “Querida Amazónia”.

O presidente do CELAM considerou que, face à diversidade de culturas e línguas na região, seria mais simples “encontrar um rito que caracterize aquela região, um rito novo”, do que procurar “caminhos para a inculturação do Rito Romano”.

O arcebispo brasileiro foi questionado sobre a possibilidade de se ordenarem homens casados como padres.

“Precisamos de franqueza, de parrésia, para usar uma expressão do Santo Padre, para tratar dessa questão também”, observou.

Podemos e devemos abordar com coragem esta questão, tendo presentes os aspetos teológicos, em primeiro lugar, sem dúvida, da tradição da Igreja, mas também atentos aos sinais dos tempos”.

Com os jornalistas esteve outro futuro cardeal, D. Ignace Bessi Dogbo, arcebispo de Abidjan (Costa do Marfim), que elogiou o processo sinodal, sublinhando que o mesmo tem permitido “reconhecer o lugar de todos, pequenos ou grandes, ricos ou pobres”.

“Na Igreja, somos todos irmãos, e trabalhamos para a missão vivendo esta comunhão fraterna”, acrescentou.

O responsável destacou a “abertura” do Papa, que tem criado cardeais de todas as partes do mundo, para “ouvir a sua voz”.

“Hoje, a Igreja tem necessidade de escutar”, assinalou.

A sala de imprensa da Santa Sé recebeu ainda D. Tarcisio Isao Kikuchi, arcebispo de Tóquio (Japão), que também vai ser criado cardeal a 8 de dezembro, no próximo consistório.

O responsável destacou a importância de construir “um entendimento comum sobre os alicerces da sinodalidade”, que permita superar o modelo “piramidal”, nas comunidades católicas.

“Temos de ter a base. Caso contrário, a forma sinodal de tomar decisões pode ser a busca do consenso e o consenso pode ser manipulado”, advertiu.

O arcebispo de Tóquio destacou a escolha de três novos cardeais asiáticos, após a viagem do Papa no início de setembro, à Indonésia, Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura.

“O centro da missão da Igreja está a mudar da Europa para outras áreas, para o sul global”, observou.

A assembleia sinodal, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

Esta sessão da Assembleia Sinodal tem 368 membros com direito a voto, dos quais 272 são bispos; à imagem do que aconteceu 2023, mais de 50 votantes são mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

A eles somam-se, sem direito a voto, 16 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Esta segunda-feira, no dia de oração e jejum pela paz, convocado pelo Papa, foram recolhidos 32 mil euros para a paróquia de Gaza, em donativos da Assembleia Sinodal, a que se somam 30 mil da Esmolaria Apostólica, o braço operativo da caridade do Papa.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) está representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, está presente na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participa na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, participam também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos “assistentes e colaboradores”.

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Agência ECCLESIA

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