Sínodo 2024: «Não podemos esperar que a mudança venha de cima», diz teóloga espanhola convocada pelo Papa (c/vídeo)

Cristina Inogés Sanz mostra-se confiante numa mudança de «pequenos passos», sublinhando que próxima sessão sinodal «não é mais do mesmo»

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 01 out 2024 (Ecclesia) – Cristina Inogés Sanz, teóloga espanhola convocada pelo Papa a XVI Assembleia Geral do Sínodo, disse hoje à Agência ECCLESIA que os últimos anos abriram caminhos de mudança, desde a base da Igreja.

“Não podemos esperar que a mudança venha de cima, porque a mudança nunca veio de cima. Atualmente, sabemos como podemos fazer a mudança e que temos a capacidade de a fazer a partir de baixo”, referiu a especialista, que integrou a comissão metodológica do Sínodo.

A teóloga espanhola é a única mulher leiga que participa neste Sínodo por nomeação direta do Papa.

A segunda sessão desta assembleia sinodal, que decorre de 2 a 27 de outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021, numa iniciativa global lançada pelo Papa.

A entrevistada admite que, nos últimos meses, “a expectativa diminuiu um pouco, talvez porque o processo que foi seguido não foi bem comunicado, especialmente pelo próprio Sínodo”.

A especialista acredita, no entanto, que é possível, neste momento, colocar em prático tudo o que se tem estado “a trabalhar e a partilhar durante estes três anos”.

Isso criou um sentimento de mais do mesmo, mas realmente não é mais do mesmo, porque todo o contributo na sessão inicial, todos os contributos da fase diocesana não impedem que nós, leigos, o ponhamos em prática nas nossas pequenas comunidades, nas nossas paróquias, nos nossos movimentos”.

Investigadora nos departamentos de Teologia Fundamental e História da Igreja da Faculdade Protestante de Madrid, Cristina Inogés Sanz coordena e apresenta o programa ‘Mulheres escondidas na história’, na TVE2.

Para a docente universitária, o “grande medo” relativamente aos resultados do Sínodo tem vindo, em “boa parte”, de membros do clero, considerando que “os leigos estão muito empenhados”.

A participante na Assembleia Sinodal refere ainda que a América Latina está “anos-luz à frente” no caminho sinodal, tendo mostrado “os erros, os problemas, mas também as soluções”, como a criação de uma Assembleia Eclesial.

Esta segunda sessão tem 368 membros com direito a voto, incluindo 51 mulheres, um facto que tem sido destacado em várias análises.

“Claro que o mais surpreendente, o mais visível e o mais marcante são as mulheres, devido à nossa situação na Igreja, mas é verdade que há muitos leigos, também homens, religiosos, padres que têm direito de voto”, realça Cristina Inogés Sanz.

Para a teóloga espanhola, é importante que se veja no Sínodo dos Bispos um “Sínodo do povo de Deus”.

Questionado sobre o que pode resultar das próximas três semanas de trabalho, a entrevistada diz que mais do que “grandes coisas”, é preciso apontar a “pequenos passos quotidianos, passos que têm de se tornar habituais”.

“Se esperarmos o espetacular, ficaremos todos desiludidos, embora nunca se saiba, porque o Espírito está sempre presente”, acrescenta.

A participante acredita que o trabalho dos últimos anos criou “os instrumentos para estabelecer efetivamente a sinodalidade na Igreja”.

“Creio que é isto que devemos ter bem claro. Cada um de nós é uma peça sinodal, portanto, podemos construir com as peças que cada um de nós é”, conclui.

O Sínodo dos Bispos pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

OC

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Agência ECCLESIA

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