Sínodo 2021-2024: Santarém assinala «reduzida participação» em nova fase de consulta sinodal

Contributo da comissão diocesana alerta para a necessidade de «formação» e «conversão espiritual»

Santarém, 16 abr 2024 (Ecclesia) – A Diocese de Santarém divulgou o contributo sobre o relatório final da primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, assinalando a reduzida participação nesta nova fase e alertando para a necessidade de formação e conversão espiritual.

“A reduzida participação na nossa diocese nesta 2ªfase da consulta sinodal indica um alheamento de muitos cristãos, leigos, consagrados e ministros ordenados, quanto a este processo sinodal. Este ‘grande silêncio’ precisa de ser refletido e trabalhado, pois ‘um grande universo de cristãos não terá tido oportunidade efetiva de se pronunciar e de participar’”, pode ler-se na reflexão diocesana.

A consulta realizada na diocese envolveu 17 contributos provenientes de três vigararias, com o contributo dos presbíteros, seis conselhos pastorais paroquiais, um conselho pastoral Interparoquial, um encontro de responsáveis paroquiais, quatro movimentos laicais presentes na diocese e o contributo dos diáconos permanentes da diocese e da Cáritas Diocesana.

Como forma de responder à pergunta ‘Como ser Igreja Sinodal em Missão?’, a Diocese de Santarém centrou-se em três pontos: dificuldades, desafios e avanços.

Além da falta de participação, a Diocese de Santarém indicou no documento que uma das dificuldades sentidas diz respeito à “organização tradicional da Igreja em que a hierarquia não promove a comunhão e a participação de todos nos processos deliberativos e no funcionamento das estruturas eclesiais, mantendo assim um esquema piramidal de organização, centrado no clero e em alguns leigos ‘clericalizados’”.

A comissão sinodal identificou ainda como dificuldades a “ausência de estruturas de comunhão e participação na vida comunitária ou o seu funcionamento deficiente” e a linguagem litúrgica, nomeadamente na celebração da eucaristia, que “parece revelar alguma ineficácia comunicacional e não gera atração, sobretudo entre os jovens e as crianças”.

“Porque é que os pais se queixam que os filhos não querem ir à Missa? Porque é que a missa não é sempre o lugar do encontro feliz com o Ressuscitado? Porque é que na postura, forma de estar, de comunicar, nem sempre sobressai a alegria da relação com Jesus vivo que caminha connosco?”

A comissão de Santarém ressalta que “nos textos preparatórios para o início do processo sinodal, e nos vários documentos que nas diferentes etapas têm sido elaborados e divulgados, emerge um desafio de fundo e prévio a qualquer preocupação de produzir textos acerca da sinodalidade na Igreja e na sua missão: a sinodalidade é uma experiência espiritual que nos pede a todos uma sincera e profunda conversão”.

“A corresponsabilidade na missão implica dispor-se a sair do próprio amor, querer e interesse, abrindo-se à escuta orante do outro, sabendo que é neste encontro profundo de corações que poderemos escutar o que o Espírito Santo nos quer dizer a nós Igreja Diocesana”, indica o documento.

Segundo a comissão sinodal, “esta conversão que desafia cada membro da Igreja e cada comunidade, necessita de assentar numa estratégia ativa que confronte os egoísmos, comodismos, sacramentalismos e os autoritarismos, onde assenta uma Igreja autocentrada e de cariz clericalista que gera ‘comunidades amorfas’, ‘cristãos de bancada’ e ‘espetadores críticos’ e não espaços de comunhão e vida, ao jeito de Jesus e verdadeiros discípulos missionários”.

A síntese aponta ainda a formação como desafio, destacando que “uma particular atenção deve ser dada à formação dos ministros ordenados e dos consagrados, incluindo nos planos formativos uma pedagogia sinodal de modo a evitar uma comunidade formativa clericalizada e clericalizante”.

“A formação a desenvolver e a implementar deve abranger as diferentes dimensões da vida da
Igreja (Liturgia, Caridade e Evangelização). Contudo, na vida das comunidades cristãs sobressai uma persistente lacuna na formação espiritual, levando-nos a concluir que na base de qualquer plano formativo ou catequético esta deva ser a preocupação essencial e primeira. No desafio da formação refere-se ainda a formação para a utilização dos meios digitais na vida das comunidades cristãs, pois o mundo digital, apesar das suas ambiguidades e riscos, constitui um espaço a valorizar na missão da Igreja”

A comissão sinodal manifesta ainda na dimensão dos desafios que “a hierarquia eclesial, enquanto forma de organização da autoridade na Igreja, não pode ser expressão de domínio, mas instrumento de comunhão” e salienta a necessidade de renovação da vida comunitária.

Fruto da reflexão da consulta realizada na diocese de Santarém surge como avanço uma Igreja, “corpo sinodal”.

“Os encontros sinodais, no âmbito deste processo, constituíram verdadeiros e fecundos momentos de escuta, partilha, silêncio e oração: ao reunirmo-nos estamos já a gerar, como primícias, uma Igreja, ‘corpo sinodal’, empenhada e entusiasmada na missão, cada vez mais compreendida como tarefa da responsabilidade de todos: também aqui ‘todos, todos, todos…’”, salientaram.

O texto, publicado na página da diocese a 4 de abril, enfatiza ainda que “os encontros sinodais trouxeram também a consciência de que a sinodalidade já está presente e molda muitos aspetos da vida da Igreja, das comunidades cristãs e dos movimentos”.

Os trabalhos da primeira sessão desta Assembleia, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, decorreram entre 4 e 29 de outubro, tendo aprovado um documento de síntese; a segunda etapa vai decorrer em outubro de 2024, com os mesmos participantes.

LJ/OC

 

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