Sínodo 2021-2023: Igreja vive momento decisivo, diz sacerdote português que integra Comissão da Comunicação

Padre Paulo Terroso fala em «questão geracional» que implica processo longo de transformação

Padre Paulo Terroso
Foto: Ricardo Perna/Família Cristã

Porto, 15 mai 2022 (Ecclesia) – O padre Paulo Terroso, membro da Comissão da Comunicação do Sínodo, no Vaticano, afirmou que o processo lançado pelo Papa é uma “questão geracional” que vai transformar a Igreja e requer tempo.

“O caminho da vida da Igreja e o seu futuro é deixar esta autorreferencialidade e passar à saída a missão, ao diálogo, digamos, àquilo que é a evangelização”, assinalou o convidado desta semana da entrevista conjunta Renascença/Ecclesia.

Segundo o sacerdote, “uma outra postura pode significar igrejas desertas”.

“Ninguém espere que, em 2023, tenhamos uma igreja sinodal. É uma questão geracional e, sobretudo, de conversão”, acrescentou.

A primeira fase do processo sinodal lançado pelo Papa em outubro de 2021 decorre até final de maio, nas dioceses portuguesas, que preparam uma síntese do trabalho realizado a nível local.

Estes contributos são confiados à Conferência Episcopal, encerrando esta etapa inédita, desenhada por Francisco.

O padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, considera que ainda se “se confunde Sínodo com sinodalidade, que é uma forma de ser uma disposição interior, de escuta, de encontro, de oração e de tomar decisões”.

Este Sínodo tem uma particularidade: parece muito introspetivo, parece muito uma questão de interna a Igreja, e, no entanto, este é o passo necessário para depois, em conjunto, abordarmos outras questões que são importantes e urgentes”.

O membro da Comissão da Comunicação do Sínodo defende que “aquilo que diz respeito a todos deve ser discutido por todos, falado entre todos”.

“Falharia redondamente este Sínodo se, no fim, não criássemos processos, metodologias e estruturas que dessem uma expressão sinodal à vida da Igreja”, aponta.

O responsável admite que o diálogo com todos os setores da sociedade, das “periferias” referidas pelo Papa aos “improváveis”, pode gerar resistências internas nas comunidades católicas.

“Estamos com medo de ser confrontados? Assusta-nos aquilo que é a diferença?”, questiona.

Há quem arrisque e pague um preço bem caro de incompreensão, de condenação, às vezes de difamação, até. Isso acontece, mas esse é o caminho, temos de fazer o caminho de saída, de encontro”.

Apontando ao futuro, o entrevistado acredita que todos os que participaram neste processo vão continuar mobilizados.

“Aquilo que me preocupa são os futuros sacerdotes. Nós vivemos num tempo em que, do ponto de vista da identidade, emocional e psicológico, as pessoas são muito frágeis e tendem a reforçar o autoritarismo, com sinais exteriores que definem muito bem aquilo que é a minha função”, prossegue.

O padre Paulo Terroso sustenta que é necessário debater a forma de tomar decisões e os processos que levam até elas, com uma participação cada vez mais alargada.

“Todo este processo é uma forma de desclericalização da Igreja e de nos entendermos como Povo de Deus, que em conjunto caminha. Este é o cerne do Sínodo, a questão fundamental”, conclui.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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