Sínodo 2021-2023: Diocese de Setúbal assume preocupação com afastamento dos jovens

Síntese local sublinha necessidade de «acolhimento» e alerta para imagem de Igreja «tradicionalista, conservadora, julgadora»

Setúbal, 29 mai 2022 (Ecclesia) – A Diocese de Setúbal divulgou este sábado a síntese local para o Sínodo dos Bispos 2021-2023, convocado pelo Papa, na qual assume preocupação com a “diminuição” das comunidades católicas, “especialmente a falta de jovens na Igreja”.

“A maior dificuldade foi sentida a nível dos jovens, que manifestaram uma menor confiança no processo sinodal e alguma descrença em mudanças na Igreja, face ao seu forte desejo de ver mudanças visíveis e rápidas”, refere o texto conclusivo, divulgado online e enviado à Agência ECCLESIA.

A partir do contributo dos 6475 participantes nesta fase local, a Diocese de Setúbal destaca a necessidade de acolhimento a todos, com atenção particular “aos jovens, mulheres, aos mais pobres, aos casais recasados, aos homossexuais, às famílias monoparentais e minorias”.

O texto assume que esta fase de consulta e debate teve” diferentes sensibilidades, que acentuam uma linha mais conservadora e outra que aponta para a necessidade de reforma por parte da Igreja”.

“A tendência do tradicionalismo fecha a Igreja em si mesma, deixando-a com pouca flexibilidade para escutar sem preconceitos e na abertura à novidade da missão”, assinala a síntese, que vai ser entregue à Conferência Episcopal Portuguesa.

Muitos veem a Igreja como, ainda, muito tradicionalista, conservadora, julgadora, pouco aberta às novas dinâmicas da sociedade. Uma Igreja que por vezes se incomoda demasiadamente com a moral sexual, mas que está pouco atenta à moral social e económica”.

O Sínodo 2021-2023 tem como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão” e iniciou-se simbolicamente no último mês de outubro, sob a presidência do Papa, no Vaticano, marcando o arranque de uma inédita fase de consulta e mobilização das comunidades católicas de todo o mundo.

Em Setúbal, a síntese diocesana resultou da “escuta sinodal realizada nas comunidades entre janeiro e abril deste ano”, num momento em que esta Igreja local espera a nomeação de um novo bispo.

O texto apresenta reflexões sobre o contexto social e económico da diocese sadina, com “heterogeneidade cultural e profissional”, “diversidade cultural” e “desertificação humana e envelhecimento”.

Das 57 paróquias de Setúbal, a participação rondou os 70%; a síntese lamenta, no entanto, as “

poucas propostas dirigidas aos não crentes, às organizações e instituições públicas e/ou privadas”.

Os participantes assinalaram a necessidade de “maior compromisso de fé”, “aposta na comunicação interna”, a “sobrecarga dos padres”, “cuidado com a Liturgia”, a formação e a importância de processo de decisão mais alargado.

A dimensão social é “reconhecida como uma parte importante da vida pastoral e da mensagem da Igreja”.

O documento questiona a falta de estruturas de escuta e de participação, como por exemplo o Conselho Pastoral, o Conselho para os Assuntos Económicos, sustentando ainda que “o papel da mulher na vida da Igreja e nos ministérios deve ser objeto de reflexão”.

A primeira fase do processo sinodal chega ao fim este mês, com as várias dioceses portuguesas a ultimar uma síntese do trabalho realizado a nível local, que vão entregar à Conferência Episcopal.

OC

Enumeram-se uma série de propostas de mudança na Igreja (a nível geral, diocesano ou paroquial) que mereceram maior destaque:

–  Rever a forma de acolhimento nas nossas igrejas

-Apostar no diálogo entre paróquias a nível laical, na possibilidade da existência dos conselhos vicariais ou, informalmente, entre os diferentes grupos e movimentos

– Os movimentos, na comunidade, devem caminhar juntos fomentando o encontro, reunindo e rezando juntos, em coordenação pastoral

– Fomentar a escuta do outro, pondo em prática o Evangelho, na missão de ir em busca da “ovelha perdida”

– Necessidade de a Igreja voltar a ensinar o silêncio às pessoas, que estão demasiado envolvidas por uma sociedade ruidosa onde se torna difícil escutar a voz de Deus

– Criar grupos, formais e informais, de diálogo com as periferias

– Promover momentos informais: criação de um lugar de convívio, onde as pessoas possam estar em comunidade de forma mais informal (café/bar); momentos de encontro, partilha e formação e de conversas informais antes/depois das celebrações, com o pároco

– Dar a palavra aos fiéis, estando o sacerdote no meio deles, disponível para a escuta

– Necessidade de uma abertura ao diálogo na abordagem de temas como: a homossexualidade, o divórcio, o papel da mulher, participação cívica e ambiental e o acesso à Comunhão dos divorciados recasados

– Cuidar que os centros sociais paroquiais tenham uma gestão competente, pondo em prática os princípios da Doutrina Social da Igreja. Procurando construir uma Igreja que não se limita à assistência social, mas que procura capacitar para o encontro de soluções

– Apostar numa maior transparência acerca dos recursos financeiros da paróquia, sua origem e sua utilização, recorrendo à ajuda especializada de leigos competentes nestas matérias

– Chamar leigos capazes de presidir às instituições da Igreja, nomeadamente às IPSS paroquiais, provendo a sua justa remuneração, e libertando os párocos para a sua missão pastoral

– Procurar que as celebrações sejam mais alegres, inclusivas, apelativas e compreensíveis para os jovens e crianças

– Reforçar a aposta da formação de adultos e a sua integração na comunidade

– Investir na formação do clero em ordem a uma Igreja mais fraterna, acolhedora e por isso missionária

– Presença, regularmente atualizada, das Paróquias e Movimentos nas redes sociais, para evangelização, divulgação e proximidade

– A Igreja Católica deve reconhecer os seus erros e saber pedir perdão. Trabalhar a purificação da memória, como foi pioneiro São João Paulo II

– Importância de promover o diálogo em três níveis diferentes: dentro de cada igreja cristã, na relação com as outras igrejas cristãs e finalmente com as restantes religiões não cristãs. Só deste modo se criam comunidades humanas, fraternas e cooperantes; respeitando as características, as diferenças e as opiniões de cada uma.

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