Semana dos Seminários terminou este Domingo

«Todos somos chamados a assumir os seminários como uma missão essencial da vida dos cristãos», lembra o presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios

“Estou às portas de ser ordenado diácono, no dia 29 de Novembro, no Mosteiro dos Jerónimos. Sinto-me muito feliz; mas mais do que isso, sinto que estou a realizar aquilo a que o Senhor e a Igreja me chamam”. Em entrevista à ECCLESIA Rádio, Nuno Rosário Fernandes fala dos caminhos que percorreu e das opções que tomou até às vésperas de receber o primeiro grau do sacramento da Ordem.

Depois da catequese, “afastei-me um pouco da Igreja, porque não tinha descoberto nada que me atraísse a ela”, recorda este seminarista nascido em Lisboa e criado no Cadaval.

Mas não deixou de ir à Eucaristia, aos Domingos, mesmo que a vontade fosse pouca ou nenhuma: “Os meus pais obrigavam-me a levantar-me cedo para ir à missa; ia com muito custo, e ficava sempre naqueles lugares do fundo, que é onde normalmente os jovens ficam”.

Pelos 17, 18 anos, a participação num encontro de jovens, no Bombarral, marcou o início de uma nova fase no seguimento de Cristo e na entrega ao serviço da Igreja: “Para grande surpresa minha, deparei-me com um padre à volta dos 40 anos, que trazia consigo uma viola, com a qual conseguia transmitir alegria aos jovens, através da música. Achei aquilo muito estranho e bonito. Foi uma coisa que me cativou”.

A integração numa equipa responsável pela Pastoral Juvenil consolidou o regresso à vida eclesial: “Quando somos jovens, se nos atribuem uma responsabilidade não queremos ficar mal. E eu empenhei-me a sério”.

Aos poucos, redescobriu “a beleza” do amor de Cristo: “Não me confessava há muitos anos. Era já tarde quando, depois de uma reunião, me aproximei desse sacerdote e disse-lhe que gostaria de me confessar. Foi um momento muito bonito. Senti que me estava a reconciliar com Jesus, com a Igreja e comigo próprio. Talvez tenha sido aqui que tudo começou: o início da descoberta da minha vocação.”

Entretanto finalizou a licenciatura em Ciências da Comunicação, com especialização em jornalismo. O interesse por esta área profissional e a participação num grupo dedicado à Pastoral das Vocações encaminhou-o para os Paulistas, congregação religiosa dedicada ao anúncio da mensagem cristã através dos media.

Mais tarde, percebeu que Deus o “chamava a ser pastor de uma comunidade específica” e decidiu sair. Alguns meses depois entrou no Seminário dos Olivais, que prepara a maior parte dos padres que servem as paróquias do Patriarcado de Lisboa.

Formação espiritual, académica e pastoral

“A vida do Seminário tem diversas vertentes”: é esta a chave com que Nuno Fernandes abre as portas do dia-a-dia de uma comunidade que acolhe cinco padres e estudantes provenientes de diversos pontos da diocese, bem como de Santarém, Funchal, Cabo Verde, Índia e República Checa.

Da missa diária e da oração, diz que é o que lhe “dá a força para cada dia”. As Laudes assinalam o amanhecer, ao passo que a chegada da noite é marcada pelas Vésperas, a que normalmente se junta a celebração eucarística.

Fora destes espaços comunitários, “cada um, conforme o seu próprio ritmo, vai tentando encontrar tempos” para a Liturgia das Horas, para a meditação dos textos bíblicos e para a contemplação de Deus.

Os alunos que vivem no Seminário dos Olivais cumprem um plano formativo que passa pela aprovação no Mestrado Integrado em Teologia, curso superior de cinco anos leccionado na Universidade Católica. O plano de estudos inclui línguas (Latim, Grego e fundamentos de Hebraico), Filosofia e diversos ramos da ciência teológica.

No sexto e último ano, o ensino é centrado em matérias relacionadas com as múltiplas actividades que os futuros padres vão desempenhar, desde a dimensão espiritual à administrativa. Acompanhamento de pessoas, arte e património, evangelização e cultura, língua e comunicação, Direito Sacramental e direcção espiritual são algumas das disciplinas ministradas no Seminário dos Olivais.

Além da formação académica e da colaboração nas paróquias, os responsáveis pelo projecto educativo do Seminário procuram aprofundar as relações entre todos os membros da comunidade.

“Esse convívio é importante para nós. Somos trinta, cada um com a sua maneira de ser, e temos que aprender a lidar com essa diversidade. Quando eu chegar a uma paróquia, também vou encontrar pessoas muito diferentes, e sou chamado a amá-las sem qualquer tipo de discriminação”, explica Nuno Fernandes.

A Quarta-feira é o “dia comunitário”, que se distingue por uma missa “mais solenizada”. Ao serão, todos se reúnem para escutar um especialista convidado pelo Seminário para falar sobre um assunto marcante da actualidade, da economia ao desporto, da cultura à vida em Igreja.

A atenção ao que se passa em Portugal e no mundo é um elemento importante na formação dos seminaristas, que têm acesso à televisão, rádio, jornais e Internet, utilizada não só como fonte de informação, mas também como meio para disponibilizar conteúdos produzidos pelo Seminário – publicações, discos, propostas formativas, entre outros.

Educar a sensibilidade musical

O site do Seminário dos Olivais oferece aos Domingos, pelas 19h30, a transmissão em directo da oração de Vésperas.

“Têm chegado alguns ecos positivos”, ainda que “possa ser complicado garantir a fidelização dos ouvintes”, porque nem sempre é possível que a comunidade se junte ao Domingo à tarde, explica o Pe. Pedro Lourenço, responsável pela formação na área da Liturgia e da música

“É necessário, sobretudo, educar para a sensibilidade na interpretação, na vivência, no acolhimento do espírito de determinado cântico”, embora não se possam “ultrapassar as qualidades vocais e técnicas das pessoas”, observa.

O sacerdote formador denuncia a deficiência de cultura musical em Portugal: “As pessoas, em geral, não sabem música. Isso reflecte-se no Seminário. E entre as diversas componentes da formação de um futuro padre, é difícil dedicar muito tempo a esta área”.

O principal objectivo do canto é a vivência das celebrações. O cuidado dispensado a esta dimensão reflecte-se, mais tarde, na acção dos futuros padres nas comunidades para onde forem enviados.

Desde a sua abertura que o Seminário dos Olivais tem um papel importante na cultura musical litúrgica em Portugal.

“Houve anos mais difíceis, sobretudo nas décadas de 70 e 80 do século passado – recorda o Pe. Pedro Lourenço – mas a pouco e pouco procurámos recuperar o lugar fundamental da música litúrgica”.

Os CDs que têm sido editados – em 2009/10 será lançado mais um – pretendem dar a conhecer a obra do Pe. Manuel Luís e aumentar a formação musical litúrgica das comunidades, naquela que é mais uma das contribuições que o Seminário dos Olivais oferece à Igreja.

Foto: Cardeal Patriarca de Lisboa ordena diáconos (2007)

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