Sé de Faro evangeliza pela arte

O Cabido da Sé Catedral de Faro está a promover na capela de São Domingos da igreja-mãe da diocese do Algarve uma intervenção que está a ser realizada pela Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Sul (DREMS) com vista à reconstituição do túmulo do cavaleiro Rui Valente, descoberto em 2003. Para além deste aspecto, os trabalhos consistem igualmente na reconstrução da estátua do cavaleiro, bastante fragmentada, na limpeza de cantarias e nervuras em pedra, na limpeza dos ajulejos da capela e no rebaixamento do seu solo. Recorde-se que a capela em questão esteve todos estes anos entaipada por causa dos trabalhos terem parado. Segundo o cónego Gilberto Soares Santos, arcediago do Cabido catedralício, “havendo agora esta intervenção na capela de São Domingos impõe-se também uma outra na capela em frente, dedicada a Nossa Senhora da Conceição”. Em causa está, segundo aquele responsável, o seu acabamento que ficou por terminar após a remoção do altar do século XVIII, em alvenaria, feita em ambas as capelas depois da descoberta de azulejaria. No entanto, o cónego Gilberto Santo explica que a intervenção não poderá ser realizada de imediato até porque “a DREMS não vai fazer, para já, mais nada”. “Terá de ser o Cabido a dar passos no sentido de dar um acabamento à outra capela”, complementa aquele responsável. O cónego Gilberto Santos refere ainda que, “do conjunto de intervenções apoiadas pela DREMS, ainda ficou por fazer a renovação e substituição da instalação eléctrica e da iluminação da Sé”. “O projecto contempla uma iluminação para as funções litúrgicas e uma outra com finalidade decorativa”, acrescenta. De acordo com o cónego Gilberto Santos, todas as obras na Catedral da diocese do Algarve “ visam o objectivo da “evangelização pela arte”, mas paralelamente “há também o objectivo de angariação dos fundos para podermos investir na recuperação do património que é muito pesado”, até porque, considera, “a Catedral é o monumento mais procurado na cidade por ser o coração do centro histórico”. “É deste fundo que sai, por exemplo, as verbas para a manutenção deste edifício (tirando os apoios muito pontuais que por vezes surgem), para a limpeza do edifício (muito embora a paróquia colabore com uma parte deste encargo), na recuperação das peças móveis (mobiliário, alfaias liturgicas, paramentos, cálices, peças de prata, etc)”, refere aquele responsável. Segundo Gilberto Santos, o Cabido gastou já este ano 70 mil euros na Sé Catedral, estando a paróquia livre do “grande encargo” da sua manutenção. 2ª fase do restauro do órgão grande da Sé O Cabido da Sé de Faro tem também em curso a recuperação do órgão grande de tubos daquela igreja, instalado numa tribuna junto ao coro alto. Trata-se de um dos principais exemplares do barroco em Portugal. Apesar de se desconhecer o autor do risco e da feitura da talha (supõe-se do século XVII), sabe-se que a sua caixa é originária do segundo quartel do século XVIII. As pinturas de “chinoiserie”, fortemente inspiradas pelo Oriente e o douramento foram executados pelo mestre Francisco Correia da Silva nos anos de 1751 e 1752. Depois das primeira fase da intervenção, o ano passado, que contemplou a limpeza e tratamento da caixa, esta segunda fase dos trabalhos prevê o arranjo da parte instrumental. Perspectiva-se que a afinação realizada pelo organeiro esteja concluída até ao final do ano. Museu catedralício deverá ser ampliado É ainda intenção do Cabido da Sé de Faro ampliar o núcleo museológico da catedral diocesana. Segundo o cónego Gilberto Santos, o Cabido tem estado “muito sensível” a esta possibilidade e “tem dialogado em reuniões diversas sobre isso no sentido de ampliar o espaço museológico e requalificá-lo para que ele possa ter outra qualidade”. “Reconhecemos que isto foi uma primeira experiência e procurámos através dela perceber qual seria a sensibilidade e o acolhimento que teria junto dos visitantes”, afirma o arcediago do Cabido, referindo as “muitas pessoas que deixam testemunhos significativos de apreço, mas também apontam algumas lacunas que poderiam ser melhoradas”. Capela de S. Miguel já pode ser visitada A capela de São Miguel, situada no exterior da Sé de Faro, no espaço dos seus clautros, foi também alvo de uma intervenção que a disponibiliza agora para poder ser igualmente visitada. Como explica o cónego Gilberto Santos, a capela “estava transformada numa arrecadação”. “No conjunto de obras a realizar na Sé projectou-se para aquele espaço um lugar onde podessem repousar os restos mortais dos Bispos para que deixassem de ir para a Cripta”, explica aquele responsável, garantindo que “o projecto ainda existe”. No entanto, segundo o arcediago do Cabido catedralício, a Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Sul (DREMS) iniciou os trabalhos mas a capela ficou inacabada e, como não foi dada sequência às obras, “houve a necessidade de terminar os trabalhos naquele espaço”. “Achámos que deveríamos continuar a utilizar a Cripta, dando-lhe melhores condições, continuando aquele a ser o espaço para tumular os Bispos”, esclarece, referindo que “a capela de São Miguel pode agora ser visita pelos turistas que vêm à Sé”. Nesse sentido foram transferidas para ali algumas peças de arte sacra, como um conjunto de talha do antigo altar-mor, dois quadros da capela da Senhora do Rosário, uma imagem de São Miguel ou dois anjos tocheiros que faziam parte da capela-mor, para “decorar aquele espaço e torná-lo visitável”. Cripta continuará a receber os Bispos falecidos O Cabido da Sé de Faro pretende manter a cripta da Catedral como o espaço destinado a acolher os restos mortais dos Bispos do Algarve falecidos. Segundo o cónego Gilberto Santos, depois dos trabalhos que incluíram o reboco das paredes da cripta e o arranjo do chão, “projecta-se criar uns túmulos de pedra para colocar as urnas dos Bispos que lá existiam”, como a de D. Marcelino Franco ou a D. Francisco Gomes do Avelar, e pretende-se “deixar visível, através de iluminação, a cripta, em cuja entrada será colocada uma laje de acrílico com um gradeamento de ferro”. “Aguarda-se entretanto o lajedo que está encomendado”, refere o arcediago do Cabido que defende “ser conveniente terminar primeiro os trabalhos agora em curso para depois se concluir a cripta”. Samuel Mendonça

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