Saúde: Maior pluralidade no Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa no Hospital de Santa Maria reflete-se em ciclo de encontros «Conhecer para Cuidar»

«Nunca faltou assistência espiritual e religiosa a doentes das diversas igrejas ou comunidades, só que não foi de forma estruturada», afirma padre Fernando Sampaio, coordenador da assistência religiosa e hospitalar no Hospital de Santa Maria

Lisboa, 16 nov 2023 (Ecclesia) – A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) recebeu esta quinta-feira a apresentação do ciclo de encontros “Conhecer para Cuidar” na sequência de uma maior pluralidade no serviço de assistência espiritual e religiosa no Hospital de Santa Maria, que integra o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN).

“À medida que a população se diversifica do ponto de vista religioso, também os doentes se diversificam e todos eles precisam de apoio espiritual no momento em que estão em baixo de saúde. Não só aqueles que sofrem a doença, mas os seus familiares precisam muitas vezes de apoio espiritual para serem capazes de fazer frente a esse momento de dificuldade com sentido humano”, afirmou o diretor do departamento das relações ecuménicas e do diálogo inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, padre Peter Stilwell, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, José Vera jardim, assinalou, por sua vez, que a assistência religiosa é um dos aspetos fundamentais da liberdade religiosa, uma vez que acontece  em períodos “muito difíceis da vida das pessoas”.

As sessões “Conhecer para Cuidar” têm como objetivo dar a conhecer os costumes e práticas de religiões representadas no Manual de Assistência Espiritual e Religiosa, bem como divulgar as tradições religiosas relativas à saúde junto dos profissionais para melhor compreenderem os utentes e os seus direitos.

Os encontros vão realizar-se mensalmente, na Aula Magna da FMUL, entre as 12h00 e as 13h00, a partir de janeiro, na segunda semana do mês.

“Na realidade, nunca faltou assistência espiritual e religiosa a doentes das diversas igrejas ou comunidades, só que não foi de forma estruturada e integrada naquilo que é o serviço de assistência espiritual e religiosa”, explica o padre Fernando Sampaio, coordenador da assistência religiosa e hospitalar no Hospital de Santa Maria.

Em 2009, foi promulgada a lei que prevê a assistência religiosa para as várias confissões, isto é, todos os doentes podem ser acompanhados de acordo com a religião que professam, no entanto, quando um doente não católico pedia assistência religiosa, não havia a presença de assistentes espirituais de outras religiões no hospital, pelo que tinham de ser contactados para prestar o apoio.

Ao fim de 14 anos, vislumbram-se mudanças para garantir que o serviço de assistência espiritual e religiosa se torne consentâneo com a lei.

“As novidades no fundo têm a ver com a organização do serviço que vai passar a integrar assistentes espirituais acreditados e depois ao nível dos procedimentos no acesso à assistência espiritual. Nesse sentido, nós revimos o regulamento interno, como fizemos também um protocolo para a assistência espiritual não vinculada”, adianta o padre Fernando Sampaio.

De acordo com o capelão do Hospital de Santa Maria, isto acontece para que não haja constrangimentos à assistência, quando chega alguém para visitar ou assistir um doente.

“Esses procedimentos são muito importantes para que haja transparência na assistência e também para que haja responsabilidade”, acrescenta.

Suryakala Chhaganlal, representante da comunidade Hindu em Portugal, considera este “um passo muito importante”, uma vez que há muitos hábitos e costumes do Hinduísmo que não são conhecidos, nomeadamente a alimentação.

“Essas regras de alimentação são importantes para que o doente se sinta aconchegado, não se sinta depois num conflito de consciência quando já tem problemas suficiente com o seu mal físico”, indica o padre Peter Stilwell.

O cuidado personalizado é uma das mais-valias para os doentes que agora podem ser atendidos “nas suas necessidades espirituais sem grandes transtornos e sem grandes tempos de demora”, refere o padre Fernando Sampaio.

O grupo de Trabalho Inter-Religioso (GTIR) foi um dos elementos que contribuiu para que a assistência espiritual e religiosa fosse mais plural.

“Essa partilha tem sido muito bonita e muito boa, porque nos permite conhecer uns aos outros, conhecer diversas tradições”, confidencia o coordenador do grupo, padre Fernando Sampaio.

“As opiniões divergem, mas depois temos um único ponto, que é Deus, que é igual”, salienta Suryakala Chhaganlal.

Na apresentação do ciclo de encontros esteve também presente a presidente da Administração do CHUNL, Ana Paula Martins, que vê com enorme alegria o facto de a unidade ter um serviço de apoio espiritual e religioso que traduz “tão bem aquilo que é a alma do Santa Maria”.

“Esta alma que aqui reside e que, independentemente da religião que professamos, sentimos que faz acontecer muita coisa que às vezes parece impossível”, apontou.

Os representantes das diferentes confissões religiosas estiveram também na Aula Magna da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, bem como profissionais de saúde do Hospital de Santa Maria.

LJ/OC

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