Santarém: Homilia de D. José Traquina no Domingo de Páscoa

Foto: Diocese de Santarém

Irmãos e irmãs

Alegremo-nos no Senhor Ressuscitado! “Este é o dia que o Senhor fez”, como cantámos no refrão do Salmo responsorial. O Domingo da solenidade da Páscoa está no centro de toda a liturgia da Igreja ao longo do Ano, porque a Páscoa do Senhor, paixão, morte e Ressurreição é o acontecimento mais importante da celebração da nossa Fé cristã. O Domingo de Páscoa é a origem de todos os outros Domingos do ano, é o Dia do Senhor, é o Dia em que os cristãos se encontram em Assembleia. A imagem mais original da Igreja é a Assembleia que acontece para celebrar exatamente o Dia em que o Senhor ressuscitou. O centro é Cristo Vivo!

Na três leituras da Palavra de Deus que hoje escutámos temos três testemunhos, todos do Novo Testamento: na 1ª leitura (Atos dos Apóstolos) o testemunho de São Pedro; na 2ª Leitura (Carta aos Colossenses) o testemunho de São Paulo e no Evangelho o testemunho de São João. Todos se esforçaram por comunicar a alegria pascal.

No Evangelho temos o testemunho do discípulo e evangelista João (20,1-9). No primeiro dia da semana, Maria Madalena é surpreendida por verificar que o sepulcro está vazio. E segue-se uma correria. Maria Madalena corre à procura de Pedro, Pedro e João também correm ao sepulcro. É uma correria que revela não estarem a contar; ainda estavam com medo dos judeus e a refletir o aparente fracasso que tinha acontecido com a violência da morte de Jesus.

Os apóstolos correram, chegaram ao sepulcro e encontraram tudo como Maria Madalena tinha dito. O apóstolo João diz que viu e acreditou. Isto é, viu o sepulcro vazio e acreditou que tinha havido Ressurreição. É o apóstolo mais jovem o primeiro a afirmar ter acreditado na Ressurreição tendo apenas como fundamento o sepulcro vazio.

Na 1ª Leitura (Act 10,34ª.37-43) temos o testemunho do Apóstolo Pedro. Reunido em casa de uma grande família e completamente confiante e decidido, dá um grande testemunho acerca de Jesus! O Senhor que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos (…), morreu na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-lhe manifestar-se às testemunhas de antemão designadas por Deus. (…).  Foi constituído Senhor da História e Salvador do Mundo! (…). Este testemunho de Pedro já reflete claramente uma experiência de amadurecimento e oração.

O terceiro testemunho é a 2ª Leitura, de S. Paulo aos Colossenses (3,1-4). O Apóstolo exorta: Se ressuscitastes com Cristo (…) Afeiçoai-vos às coisas do alto. (…) A vossa vida está escondida com Cristo em Deus. São Paulo que foi um perseguidor de cristãos, converteu-se e tornou-se um testemunho de Cristo ressuscitado. “Vivo na Fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim” (Gal. 2,20).

Irmãos e irmãs,

Os testemunhos apresentados e o testemunho que podemos dar como cristãos são uma resposta a uma questão antiga na existência humana: o sentido da vida. A vida humana não tem de ser uma tragédia grega onde as pessoas são comandadas por destinos incontroláveis. A pessoa humana, ainda que viva agora mais anos que noutros tempos, é sempre pouco tendo em conta que o espírito é sempre novo e está disposto a continuar. Uma existência humana de algumas dezenas de anos, levanta a interrogação do sentido da vida!

A Ressurreição de Jesus testemunhada pelos seus discípulos teve um efeito neles que os tornou semelhantes a Jesus; perderam o medo da morte e venceram todos os medos do mundo. Tornaram-se pessoas confiantes e corajosas.

Também nos devemos considerar (como S. Pedro)testemunhas de antemão designadas por Deus, para testemunhar a vida nova da graça, concedida pelo Senhor Ressuscitado. Vida nova onde também surgem rejeições e dificuldades, mas Jesus deixou-nos uma palavra que nos previne: “No mundo, tereis tribulações, mas, tende confiança, Eu venci o mundo” (Jo 16,33).

Neste mundo desarmonizado de valores e todos os dias carregado de notícias que entristecem a vida. Neste mundo, onde há mais capacidade intelectual mas há falta de bondade, existem muitas pessoas desejosas de verdade e interessadas em encontrar um sentido para as suas vidas. É a este mundo em que vivemos que podemos dar o nosso testemunho de cristãos: as crises são oportunidades para relançar um testemunho pensado.

Neste sentido, partilho convosco um pedido do Papa Francisco: O mundo está dilacerado pelas guerras e a violência, ou ferido por um generalizado individualismo que divide os seres humanos e põe-nos uns contra os outros visando o próprio bem-estar. Em vários países, ressurgem conflitos e antigas divisões que se pensavam em parte superados. Aos cristãos de todas as comunidades do mundo, quero pedir-lhes de modo especial um testemunho de comunhão fraterna, que se torne fascinante e resplandecente. Que todos possam admirar como vos preocupais uns pelos outros, como mutuamente vos encorajais animais e ajudais”(EG 99).

Irmãos e irmãs, que a Páscoa que o Senhor nos dá a graça de celebrar nos relance como cristãos e cristãs confiantes, que transportam consigo o tesouro da alegria e da paz.

D. José Traquina, bispo de Santarém

 

 

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