Roma: Lista identifica mais de 3000 judeus que se refugiaram da perseguição nazi em congregações religiosas

Documento descoberto nos arquivos do Pontifício Instituto Bíblico indica os refugiados e os locais onde foram acolhidos

 

Roma, 07 set 2023 (Ecclesia) – Mais de 150 organizações da Igreja Católica da cidade de Roma acolheram mais de 3000 judeus perseguidos pelo nazismo e pelo fascismo durante os últimos anos da II Guerra Mundial.

O documento que identifica as pessoas que foram protegidas da perseguição nazi foi encontrada nos arquivos do Pontifício Instituto Bíblico e, após ter sido analisado com Comunidade Judaica de Roma e o Instituto Internacional de Investigação sobre o Holocausto de Yad Vashem, foi apresentado hoje durante o seminário “Resgatados. Judeus escondidos nos institutos religiosos de Roma (1943-1944)”, no Museu da Shoah, em Roma.

“A lista das congregações religiosas que acolheram (100 congregações femininas e 55 congregações masculinas), juntamente com os respetivos números de pessoas que refugiaram, já tinha sido publicada pelo historiador Renzo De Felice em 1961, mas a documentação completa foi considerada perdida. As listas agora encontradas referem-se a mais de 4.300 pessoas, das quais 3.600 estão identificadas pelo nome”, indica um comunicado enviado hoje à Agência ECCLESIA.

De acordo com o estudo, que comparou o documento aos aos arquivos da Comunidade Judaica de Roma”, “conclui-se que cerca de 3200 eram judeus” e existem dados sobre os locais onde foram acolhidos e, nalguns casos, também a residência antes da perseguição.

“A documentação aumenta assim significativamente a informação sobre a história do resgate de judeus no contexto das instituições religiosas de Roma”, acrescenta o comunicado de imprensa, indicando que, “por razões de privacidade, o acesso ao documento é atualmente restrito”.

Os arquivos agora encontrados foram compilados pelo padre jesuíta italiano Gozzolino Birolo, que foi ecónomo do Pontifício Instituto Bíblico desde 1930, nos dois últimos anos da sua vida, entre junho de 1944 e a primavera de 1945, “imediatamente após a libertação de Roma”.

Nessa ocasião, era reitor do Pontifício Instituto Bíblico o padre jesuíta Augustin Bea, criado cardeal em 1959 e empenhado diálogo católico-judaico, nomeadamente no documento Nostra Aetate do Concílio Vaticano II.

Foto Instituto Bíblico Pontifício

O comunicado de imprensa informa que os historiadores envolvidos no estudo dos novos documentos são Claudio Procaccia, diretor do Departamento Cultural da Comunidade Judaica de Roma, Grazia Loparco, da Pontifícia Faculdade de Educação Auxilium, Paul Oberholzer, da Universidade Gregoriana, e Iael Nidam-Orvieto, diretor do Instituto Internacional de Investigação sobre o Holocausto de Yad Vashem.

Dominik Markl, do Pontifício Instituto Bíblico e da Universidade de Innsbruck, coordenou o estudo, juntamente com o atual reitor, o jesuíta canadiano Michael Kolarcik.

“Roma foi ocupada pelos nazis durante nove meses, a partir de 10 de setembro de 1943, até à libertação da cidade pelas forças aliadas, em 4 de junho de 1944. Durante esse período, a perseguição dos judeus levou, entre outras coisas a deportação e o assassinato de quase 2.000 pessoas, incluindo centenas de crianças e adolescentes, de uma comunidade de aproximadamente 10.000 a 15.000”, acrescenta o comunicado.

PR

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