Responsáveis moçambicanos da Igreja católica publicaram mensagem de Natal onde afirmam que «paz e o bem-estar» valem mais do que qualquer interesse pessoal do partido ou de grupo
Maputo, 21 dez 2024 (Ecclesia) – Os bispos de Moçambique escreveram uma mensagem de Natal onde pedem que independentemente dos resultados a anunciar no dia 23, se abra espaço para o “diálogo honesto” sem enveredar pela tentação da “repressão ou violência”.
“Abramo-nos a um diálogo honesto, pondo de lado tudo quanto o pode dificultar ou até inviabilizar. A paz e o bem-estar de Moçambique valem mais do que qualquer interesse pessoal do partido ou de grupo, sejam nacionais ou estrangeiros. Não cedamos à tentação de enveredar pelo caminho da imposição e da repressão ou da violência e da destruição, pois a imposição e repressão levariam a uma convivência forçada e derrotada, à violência e à destruição, a um pais polarizado e empobrecido”, assina D. Inácio Saure, presidente da conferência episcopal de Moçambique numa mensagem enviada à Agência ECCLESIA.
O conselho constitucional vai anunciar a decisão sobre os resultados das eleições de 9 de outubro, que incluíram votações para as presidenciais, legislativas e para assembleias e governadores provinciais.
Moçambique vive uma crise pós-eleitoral desde o anúncio dos resultados parciais das eleições gerais; a Comissão Nacional de Eleições (CNE) deu a vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, mas várias organizações e também os bispos alertaram para “fraudes grosseiras” praticadas nas eleições.
“Independentemente dos resultados, a única via a seguir é a do amor à «Pátria amada» baseada no compromisso pela justiça, na construção e consolidação da paz, harmonia e unidade nacional. Usemos toda a criatividade, humildade e inteligência para edificar a paz que não pode deixar de existir entre os moçambicanos”, pedem.
Afirmam os bispos que atitudes manifestadas e vividas “pela palavra de Deus” poderão ser a “riqueza” e os “recursos necessários para construir uma convivência que responda aos anseios dos jovens, às necessidades dos moçambicanos empobrecidos, ao desejo de paz de todos”.
Os responsáveis da Igreja católica pedem que se “renuncie ao luxo de poucos para garantir o necessário a todos”; à “acumulação desenfreada e cobiçosa dos bens a favor do desenvolvimento do país”; “ao exercício autocrático do poder para dar espaço a uma governação mais inclusiva que valorize competências e diversidade de opiniões”, “a dar espaço ao respeito, à honestidade, à confiança, ao acolhimento, à solidariedade e à estima recíproca”.
“O amor deve encontrar espaço nas escolhas políticas, económicas e sociais para que a nossa pátria seja verdadeiramente amada e seja aberto o caminho da esperança para todos os moçambicanos”, assinalam.
O presidente da Conferência Episcopal de Moçambique lembra que em 2025 se assinala, para além do jubileu do ano Santo, os moçambicanos celebram “o Jubileu dos 50 anos da independência nacional”.
“Que estas celebrações nos levem a consolidar a paz e a harmonia entre nós. A paz que Cristo trouxe não nos permite que nos desviemos para caminhos de discórdia, mas sim nos encoraja a enveredarmos pelos caminhos de justiça, reconciliações, e para criar a cultura do encontro entre irmãos da mesma pátria”, sublinha.
Os bispos esperam que o “ano novo” seja ocasião de um compromisso “na construção de um Moçambique renovado”.
LS