Restaurado o órgão histórico da Igreja dos Carmelitas, no Porto

Foi em ambiente de festa que a comunidade que participa nas celebrações da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, conhecida por Igreja dos Carmelitas, no coração do Porto, celebrou a inauguração do restauro do seu órgão histórico, que data do século XVIII (1784), construído pelo organeiro da cidade de Braga Joze Antonio de Souza. Foi agora recuperado e restaurado pela firma Orguian, Lda (criada pelo organeiro alemão Georg Jan, autor dos grande órgão da Sé do Porto e do da Igreja da Lapa, e instalada em Portugal). A celebração foi presidida por D. Manuel Martins, bispo emérito de Setúbal, e contou com a presença do reitor, P. António Garrido, do Vigário Episcopal para o Porto cidade, P. Domingos Oliveira, e de outros sacerdotes. A celebração foi cantada pela Orquestra e Coro do Conservatório de Música de Fornos (Feira), dirigida por Susana Leite, com o organista Rui Fernando Soares. Além dos cânticos da Missa desse domingo, em que sobressaíam o Cantai ao Senhor um cântico novo de Ferreira dos Santos e o conhecido e belo Panis Angelicus, de César Frank, um pequeno concerto foi apresentado pelo organista Rui Fernando Soares, titular daquela igreja. Puderam ouvir-se obras de Haendel e do organista “ibérico” Pedro de San Lorenzo. O reitor da Igreja agradeceu aos presentes, e particularmente aos Mesários da Irmandade de N. S. do Carmo, aos representantes da firma que restaurou o órgão, e aos cristãos que fazem “a sua vida religiosa à volta desta igreja”. Importa recordar que o restauro do órgão se inseriu numa obra mais vasta: a recuperação dos espaços e obras de arte daquela igreja, projecto integralmente realizado pela comunidade: “Não foi preciso pedir nada a ninguém de fora: esta gente só, com a sua fé e o seu amor, realizou a Obra”. “Foram precisos longos anos, montes de generosidade, muito sacrifício, mas a igreja aqui está: simples, asseada, próxima da frescura, da cor, da beleza, do esplendor da primeira hora. Foi esta gente que fez o «milagre». Só por isso tem consciência que a igreja lhes pertence: um espaço amigo de acolhimento, evangelização e espiritualidade”- afirmou o P. António Garrido.. Neste contexto surgiu a necessidade de restaurar também o órgão de tubos, “com deficiências graves, há muitos anos que não estava em condições de funcionar, mas não podíamos deixar perder-se”, como justificou também o P. Garrido. A História de um órgão histórico O órgão foi construído pelo bracarense Jozé Antonio de Souza em 1784; em 1890, foi aumentado por Antonio Jozé dos Santos; em 1924, foi reparado e afinado por António Vieira do Porto; em 1945, foi reformado e afinado por António Vieira e Miguel Gaspar da Costa; em 1949 recebeu uma nova afinação por Ventura Jésu. E neste ano de 2007/2008 foi recuperado pela firma Orguiam. O órgão tem as características comuns a este tipo de instrumentos: uma torre cilíndrica convexa central e duas triangulares de cada lado, ligadas por um plano de seis tubos. Na base existe o jogo dos clarins horizontais, e verticalmente os tubos dos baixos, numa disposição parecida a outros instrumentos da época. Possui um total de 1067 tubos. O teclado único possui 54 teclas e os habituais pedais para ligar e desligar o cheio, para ligar as palhetas e activar o tambor e os passarinhos (acrescento de acompanhamento que caracteriza órgãos da época, como o de S. Bento da Vitória). Segundo o testemunho do reitor da igreja, a obra foi realizada com a colaboração da Diocese do Porto e do BPI, e com a apoio do Conservatório de Música de Fornos e da Antena 2, que efectuou a divulgação do acontecimento, o que muito é de louvar, bem como de lamentar que o mesmo não aconteça com outras iniciativas ligadas à música sacra. Concertos previstos para a população e turistas Um instrumento destes tem de ser utilizado, quer na liturgia, quer em concertos abertos ao público, como forma de promover a cultura musical da população. É isso que vai fazer a Reitoria: aproveitando a época turística que se aproxima, à semelhança do que acontece em muitos países e cidades, foi programado um duplo ciclo de concertos, a realizar nos segundos e últimos sábados de cada mês: a) Concertos comemorativos da inauguração (aos sábados, às 16h45), pelos seguintes organistas: Antoine Sibertin Blanc (26 de Abril); Lucca Antoniotti (10 de Maio); João Santos (31 de Maio); Paulo Bernardino (28 de Junho); Giampaolo di Rosa (28 de Junho); Grupo da Escola Superior de Música, com a direcção de Pedro Sousa e Silva (12 de Julho). b) Concertos de Verão, para turistas e residentes: 20 de Julho, Festa da Senhora do Carmo, 16h e 17h, concerto pelo organista titular, Rui Fernando Soares; Filipe Veríssimo (9 de Agosto); Vasco Soeiro (30 de Agosto); Tiago Ferreira (13 de Dezembro); Daniel Ribeiro (27 de Dezembro). De tudo isto há alguma coisas a reter e registar: que foram os cristãos membros de uma comunidade urbana, que por ali passam e ali se encontram e celebram a fé, que procederam ao restauro de um monumento de grande valor artístico e com um acervo de obras de arte muito notável, sem qualquer apoio oficial (coisa espantosa!). No entanto a obra (a igreja e o órgão) aí estão ao serviço da celebração da fé, da expressão artística e da fruição estética, para toda a população, para crentes e não crentes, para residentes e passantes. E promovendo também o desenvolvimento económico de muitos sectores da cidade. Tudo isto foi obra da colaboração de muitos, que não protestaram nem reclamaram, apenas colaboraram. A orientação de Reitor da Igreja, P. António Garrido, que tem feito dela um centro de celebração e de espiritualidade, um homem a caminho dos 84 anos, foi decisiva nesta tarefa que devolve à cidade mais um dos seus belos monumentos. E a torna mais viva, rica e atraente para aqueles que a visitam, e lhes revela a face de um povo que assenta na tradição e na criatividade. Não faltará depois quem venha tentar colher os louros. Quando não furtar o espaço, como aconteceu com o convento de que a igreja era o templo próprio, ou criar exigências estranhas, como acontece em outros lugares da cidade… (C. F.)

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