Repensar a comunicação

José Cabral d’Aguiar

Repensar a Pastoral da Igreja em Portugal implica, também, repensar a forma como a Igreja comunica. E esse é um desafio, também ele, que exige trabalho metódico, reflexão e criatividade. Desde logo, há que olhar com atenção para o que parece ser um paradoxo evidente e que é o de existir diversidade na unidade da Igreja.

Simplifiquemos: debaixo de um mesmo teto, habitando a casa comum de Cristo, residem dioceses, paróquias, associações de fiéis, escolas católicas, movimentos de jovens, de casais, de leigos, congregações e ordens religiosas, meios de imprensa, movimentos (permanentes e ocasionais) e tantos outros tipos de organizações. E todos têm voz. Todos promovem encontros, jornadas, atividades, seminários, congressos, colóquios, todos organizam eventos e acontecimentos, publicam boletins e panfletos, colocam comentários no facebook e todos mobilizam pessoas (às vezes muitas pessoas).

Esta diversidade de pessoas que partilham uma mesma fé, e que se desmultiplicam numa miríade incontável de organizações e iniciativas, é uma riqueza extraordinária que a Igreja, com toda a legitimidade, deve ser capaz de aproveitar melhor. Todas estas organizações, e todas as pessoas que as integram, animam a vida da Igreja, conferem-lhe caráter de proximidade e permitem vivê-la no quotidiano de forma mais sentida e permanente.

Contudo, muitas destas iniciativas não têm visibilidade pública e beneficiam de pouca ou nenhuma repercussão ou reconhecimento. Existe uma efetiva descoordenação dos vários membros que compõem o tronco da Igreja. Assim, a Igreja – que é justamente o melhor exemplo de uma organização cons-truída sobre o poder da Palavra – ao repensar a sua atuação, deve repensar também as formas de comunicar a palavra e a prática do Evangelho, que são muitas, variadas e, por vezes, decorrem em simultâneo.

A lógica mediática contemporânea, sobretudo a televisiva (que continua a ser o meio com maior impacto), que compacta e simplifica a informação de formas por vezes exasperantes, deve obrigar a Igreja a planear melhor não apenas o que quer transmitir, mas também de que forma, através de que meios, ponderando os melhores momentos para fazê-lo.

A criação de gabinetes de comunicação em cada uma das Dioceses é um excelente passo que tem vindo a ser desenvolvido no sentido de, localmente, conferir maior coerência às atividades que aí decorrem, seja através de meios próprios de imprensa (tradicionais, on-line e redes sociais), seja no relacionamento com os órgãos de comunicação social. O trabalho que desenvolvem, contudo, pode ainda ser potenciado de forma mais eficaz: em primeiro lugar, a existência de colaborações mais regulares, que permita a troca de experiências e de boas práticas, parece algo simples de pôr em marcha, com baixos custos e benefícios evidentes; em segundo lugar, a eficácia e utilidade destes gabinetes de comunicação aumentariam imensamente se existissem princípios orientadores comuns, emanados da Conferência Episcopal Portuguesa, e que, sob a sua égide, pudessem contribuir para conferir maior coerência e coesão às mensagens.

As matérias que interessam à Igreja em Portugal, e não a cada uma das Dioceses individualmente consideradas, devem poder ser ampliadas localmente, de forma eficaz, sem dependerem exclusivamente dos meios de comunicação de massas (maxime, da televisão), embora devam ter em conta a especificidade desses meios e o poder ímpar que têm em fazer chegar mensagens e informações a um grande número de pessoas.

Ao repensar a Pastoral da Igreja – e o seu papel na sociedade em que se integra e que serve com Amor e entrega total – a Igreja deve também refletir sobre que mensagens quer transmitir, porque, se afinal, tudo é importante, infelizmente, nem tudo é notícia…

José Cabral d’Aguiar, consultor em Comunicação

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