Religiosos unidos contra a Sida no Fórum Social Mundial

Uma grande delegação de religiosos e missionários está presente no Fórum Mundial Social (FSM), a decorrer em Nairobi, capital do Quénia. Até 25 de Janeiro, centenas de membros dos Institutos de Vida Consagrada partilham as preocupações apresentadas pelos mais de 100 mil participantes neste encontro. Os testemunhos de quem está em África há séculos, junto da população mais desprotegida, é particularmente relevante. Das mais de 300 religiosas de todo o mundo presentes no FSM veio ontem um testemunho particular, das Escravas do Coração de Jesus: há 11 anos no Quénia, gerem um orfanato com 60 crianças filhas de doentes da Sida, para além de uma estrutura para as crianças de rua. “É a primeira vez que participo num Fórum Social Mundial e estou entusiasmada, é como se o mundo estivesse todo aqui com um único fim, o respeito pela dignidade humana”, refere à Agência italiana SIR a Ir. Letizia Braga. Para esta religiosa, a Sida continua a ser um factor de discriminação: 65% das mães negaras entram no que chama de “cadeia da morte”, que vai da prostituição à infecção pelo HIV. “As mais ‘afortunadas’ ganham 2 Euros por dia”, aponta. Ao lado de crianças seropositivas trabalha a Ir. Verónica, em Mombasa, procurando oferecer-lhes “uma alimentação adequada” que diminua os riscos dos fármacos anti-retrovirais. 95% dos doentes de Sida não têm dinheiro para comprar os anti-retrovirais e 26,7% dos Centros de cuidados para os doentes de Sida, no mundo, são administrados pela Igreja Católica. Já a Irmã Ana Lucia, queniana que vive nos bairros de lata de Korogocho (Nairobi), trata da parte espiritual e psicológica dos doentes de Sida. A religiosa observa que “na África, muitas vezes os males são atribuídos a um espírito maligno, pelo que as pessoas têm medo e não aceitam a doença”. “Se as pessoas têm na mente a imagem de um Deus que pune, é importante fazê-las perceber que não é assim, que Deus as ama”, assinala. O Ir. Alain, dos Irmãozinhos de Charles de Foucauld, também trabalha nos arredores de Nairobi e considera que “aqui a Sida é vivida, ainda, como um estigma social”. Perante o desespero e a solidão, procura combater a marginalização a que são votados os doentes, mesmo por parte da família, favorecendo “a comunicação e a relação”. Depois de Porto Alegre, Mumbai, Karachi, Bamako e Caracas, o FSM está, pela primeira vez, em solo africano, para abordar as muitas faces da globalização. Os dias são preenchidos com encontros, mesas-redondas e manifestações culturais. A Igreja Católica coloca ao dispor dos delegados as suas próprias estruturas e envolve-se nos acontecimentos diários, seguindo uma tradição que já vem desde Porto Alegre, no Brasil.

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