Razão e emoção na música litúrgica do Advento

Palavras, cânticos e oração ajudam fiéis a resguardarem-se da agitação que antecede o Natal e a aprofundarem o significado deste tempo

Os hinos e cânticos do Advento contribuem para aprofundar, racional e emocionalmente, o sentido das palavras escolhidas para as celebrações da Igreja Católica durante as quatro semanas antes do Natal.

“A música consegue ir ao encontro destes textos, ajudando-os a alcançar uma maior expressividade, também emotiva”, referiu o padre Pedro Lourenço, do Patriarcado de Lisboa, ao programa ECCLESIA na Antena 1.

No entender do responsável pelos conteúdos litúrgicos e musicais leccionados no Seminário de Cristo-Rei (Olivais), “a experiência da liturgia cristã não é apenas racional”, devendo igualmente “tocar-nos naquilo que somos como um todo, concretamente no coração”.

Num tempo marcado pela interioridade, expectativa e esperança cristã, a música ajuda a que “o texto se transforme em oração”, explicou o sacerdote de 37 anos, formado em Liturgia pelo Instituto de Santo Anselmo, de Roma.

A espiritualidade do Advento, que começa este Sábado à tarde e se prolonga até 24 de Dezembro, é assinalada pela recordação da primeira vinda de Jesus, há dois mil anos, ao mesmo tempo que “nos preparamos para celebrar esse nascimento, na celebração do Natal”, refere o director do Coro do Patriarcado.

O Advento caracteriza-se também pela expectativa da vinda definitiva de Cristo: “Não sabemos quando é, nem é isso que nos interessa”, para “não nos marcarmos pelo medo e pela angústia de que Ele vem para julgar todas as coisas, mas para vivermos nesta dimensão de abertura, percebendo que o tempo que vivemos não é definitivo”, notou o sacerdote.

Até 16 de Dezembro, os textos proclamados na Liturgia orientam os fiéis para uma atitude de “vigilância”, enquanto que a partir do dia seguinte “ajudam-nos a preparar de modo mais imediato a celebração do Natal”, realçando “a ternura do Menino que nasce para nós”.

É nesta aproximação ao nascimento de Jesus que se enquadram as Antífonas do Ó, inspiradas no “Magnificat”, texto bíblico de acção de graças enunciado por Maria no Evangelho e que é rezado todos os dias na Igreja Católica durante a oração de Vésperas.

O nome destas antífonas, cantadas entre 17 e 23 de Dezembro, deve-se ao facto de começarem pela invocação “Ó!”, a que se segue uma palavra definidora de um dos atributos de Jesus – por exemplo, “Ó chefe da Casa de Israel”, “Ó bandeira dos povos”.

O tema do “Ó!” ligou-se à espiritualidade mariana, já que Maria “é a figura que melhor nos ajuda a preparar o Natal porque acolhe o filho de Deus no seu seio”, evidenciou o padre Pedro Lourenço.

Por isso, prosseguiu, a invocação mais tradicional de Maria neste tempo do Advento, sobretudo na Península Ibérica, é “Nossa Senhora do Ó”, designação cuja origem foi erradamente atribuída à forma do ventre materno durante os últimos dias da gravidez.

A certeza, transversal a todo o Advento, de que Cristo “vem continuamente para nos visitar e nós devemos abrir-lhe o coração para o acolher”, é acentuada por dois dos refrães cantados durante este tempo litúrgico: “Descei Senhor Jesus dos altos céus, vinde trazer ao mundo a paz de Deus”; e: “Ó nuvens chovei do alto, e apareça a salvação que Deus nos traz em humano coração”.

“Neste tempo tão marcado pelo frenesim das preparações práticas para o Natal, das compras e até de um certo desgaste por tantas festas e jantares natalícios, é importante que nos resguardemos. E a Liturgia pode ajudar-nos nisso”, salientou o padre Pedro Lourenço.

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