Concluiu-se no Porto o Seminário Nacional de Espiritualidade no Hospital, defendendo nova abordagem sobre este espaço O Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, e Mário Soares juntaram-se para falar sobre a Esperança. Num debate moderado por Carlos Magno, os dois intervenientes apresentaram duas perspectivas diferentes em relação ao tema. Na recta final do II Seminário Nacional Espiritualidade no Hospital – uma iniciativa da coordenação nacional das capelanias hospitalares – o Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa, Mário Soares, disse – na Aula Magna do Hospital S. João no Porto – que “sempre tive um certo fascínio pela religião” apesar de se confessar agnóstico. “Não nego a existência de Deus. Sou Agnóstico” – admitiu. Com 84 anos, Mário Soares afirmou: “Não penso na morte” porque “esta é tão natural como a vida”. Perante o mistério da morte e da vida, estes mistérios “não nos obrigam a acreditar na transcendência” – proferiu. Apesar de participar em vários encontros ecuménicos da comunidade de Santo Egídio, o Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa afirmou que o Estado é laico, mas “percebo que se faça as capelanias nos hospitais” e “deve haver assistência às pessoas que estão nos hospitais”. E acrescenta: “as outras religiões têm também uma palavra a dizer”. No hospital deve “haver apoio aos doentes”. Ao falar dos progressos da medicina, Mário Soares refere também que “é preciso acabar com a dor espiritual e com a angústia”. A tradição cristã refere-se à vida concreta das pessoas. “O cristianismo não é especulação” – disse D. Manuel Clemente. A experiência cristã “continua a ser estimulante” – afirmou. Enquanto D. Manuel Clemente centraliza sua Esperança em Jesus Cristo, o Presidente da Comissão da Liberdade Religiosa centraliza a sua esperança “na condição humana” porque “até hoje não fui tocado pela graça da fé”. E explica: aqueles que têm a graça da fé têm um privilégio sobre os outros porque acreditam na outra vida. Isto dá força às pessoas O dinamismo da esperança cristã “é como a semente lançada à terra” – frisou o bispo do Porto. Com o aproximar da Páscoa, D. Manuel Clemente realça que o hospital é um lugar de esperança. “Há dor, mas esperança com vida”. “A convivência é uma activação da esperança” – acrescenta. Apesar das grandes dificuldades que o país atravessa, “devemos ter confiança uns nos outros e esperança no futuro” – disse o ex-Presidente da República. Mário Soares seguiu com atenção o II Concílio do Vaticano e admirou o Papa Paulo VI porque “deu força ao Concílio”. Com formação iluminista e racionalista, Mário Soares confessou que tinha “dúvidas profundas”. “Não tenho fé, mas acredito no amor ao estilo de S. Paulo”. Direito à esperança Quando as esperanças se esgotam há o encontro com a fragilidade humana. D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da pastoral Social, disse na conferência conclusiva da iniciativa que o “sofrimento põe rudemente à prova a esperança”. O prelado realça que a “dor faz-se, por vezes, insuportável”. Com uma reflexão sobre «E quando as esperanças se esgotam? Dinamismos da esperança no sofrimento», o presidente da comissão episcopal da pastoral social sublinha que as “experiências deixadas à solta podem conduzir à destruição do ser”. Neste caminho, a esperança cristã é “firme e não permite vacilar”. Na reflexão – com quatro ideias chave – D. Carlos Azevedo refere que “a existência de um segundo de dor numa só pessoa, não pode deixar o cristão indiferente” visto que só a abertura ao sofrimento dos outros amadurece uma esperança feliz. A doença e o sofrimento revelam a fraqueza humana, “o carácter efémero da vida, a fragilidade, a insuficiência, a relatividade, os limites”. Neste seminário, subordinado ao tema «Hospital, lugar de esperança», D. Carlos Azevedo profere que “Deus não pode evitar o sofrimento humano” porque “o mal é inseparável da finitude humana”. O hospital deve ser um lugar de esperança. Este, “graças à ajuda espiritual”, “cria espera, confiança, paciência que não cede ao desencorajamento e move a liberdade para agir com sentido”. Como a esperança não pode ser retirada a ninguém, D. Carlos Azevedo frisa que os “doentes têm direito à esperança”. A esperança conduz a aceitar o “limite e o fim da vida, sem sucumbir e sem lhe retirar o valor por cinismo ou indiferença” – conclui. Notícias relacionadas • Hospital não é um deserto, mas lugar de encontro • Medos e esperanças no hospital • A terapia do olhar