Publicações: «Hoje não temos nada para mexer a Igreja», diz padre Dâmaso Lambers

Sacerdote que queria ser missionário e acabou capelão-chefe das prisões portuguesas lançou um livro sobre a sua vida

Lisboa, 01 out 2015 (Ecclesia) – O padre Dâmaso Lambers, sacerdote luso-holandês que dedicou a sua vida à pastoral nas prisões em Portugal, como capelão, e voz histórica da Rádio Renascença, lançou um livro por ocasião dos seus 60 anos de ordenação.

A obra intitulada “Uma vida de doação” já está disponível ao público, com a chancela da Paulinas Editora.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o padre Dâmaso Lambers disse esperar que o livro ajude as pessoas a encontrarem Deus a partir da sua história e das muitas “graças” que recebeu desde que abraçou a sua vocação, como padre na Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria.

“Eu queria realmente dar-me”, frisa o sacerdote, que quando foi ordenado em 1955 tinha como sonho ir para as ilhas Cook, na Nova Zelândia, como missionário, mas viu o destino trocar-lhe as voltas.

“O meu superior provincial disse-me: Pois, eu sei o que tu queres mas o cardeal-patriarca de Lisboa pediu mais três padres para as missões populares na província, e pensei em ti”, recorda o sacerdote.

Chegado a Portugal em 1957, uma das grandes memórias que guarda é a dos retiros que pregou aos novos sacerdotes, uma nova geração de pastores entre os quais estava um que depois chegaria a cardeal-patriarca, D. José Policarpo.

“Preguei o retiro da ordenação de D. José em 1962 e ele dizia sempre: tu deste-me o último empurrão”, confidencia.

O padre Dâmaso Lambers começou por integrar as missões populares, anos antes, e colaborou depois na introdução dos Cursilhos de Cristandade em Portugal.

Um movimento que, segundo o sacerdote, era “avançado para a época” e desempenhou um papel “muito importante para a Igreja”.

“Hoje em dia está muito em baixo e tenho pena porque hoje não temos praticamente nada, assim uma coisa para mexer a Igreja”, frisa o padre luso-holandês.

Em 1959, surgiu “por acaso” a oportunidade de ir “trabalhar nas cadeias”, uma missão que “marcou profundamente a sua vida”, não só pelo desafio em si, “nada fácil” mas pelos frutos que ainda hoje continua a ver na vida das pessoas que procurou ajudar na prisão.

“Há casos muito bonitos, há uns anos encontrei um homem com dois filhos, que tinha estado entre 1965 e 1970 na cadeia do Linhó, que nessa altura era a cadeia central de Lisboa. E este homem disse aos filhos: sabem este é o padre da cadeia onde o pai esteve antes de vocês terem nascido e este padre ensinou-me a amar Jesus”.

Quanto ao estado atual do sistema prisional, o ainda capelão prisional, aos 85 anos e já reformado, sublinha a necessidade de se cuidar mais da reintegração das pessoas que saem do sistema e procuram regressar à sociedade.

Aliás, foi com essa preocupação que criou em meados dos anos 80 a Associação “O Companheiro”, para aqueles que se sentem “rejeitados” pela sociedade.

Um episódio que o marcou foi o de um rapaz cujos “pais não o aceitaram em casa, quando saiu da cadeia” e tomado pelo desespero “voltou a falhar”.

“Eu fui à Polícia Judiciária para estar com ele lá na cadeia e nessa altura pensei: tenho que fazer alguma coisa para estes casos. E hoje temos sempre uns 40, 50 homens que acompanhamos, a quem damos alento para se instalarem na sociedade, que queremos ajudar. O Companheiro tem evitado que muita gente volte para a cadeia e isto é bastante importante”, conclui.

JCP

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