Personalidades da sociedade civil e da Igreja sublinham necessidade de quebrar silêncio
Lisboa, 04 ago 2022 (Ecclesia) – A Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal divulgou hoje um “apelo ao testemunho” das vítimas, com depoimentos de personalidades da sociedade civil e da Igreja.
“Não podemos aceitar tanta indiferença e sofrimento, pelo que temos de fazer tudo para termos não só crianças como adultos mais felizes e com horizontes de mais dignidade”, referem Manuela e António Ramalho Eanes, ex-presidente da República, num texto enviado à Agência ECCLESIA.
A CI desafiou “um grupo de diversas personalidades das mais diversas áreas profissionais, sociais e contextos individuais, para que pudessem colaborar através da escrita de um pequeno texto ou até de uma simples frase sobre o que diria a alguém adulto que, em criança possa ter sido abusado sexualmente, para finalmente dar voz ao seu silêncio?”.
O padre José Manuel Pereira de Almeida, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, deixa um convite direto: “Não tenhas medo”.
Já Eugénio Fonseca, presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado e antigo responsável nacional da Cáritas, pede que as vítimas “rompam o silêncio que os oprime e falem às autoridades competentes, garantes da privacidade e da justiça”.
“Por favor, deem voz ao vosso silêncio. Não permitam, por mais tempo, que vos roubem a esperança de serem mais felizes”, acrescenta.
Jorge Moreira da Silva, antigo ministro e ex-líder parlamentar do PSD, sustenta que “quanto mais vítimas do passado denunciarem os crimes de que foram alvo, maior coragem terão as presentes e futuras vítimas para denunciarem os abusos sexuais de que estão a ser alvo”.
Maria Dulce Rocha, presidente do Instituto de Apoio à Criança, sublinha que “todas as vítimas têm o direito de falar do abuso que sofreram e que lhes provoca ainda dor e revolta”.
“Estou mesmo convencida que será benéfico para todos os sobreviventes, porque atenua o trauma e permite alguma tranquilidade, que por sua vez quase sempre se associa à busca de apoio psicoterapêutico”, acrescenta.
Nos primeiros meses de atividade, iniciada a 10 de janeiro, a comissão coordenada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht recebeu mais de 360 denúncias.
OC
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