Promover a atmosfera do ambiente eucarístico

Conclusões Jornadas Pastorais para o Clero do Porto Realizaram-se na Casa Diocesana de Vilar, de 22 a 26 de Janeiro de 2007, as Jornadas Pastorais para o Clero do Porto sob o tema “A Palavra de Deus e a Liturgia”, na continuidade das últimas três Jornadas, com a participação empenhada de cerca de 70 presbíteros sob a orientação de uma equipa de “La Casa de La Biblia”. Foi desde logo chamada a atenção de todos os participantes para a frase de Jeremias (15, 16) que encimava a apresentação do programa: “Eu devoro as Tuas palavras, onde as encontro; a Tua palavra é a minha alegria e as delícias do meu coração”. E embora a temática dissesse respeito a toda a Liturgia, o centro da reflexão incidiu sobretudo na relação entre a Palavra de Deus e a Eucaristia. No final do desenvolvimento esclarecido dos conferentes e das intervenções dos participantes, foi discutido em reunião de grupos quais as principais consequências para a vida espiritual e actividade pastoral do clero, donde resultaram as seguintes conclusões. 1 – A celebração litúrgica é muito mais do que cumprimento de um ritual prescrito. É a celebração de um encontro com Cristo ressuscitado na força do Espírito. Na mistagogia da celebração é decisivo que os fiéis cheguem a compreender esta dimensão da Liturgia da Igreja e sejam ajudados a cultivar a mística deste encontro, discernindo as feições do Seu Senhor nas diversas modalidades da sua presença. 2 – Na Liturgia, o rito e a palavra estão intima e profundamente unidos (SC, nº 35); a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística estão tão intimamente ligadas que “constituem um só acto de culto” (SC. nº 56) e são dignas da mesma veneração tanto a Palavra de Deus como o Corpo de Cristo (DV. n.º 21). Sendo partes constitutivas do mesmo acontecimento salvífico, não pode a liturgia da Palavra ser considerada o prelúdio ou o preâmbulo da celebração propriamente sacramental. É já comunhão com o Verbo na fé e na adesão amorosa, tão eficaz e necessária como a comunhão sacramental. No discurso em Cafarnaúm, após o milagre da multiplicação dos pães, Jesus apresenta-se como pão da vida num duplo sentido: o pão que o Pai nos dá, que é o revelador e a Palavra do Pai, o pão que desce do céu e em quem é preciso acreditar (Jo. 6, 26-47); e o pão que se dá em alimento e que é preciso comer, degustar, assimilar (Jo. 6, 48-59). 3 – “A mesa quer da Palavra quer do Corpo de Cristo” (DV. n.º 21). Em Emaús, depois de confrontados com as Escrituras, os discípulos sentaram-se à mesa com o desconhecido e ao “partir do pão”, reconheceram-no, mas Ele tornou-se invisível; dão-se conta de como lhes ardia o coração quando lhes explicava as Escrituras; reconhecem-no vivo sem o verem e tomam consciência do que para eles significou este reencontro (Lc. 24, 13-35). a) É preciso promover a atmosfera deste ambiente eucarístico: cuidar do espaço litúrgico (ambão, altar), do arranjo e da acústica; tirar partido dos sinais que enriquecem a cerimónia, valorizando-os para que se tornem mais expressivos (cruz e demais alfaias litúrgicas, o leccionário e o evangelíário, podendo este ser levado em procissão em tempos fortes); guardar os momentos de silêncio recomendados: no acto penitencial, a seguir ao convite às orações, depois das leituras e da homilia e na acção de graças de Comunhão; valorizar as respostas dos fiéis, esclarecendo-os sobre o verdadeiro sentido do amen; lançar mão de monições ajustadas; preparar as acções dos intervenientes. b) Em ordem a uma adequada proclamação da Palavra é necessário utilizar os textos sagrados de acordo com as normas litúrgicas, não os substituindo por textos profanos; promover a instituição de leitores leigos a quem seja dada a conveniente preparação espiritual (bíblica e litúrgica) e também técnica, recorrendo para tanto à Escola Diocesana de Ministérios Laicais ou, onde as houver, a escolas vicariais ou paroquiais. Esta formação deverá ser permanente (e para isso recomenda-se a lectio divina) e estimulante de modo a tornarem-se cada vez mais aptos a ler e a comunicar. c) Particular atenção deve merecer a homilia, que não se pode reduzir a um mero ensino para a vida ou a uma qualquer preparação catequética, mas deve enquadrar-se no dinamismo próprio da acção unitária celebrativa para despertar uma adesão incondicional de fé e uma entrega de amor como a de Cristo. Deve haver especial cuidado na sua preparação, sendo de louvar as experiências já tentadas de trabalho em equipa, com colegas ou leigos. Deve ser breve, clara e dirigida a uma concreta assembleia de fiéis. Respeite-se o equilíbrio de tempo entre a liturgia da Palavra e a liturgia eucarística. 4 – Na Liturgia da Igreja tem lugar a Eucaristia, os sacramentos, o ano litúrgico, as acções sacramentais menores com as bênçãos ou consagrações, mas também a Liturgia das Horas. Entre todas as formas de oração cristã a Igreja, enquanto comunidade orante, privilegia a litúrgica, reconhecendo-lhe um lugar à parte. Elaborou a sua estrutura, compô-la com textos bíblicos e patrísticos e ao longo dos séculos foi-a adaptando às novas exigências históricas. É uma oração essencialmente horária, para consagrar todo tempo, as realidades cósmicas na sua duração. Nela ressalta a dignidade do homem como mediador de louvor entre as coisas criadas e Deus. E para garantir o exercício e a actuação mais alta da sua missão de orante perene que lhe foi confiada por Cristo, tornou-a obrigatória para os sacerdotes e muitos religiosos. Deve por isso o sacerdote dar tempo e espaço à Liturgia das Horas e colocá-la no ritmo da vida. Deve promover, algumas vezes, domingos à tarde ou nas festas, a oração de Vésperas com o Povo de Deus. Nas reuniões habituais com os diversos movimentos da comunidade, seria bom iniciá-las com a oração da Hora adequada ou, pelo menos, fazer referência aos textos da Palavra de Deus desse dia. 5 – Do que foi dito sobre a relação entre a palavra e o rito, se conclui a importância da Palavra de Deus na administração dos outros sacramentos e se justifica o esforço da Reforma litúrgica, dando seguimento ao Vaticano II, para dotar os rituais de uma selecção de textos bíblicos que o celebrante pode escolher e adequar a cada caso. Por isso é necessário dar tempo e solenidade à proclamação da Palavra de Deus, não só nas celebrações comunitárias dos sacramentos, mas mesmo quando individualmente administrados, devendo nestes casos proceder às necessárias adaptações. Também pode ser muito útil breves monições para potenciar o valor dos gestos e símbolos, nomeadamente os de inspiração bíblica. 6 – Dada a escassez crescente de presbíteros que garantam a celebração da Eucaristia Dominical em todas as comunidades, já o Vaticano II previu uma solução transitória (SC. 35, 45), que tem vindo a ser progressivamente regulamentada por diversos documentos do Magistério e foi objecto de discussão na última Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que recomendou às Conferências Episcopais para prepararem subsídios adequados. Nessa linha, a Conferência Episcopal Portuguesa acaba de publicar “Celebração Dominical na Ausência do Presbítero”, que foi posto à disposição dos participantes. Porque também, na nossa Diocese, a situação se vai agravando, insistiu-se na necessidade de escolher criteriosamente os candidatos; acompanhá-los, formá-los e confiar neles; mentalizar os padres e as comunidades para a aceitação do seu ministério como dom de Deus. Enquanto decorriam os trabalhos da Jornadas, os participantes tiveram a alegria de tomarem conhecimento das palavras do Papa Bento XVI, nesse dia 25 de Janeiro, aos membros do Conselho Ordinário da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos, recebidos em audiência: “A futura Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a 12ª, terá como tema: A Palavra de Deus na vida e na missão de Igreja. A ninguém escapa a importância de tal temática que, aliás, foi a mais solicitada na consulta feita aos Pastores das Igrejas Particulares. É um tema desejado desde há muito tempo. O que se compreende facilmente porque a acção espiritual, que exprime e alimenta a vida e a missão da Igreja, se funda sobre a Palavra de Deus.” Os participantes sentiram-se em profunda sintonia com o Papa Bento XVI e com toda a Igreja.

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