Portugal: O papel da Igreja e dos católicos «é uma peça importante dessa história que vai conduzir ao 25 de Abril» (c/vídeo)

Maria Inácia Rezola destaca que o «diálogo entre religiões é uma peça fundamental do Portugal contemporâneo»

Lisboa, 01 jan 2024 (Ecclesia) – A Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril [1974-2024] afirma que “não existe democracia se não existir abertura a todas as religiões”, e destaca que a Igreja Católica “tem um papel muito interessante e muito importante”, nas “dinâmicas da sociedade portuguesa”.

“Esse diálogo entre religiões é uma peça fundamental do Portugal contemporâneo e uma conquista fundamental de Abril. Não existe democracia se não existir essa abertura a todas as religiões e essa possibilidade de expressão, de manifestação e de vivência de todas as comunidades. Isso foi um passo enorme nos últimos 50 anos”, disse Maria Inácia Rezola, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A comissária executiva da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril destaca que a Igreja Católica tem, “atualmente, um papel muito interessante e muito importante”, não só respondendo “às instruções, às missivas de Roma, mas às próprias dinâmicas da sociedade portuguesa”.

Em 2024 comemoram-se 50 anos do 25 de abril de 1974, um processo que teve também o envolvimento de movimentos católicos, como na Vigília da Capela do Rato (Lisboa) pela paz, uma “mobilização muito interessante”.

“Nós já tínhamos episódios de contestação, de criticismo do interior da Igreja para o regime salazarista e depois para Marcelo Caetano. Temos uma juventude católica, formada no seio da Igreja, militante nos movimentos da ação católica, que entra claramente em contestação com o regime; O apelo da Capela do Rato era a cristãos e não cristãos, era uma vigília pela paz, que era um assunto premente em Portugal e tem um significado muitíssimo importante”, desenvolveu Maria Inácia Rezola.

Nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que começaram em 2022 e se vão prolongar até 2026, a comissão já evocou a vigília da Capela do Rato, realizada a 30 de dezembro de 1972, com exposições, encontros.

“Inevitavelmente, este papel da Igreja e dos católicos é uma peça importante dessa história que nos vai conduzir ao 25 de abril. A Igreja era e é uma Igreja no seu tempo, no seu mundo, mas também é evidente que havia uma óbvia ligação desde os anos 30 entre a Igreja e o regime”, salientou a entrevistada.

A professora universitária lembra que a Igreja Católica chegou ao 25 de Abril de 1974 com “o peso de estar associada à longa ditadura portuguesa”, mas também com uma “história de contestação, de resistência”, de setores minoritários que agora são fundamentais e que “servem de um certo conforto para os católicos em geral, nesse momento de rotura, de queda da ditadura”.

A comissária executiva lembra que existem “uma série de figuras que são muito importantes nesta história”, e destacou a intervenção do padre Abel Varzim, “o mais antigo será o primeiro”, que integrou a Assembleia Nacional, com uma “uma inquietação religiosa e social” que não é necessariamente “uma contestação na sua essência política”, o padre Manuel Rocha, o ‘caso do Bispo do Porto é o mais paradigmático’, D. António Ferreira Gomes, o padre António Janela.

“Nós vemos de norte a sul do país mobilizações, os cristãos pelo socialismo, aos cristãos em reflexão permanente, as assembleias de cristãos do Porto, de Lisboa, que contestavam a Igreja, que exigiam que a Igreja se retratasse do seu casamento com a ditadura, que pediam uma renovação, uma abertura aos ventos do Vaticano II”, indicou.

A coordenadora da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril lembra que “Abril tinha também uma clara mensagem de paz, por fim a 13 anos de guerra colonial” e realça que as guerras “são uma fortíssima ameaça à ordem democrática”.

“Não só pelas evidentes questões humanitárias, as imagens deixam-nos todos os dias aterrorizados e preocupados, como também pela questão do futuro e da qualidade e da existência de uma democracia em termos mundiais, é fundamental trabalharmos e apelarmos a essa paz”, referiu.

Maria Inácia Rezola considera que é “oportuno recuperar”, por exemplo, as mensagens de paz dos Papas, no dia 1 de janeiro, desde 1967 e “continuar a ler e a trabalhar pela sua concretização”.

PR/CB/OC

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