Portugal: «É preciso combater a ditadura da idade» – Maria João Valente Rosa

Investigadora afirma que «envelhecer hoje é melhor do que envelhecer no passado», mas aponta para problemas sociais e de saúde mental

Lisboa, 01 out 2023 (Ecclesia) – A professora universitária Maria João Valente Rosa afirmou que as pessoas idosas vivem muito dependentes de transferências sociais, disse que “quantidade e qualidade de anos de vida não são sinónimos”, indicando que é preciso combater a “ditadura da idade”.

“Épreciso evitar ou combater esta chamada ditadura da idade”, disse a investigadora na área da demografia em entrevista à Renascença e Agência ECCLESIA.

No Dia Internacional das Pessoas Idosas, que se assinala, por iniciativa das Nações Unidas, no dia 1 de outubro, a professora Universitária afirmou que é necessário repensar a vida, normalmente organizada em três fases: formação,  trabalho e uma “fase para descansar ou uma fase de reforma”.

“Este nosso mapa de vida  já não nos serve para os dias de hoje de vidas longas”, alertou, lembrando que “foi pensado  para uma situação de vidas curtas”.

Maria João Valente Rosa disse que é necessário associar qualidade de vida à quantidade, ao “viver mais tempo”, para que a sociedade não perca “grandes oportunidades” e as pessoas idosas vivam com saúde, não seja deixadas na solidão e não permaneçam na pobreza e na “vulnerabilidade financeira” provocada pela dependência de transferências sociais.

“2021, quase 90% das pessoas com 65 ou mais anos seria pobre se não tivesse transferências sociais. Ou seja,  após as transferências sociais,  que grande parte são as reformas e as pensões, este valor passa para 17%”, referiu

A professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova lembrou que  “envelhecer hoje é melhor do que envelhecer no passado” e que “cerca de 1 em cada 4 residentes em Portugal tem 65 ou mais anos”, ou 23% da população, quando em 1970 eram 10%.

“Esta evolução, que se saudou pelo aumento de pessoas nas idades superiores, chamadas vulgarmente de velhos, aconteceu em resultado da diminuição da mortalidade. E a diminuição da mortalidade é muito fruto do desenvolvimento social”, adiantou.

Maria João Valente Rosa lembrou que a esperança média de vida, à nascença, é de 81 anos, “mais cerca de 14 anos do que era em 1970”, e, aos 65 anos, cada pessoa, em média, ainda tem “mais 20 anos pela frente”.

“Vivemos em média mais tempo e que temos mais quantidade de tempo para viver. É bom, mas não basta.  Ou seja, muitos desses anos nas idades superiores são vividos sem qualidade, com problemas de saúde muito especial no caso das mulheres e em Portugal”, alertou a especialista, lembrando que a saúde mental constitui “um problema muito grave” e “muitas das pessoas que vão envelhecendo vão ficando expostas a certos estereótipos muito negativos e a sua capacidade cognitiva e de memória muitas vezes diminuem em função disso”.

“Existe um aspeto que tem que obrigatoriamente ser combatido por todos.  E esse aspeto chama-se o ‘idadismo’. Eu não gosto da palavra, mas é assim que nós a conhecemos.  Ou seja, a discriminação da pessoa em função da idade”, sublinhou.

A professora universitária disse que para combater a solidão dos idosos e o “problema gravíssimo” do abandono dos mais velhos, é necessário promover as “relações inter-geracionais, através de partilha de espaços e de saberes”, sugerindo nomeadamente que “as escolas deveriam ser frequentadas por várias idades e por todas as idades”.

A investigadora lembrou que a escolaridade tem uma “dimensão importante” para o “envelhecer bem, acrescentando que “ter estudos faz bem à saúde e aumenta as hipóteses de envelhecer de forma mais saudável e ativa”.

Maria João Valente Rosa foi a convidada na entrevista semanal conjunta da Renascença e da Agência Ecclesia , conduzida por Henrique Cunha e Paulo Rocha.

PR

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