Portugal: Cardeal desafiou empresários

Presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz destacou em Lisboa a necessidade de formar «novas gerações» de gestores

Lisboa, 06 mai 2014 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz (CPJP), da Santa Sé,  sublinhou hoje em Lisboa a necessidade dos empresários cristãos colocarem todo o seu “empenho” na construção de uma economia ao serviço do “bem comum”.

Num encontro com gestores das mais diversas áreas de atividade, no âmbito da apresentação em Portugal do documento “A vocação do líder empresarial”, o cardeal Peter Turkson exortou os participantes a “não separarem” no seu quotidiano, “a fé da atividade profissional”.

“Trata-se de colocar a fé também no centro do mundo dos negócios, os cristãos têm todos de se consciencializar de que a fé não pode ser uma matéria guardada no íntimo de cada um, mas sim uma relação que inspira à ação, a um estilo de vida que corresponda a essa crença”, frisou o prelado ganês, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Concebido pelo CPJP, o texto “A vocação do líder empresarial”, disponível para já em 15 línguas incluindo o português, surge como um manual prático de conduta para os gestores de todo o mundo.

Uma das principais interpelações presentes no documento, apresentado no nosso país com o apoio da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), é que os agentes económicos sejam “continuadores”, na sociedade, da “força criadora de Deus”.

Entre outros aspetos, o livro de 32 páginas destaca que a atividade empresarial deve ser um motor de “paz e prosperidade”, gerando não só riqueza material mas também “produzindo bens que são verdadeiramente bons e serviços que servem verdadeiramente; estando alerta para as oportunidades de servirem as populações carentes; promovendo a especial dignidade do trabalho humano”; sendo “justas na alocação dos recursos”.

Para o cardeal Peter Turkson, é essencial que a mensagem passe para “as novas gerações de líderes”, e para isso é preciso “ir à fonte”, em ligação com as universidades e institutos educativos, e inculcar nos mais novos um novo tipo de “conduta social”, que tenha em atenção princípios presentes na Doutrina Social da Igreja como “a solidariedade” e a “caridade”.

“Estes princípios não devem ser vistos como algo oposto às regras de gestão mas sim como algo que pode suportar e inspirar as pessoas a encararem a sua atividade de uma outra perspetiva”, salientou.

Além de apelar ao combate de problemas como a injustiça, a fraude ou a concorrência desleal no mundo dos negócios, a Igreja Católica sublinha a importância de encarar a gestão como um “serviço” onde deve haver cada vez mais lugar para noções como a “gratuidade” e a “caridade”.

Para o vice-presidente da ACEGE, Nuno Fernandes Thomaz, esta mensagem ganha ainda maior pertinência no contexto atual de Portugal, em que a crise económica e social “evidenciou toda a necessidade de fazer reviver, e nalguns casos até renascer, todo o domínio ético da gestão e a responsabilidade social das empresas”.

“Foi por haver falhas graves nesses domínios que a crise nasceu e se amplificou”, reconheceu aquele responsável, acrescentando que o grande desafio dos empresários cristãos é criar condições para minorar “o estado de sofrimento social em que vive atualmente uma grande percentagem de homens e mulheres”.

Depois de ter lançado um documento especialmente dirigido ao mundo empresarial, o Conselho Pontifício Justiça e Paz está a trabalhar num outro dedicado aos líderes políticos.

JCP

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