Portugal: Bispos pedem «estabilidade política»

Conselho Permanente do episcopado divulga nota sobre a crise em que defende «direito ao trabalho»

Fátima, Santarém, 17 set 2012 (Ecclesia) – Os bispos católicos de Portugal apelaram hoje em Fátima à “estabilidade política” e ao consenso no país, afirmando a necessidade de “equidade” nas soluções e na distribuição dos “sacrifícios” perante a crise económica.

“Numa democracia adulta, as ‘crises políticas’ deverão ser sempre exceção. Em momentos críticos, podem comprometer soluções e atrasar dinamismos na sua busca”, assinala o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), numa nota intitulada ‘Missão da Igreja num país em crise’.

O texto exige a “responsabilidade” dos atores da democracia, a quem se pede “a busca permanente do maior consenso social e político”.

“Todos sabemos que, para superar as presentes dificuldades, não existem muitos caminhos de solução. Compete aos políticos escolhê-los, estudá-los e apresentá-los com sabedoria”, refere o organismo episcopal.

O Conselho Permanente da CEP alerta para o desemprego, apresentado como “um dos aspetos mais graves desta crise”, e convida a respeitar o “direito ao trabalho” diante da atual crise económica.

Nesse sentido, os bispos propõem um “equilíbrio convergente de vários elementos: criatividade nas empresas, caminhos ousados no financiamento, diálogo social em que pessoas e grupos decidam dar as mãos, apesar das suas diferenças”.

O documento, divulgado em conferência de imprensa, recorda que o atual momento socioeconómico está a ser “difícil para muitos portugueses” e sublinha que “principal resposta da Igreja para o momento atual tem sido dada pelas suas instituições de solidariedade social”.

Os bispos elencam, em seguida, um conjunto de “atitudes” inspiradas na Doutrina Social da Igreja como forma de interpelar “a consciência dos intervenientes na coisa pública”.

A CEP elenca, a este respeito, a “prioridade na busca do bem comum”, no respeito das diferenças entre “governo e oposição, partidos políticos, associações de trabalhadores e de empresários” e na busca de “um alargado consenso nacional”.

Nesse contexto, pede-se ainda “respeito pela verdade”, “generosidade para não dar prioridade à busca de interesses particulares” e “a honestidade para renunciar a caminhos pouco dignos de procura desses interesses”.

A nota sustenta a urgência de uma “renovação cultural” que ultrapasse limitações dos “sistemas económico-financeiros” e promova o “equilíbrio entre finanças e economia”, de modo ético.

“Os mercados não podem separar-se do dinamismo económico, transformando-se em fontes autónomas de lucro que não reverte, necessariamente, para o bem comum da sociedade”, observa a nota.

Em conclusão, os bispos referem que a Igreja quer contribuir para esta renovação com “os valores que lhe são próprios” e sugere “coragem para aceitar que momentos difíceis podem ser a semente de novas etapas de convivência e de sentido coletivo da vida”.

O Conselho Permanente é um órgão delegado da assembleia dos bispos católicos em Portugal, com funções de preparar os seus trabalhos e dar seguimento às suas resoluções, reunindo ordinariamente todos os meses.

O secretário da CEP disse aos jornalistas que o documento teve em conta o anúncio de novas medidas de austeridade e a manifestação de protesto, no último sábado, em várias cidades do país, que apresentou como “um forte sinal” que os governantes devem “saber ler”.

OC

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