Pobreza: Aumento de pedidos e diminuição dos apoios coloca Comunidade Vida e Paz à «beira do abismo»

Horácio Félix confia em «milagres» para não ter de fechar serviços, alerta para o aumento da toxicodependência e pede aos partidos políticos propostas «muito claras» sobre o combate à pobreza

Foto Agência ECCLESIA/PR

Lisboa, 24 dez 2023 (Ecclesia) – O presidente da Comunidade Vida e Paz alertou para o número crescente de toxicodependentes, pede propostas “muito claras” aos partidos políticos sobre o combate à pobreza e afirma que são precisos “milagres” para a instituição atender quem pede ajuda.

Em entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA, Horácio Félix afirma que número de pessoas em situação de sem-abrigo que pede ajuda à Comunidade Vida e Paz (CVP) aumentou 25%, as ofertas dos benfeitores, que representam 50% das receitas da instituição, diminuiu por causa situação económica do país e a não atualização das comparticipações “está a colocar em causa o funcionamento” da comunidade.

“Já fechámos algumas respostas menores, mas estamos a aproximar-nos muito rapidamente da beira do abismo em que teremos também que fazer opções entre a quem é que pagamos, se aos colaboradores, se aos fornecedores”, disse Horácio Félix.

A CVP distribui diariamente refeições a 500 pessoas em situação de sem-abrigo através de Equipas de Rua e acompanha outras 300 nas comunidades terapêuticas, comunidades de inserção e apartamentos de reinserção, contanto com cerca de 180 colaboradores.

“Nós temos tido, nos dois últimos anos, prejuízos de cerca de 200 mil euros, essencialmente que são aumentos de custos com o pessoal”, alertou, lamentando a falta de atualização das comparticipações do Estado que decorrem de protocolos assinados com a Segurança Social.

De acordo com as estatísticas, o número de pessoas em situação de sem-abrigo, em 2022, era 10700, aumentando 19% em relação ao ano anterior e sendo atualmente “bem mais” a envolver um número crescente de famílias e pessoas com emprego, numa ocasião em que a Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo 2017-2023 foi prorrogada, na última quinta-feira, até 2030.

“A estratégia tem dado alguns resultados. Se calhar não os resultados que nós gostaríamos de ver atingidos. Mas, não é só a estratégia, porque a questão do aumento do consumo de substâncias toxicodependentes e a forma como ajudamos essas pessoas, de certa forma, até foge do âmbito da estratégia. Portanto, é algo mais vasto e tem muito a ver também com o Ministério da Saúde”.

Horácio Félix alerta para o “grande aumento de consumo de substâncias toxicodependentes”, sobretudo na zona da grande Lisboa, indicando que “o que se via nos anos 90 no Casal Ventoso, vê-se agora na Avenida de Ceuta”.

“A zona da Avenida de Ceuta é o sítio mais preocupante, onde neste momento, além do elevado número de pessoas nessa situação, muitas delas passam fome. E pouco mais lhes chega do que a nossa pequena ceia, o que, como sociedade, é algo que nos deve deixar envergonhados”, afirma.

O presidente da CVP diz que “não se vê alteração nas políticas nem na preocupação” com os casos de consumo de substâncias aditivas, apontando para a recuperação de programas que foram promovidos nos anos 90, “desde a prevenção a nível das escolas, ao tratamento das pessoas que estão nessa situação”.

“O tratamento de pessoas que estão em situação de adição, não me parece que seja uma preocupação política do momento e tem estas consequências também”.

Foto Agência ECCLESIA/PR

Horácio Félix considera que o combate à pobreza deve ser feito “essencialmente por uma economia pujante que pague ordenados decentes” e não tanto por “via do subsídio”, e pede aos partidos, no contexto de eleições legislativas que sejam “muito claros” nas questões relacionadas com “a vida das pessoas”.

“Espero que, pelo menos, as propostas dos partidos sejam muito claras no que tem a ver com o combate à pobreza e, especialmente, nas pessoas que estão em situação de sem-abrigo”, indicou.

Na entrevista à Renascença e à Agência ECCLESIA, Horácio Félix diz temer pelo que chama de “tempestade perfeita” provocada pelo aumento de preços e o fim do IVA zero, no início do ano, em produtos essenciais.

PR

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