Peregrinos prontos para repetir a experiência

Turistas e peregrinos na mesma cidade, todos se dirigem à concha central na Praça do Obradoiro, em Santiago de Compostela. Ali se tiram muitas fotografias que mais tarde vão ajudar a recordar o cansaço, mas principalmente a alegria de ter chegado e cumprido um objectivo. O grupo de peregrinos de São Martinho do Vale, Vila Nova de Famalicão, ainda sente o cansaço. As pernas e os pés ainda ressentem o esforço do caminho, mas todos são unânimes em querer guardar a experiência e mesmo repeti-la. A noite em Santiago de Compostela foi passada no Albergue do Monte do Gozo. Em Santiago de Compostela há cerca de 4000 camas disponíveis para peregrinos. O Seminário Menor, no centro da cidade, tinha as suas 2500 camas ocupadas. Para o Monte do Gozo é preciso ir de autocarro e garantem que “dificilmente preenchem as 1000 camas disponíveis”. Este grande albergue foi construído por altura da Jornada Mundial da Juventude em 1989, celebrada com João Paulo II. Situado no cimo de uma encosta, o albergue foi baptizado pela alegria dos apóstolos quando avistaram a Catedral de Santiago. Os peregrinos distribuídos por 29 pavilhões dispõem de restaurante, discoteca e piscina, para o dia de descanso. Está aberto durante todo o ano, funcionando com voluntários e alguns peregrinos, que depois do caminho se predispõem a ajudar nas limpezas e atendimento. No local de atendimento e registo para pedir dormida podem também encontrar-se diversas informações. Horários de autocarros ou de supermercados, horários de vigílias de oração, número de telefones de companhias aéreas para a viagem de regresso, desenhos e mensagens de peregrinos em várias línguas. A Missa do Peregrino é celebrada todos os dias na Catedral de Santiago de Compostela ao meio dia. O grupo dos 18 de São Martinho do Vale participou na eucaristia de Domingo, dia 12. A Catedral enche-se de turistas e de caminheiros para juntos celebrarem a sua fé e receber do apóstolo o incentivo para continuar o seu caminho. Os grupos podem inscrevem-se na Oficina do Peregrino, para durante a celebração eucarística serem saudados e mencionados como um grupo que peregrinou na fé até Santiago. Peregrinos passam de malas às costas, outros cansados vão-se acomodando para mais descansados celebrar a eucaristia presidida pelo Deão do Cabido. “Em ano santo, se estiver na dioceses, o Arcebispo D. Julián Barrio preside a todas as missas do peregrinos”, explica o Pe. António Machado. Os peregrinos foram ainda brindados com o bota fumeiro habitual aos Domingos. Uma equipa de funcionários da Catedral através de grossas cordas e muita perícia lançam o grande turíbulo pelos traseptos da Catedral num espectáculo que contagia e emociona quem na eucaristia participa. Para a Ana Garrido celebrar a Missa do Peregrino “é muito especial”. Apesar de celebrada em línguas diferentes, “o caminhar para a catedral une as pessoas”, conferindo o sentimento de celebração universal. Partilhar a Missa do Peregrino deu a Bernardete Enes a consciência de que “há muitas pessoas que dão valor à espiritualidade e entre línguas diferentes, partilhamos a mesma fé”. A missa do peregrino é o “aprofundamento do que é a Eucaristia, pão de Deus para todos os povos”. É uma celebração “missionária”, onde croatas, italianos, vietnamitas, alemães, espanhóis e portugueses, entre muitos outros “simbolizam o reino de Deus”, aponta o Pe. António Machado. Peregrinar cristão O responsável pela organização da peregrinação refere ter sido “uma caminhada muito generosa”. “O empenho, a seriedade e o sentido de fé que ao longo da semana todos partilharam fizeram desta experiência um marco para todos”. O peregrinar cristão foi o denominador comum. O espírito de sacrifício das pessoas quando postas à prova quer a nível físico ou psicológico, o não encontrar albergue disponível em alguns locais, são factores que resultaram numa maior união das pessoas. “Caminhou-se em comunidade”, sublinha o pároco de São Martinho do Vale. A caminhada, adianta o responsável do grupo, vai “continuar na vida das pessoas. O seu término geográfico não determina o fim na vida pessoal, agora inspirada por esta experiência”. Os 121 quilómetros do caminho uniram 18 pessoas que sem se conhecer, não hesitaram em partilhar histórias. Histórias de fé, de percursos, de encruzilhadas. Esta foi comum a todos e não tem quilómetro zero.

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