Peregrinação Nacional do Movimento da Mensagem de Fátima

Estamos a celebrar a Eucaristia. A Eucaristia é uma acção de louvor e agradecimento. Estamos agradecidos a Deus pelo dom do Seu Filho e porque esse Filho, Jesus Cristo, nos amou de tal forma que deu a vida por nós. Por nós morreu e ressuscitou. Agradecidos, queremos dar graças, "anunciando a Sua morte, proclamando a Sua ressurreição e esperando a Sua vinda".

Este Deus que se revela em Jesus de Nazaré, não é um Deus à medida do homem, nem segundo a lógica humana. É o Deus que, por amor do homem, se faz homem. Um homem-Deus que não se coloca em bicos de pés para dar nas vistas, mas se despoja de si próprio, assumindo a condição de servo para servir e libertar. Um Deus que se ajoelha para lavar os pés aos discípulos, se entrega e morre por todos, em fidelidade e obediência ao Pai, em atitude de amor que perdoa e salva.

Só os "pequenos", os que se tornarem como crianças, os humildes é que poderão compreender os mistérios deste Deus, desconcertante e surpreendente nos seus gestos de amor como, aliás, nos lembravam as leituras que ouvimos.

O tema desta Peregrinação é "O Pequeno Francisco, adorador de Jesus Eucaristia".

Francisco era uma criança, humilde como todas as crianças e sem pretensões. Sabia aceitar a sua pequenez de criança e a sua impotência diante da vida. Sente-se dependente de seus pais para sobreviver. Sabe que é criança e reconhece-se como tal.

E Jesus revela-se a este pequenino, a Francisco, simples e humilde, mas com a alma grande e capaz de perceber o grandioso mistério de Deus. Desde as aparições do Anjo que a devoção à Santíssima Eucaristia foi para ele um ponto de honra e de fé cada vez mais comprometida com Jesus e a salvação dos pecadores. Passava longas horas diante do Sacrário.

É Lúcia que o escreve nas suas memórias. Assim:

"Quando ia à escola, por vezes, ao chegar a Fátima, dizia-me:

– Olha: tu vai à escola. Eu fico aqui na Igreja, junto de Jesus escondido. Não me vale a pena aprender a ler; daqui a pouco vou para o Céu. Quando voltares, vem por cá chamar-me. (…)

Depois que adoeceu, dizia-me, às vezes, quando, a caminho da escola, passava por sua casa:

– Olha: vai à Igreja e dá muitas saudades minhas a Jesus escondido. Do que tenho mais pena é de não poder já ir a estar uns bocados com Jesus escondido" (MIL IV, nº 12, p. 141).

Como sabemos, um grande desejo de Francisco era receber a Sagrada Comunhão e insistia com a prima para que ela fizesse diligências nesse sentido. E um dia, entre outros, quando Lúcia se dirigia para a igreja paroquial, recomendou-lhe:

"Olha: pede-Lhe para o Senhor Prior me dar a Sagrada Comunhão."

E quando a Lúcia chegou a casa, ele pergunta-lhe:

– Pediste a Jesus escondido para o Senhor Prior me dar a Sagrada Comunhão?". (MIL IV, nº 17, p. 146).

Como ela lhe dissesse que sim, ele prometeu agradecer-lhe pedindo por ela no Céu.

Mas as coisas pioravam para o lado de Francisco. A pneumónica bateu-lhe à porta. E no esvaírem-se das suas forças perante o avanço da doença, ele não desistia.

– "Ó pai, queria receber o Pai do Céu antes de morrer – dizia baixinho.

– Já vou tratar disso – respondia o Senhor Marto, cujo coração chorava quase sem consolo, não só na certeza de que ia perder o filho, mas também no receio de que mais uma vez o Senhor Prior lhe negasse "o Jesus escondido".

Enfim, Francisco, depois de ter recebido a Sagrada Comunhão dada pelo Anjo, sempre acabou por receber, de novo, e pela última vez, a Sagrada Comunhão. E num momento de muita ternura e sofrimento disse a Jacinta: "Hoje sou mais feliz do que tu, porque tenho dentro do meu peito a Jesus escondido…".

A preparação cuidada que ele fez para receber Jesus Eucaristia pedindo inclusive a Jacinta e a Lúcia que o ajudassem a lembrar os seus pecados é de um encanto extraordinário a contrapor-se ao laxismo com que hoje tantas vezes nos aproximamos da sagrada Comunhão…

Caros Fiéis,

A Eucaristia foi, é e será "escola de santos". E se quiséssemos lembrar outra pessoa apaixonada pela Eucaristia, bastar-nos-ia recordar Alexandrina de Balasar, a serva humilde e simples, sofredora e alegre, despojada e pobre, atenta e dedicada, generosa e feita oblação ao Senhor, que viveu dominada pelo "ideal eucarístico" e se tornou "verdadeira intérprete da verdadeira piedade eucarística".

 "Dou-vos graças, Eterno Pai, por haverdes deixado a Jesus no Santíssimo Sacramento", rezava ela. "A minha loucura é a Eucaristia" e "eu queria que o meu coração fosse uma lâmpada sempre a arder em cada um dos vossos sacrários". "Pertence-me esta missão: dar almas a Jesus, viver alerta na Eucaristia, alerta sempre, alerta com Jesus. Como borboleta em volta da chama, como pastor vigilante pelo seu cordeiro".

O Jesus escondido de Francisco, era o Jesus escondido de Alexandrina presente no sacrário da sua igreja paroquial.

Como nos lembram os seus biógrafos, para além do testemunho, ela deixou-nos um património imenso de orações a demonstrar o seu grande amor aos sacrários de todo o mundo, num coração cheio de amor simples, comprometido com a sorte dos outros, abrangente e universal.

Recordemos algumas:

 "Meu Jesus, eu quero que cada dor que sentir, cada palpitação do meu coração, cada vez que respirar, cada segundo das horas que passar, sejam actos de amor para os vossos sacrários…

Eu quero que cada movimento dos meus pés, das minhas mãos, dos meus lábios, da minha língua, cada vez que abrir os meus olhos ou fechar, cada lágrima, cada sorriso, cada alegria, cada tristeza, cada tribulação, cada distracção, contrariedade ou desgosto, sejam actos de amor para os vossos sacrários…

Eu quero que cada letra das orações que reze, que ouça rezar, cada palavra que pronuncie ou oiça pronunciar, que leia ou oiça ler, que escreva ou veja escrever, que cante ou oiça cantar, sejam actos de amor para os vossos sacrários…

Eu quero que cada beijinho que vos der nas vossas imagens, nas da vossa e minha querida Mãezinha, nos vossos santos e santas, sejam actos de amor para os vossos sacrários…

Ó Jesus, eu quero que cada gotinha de chuva que cai do céu para a terra, que toda a água que o mundo encerra, oferecida às gotas, todas as areias do mar e tudo o que o mar contém, sejam actos de amor para os vossos sacrários…

Eu vos ofereço as folhas das árvores, todos os frutos que elas possam ter, as florzinhas, oferecidas folhinha a folhinha, todos os grãozinhos de sementes e de cereais que possa haver no mundo e tudo o que contém os jardins, campos, prados e montes, ofereço tudo como actos de amor para os vossos sacrários…

Ó Jesus, eu Vos ofereço as penas das avezinhas, o gorjeio das mesmas, os pelos e vozes de todos os animais, como actos de amor para os vossos sacrários…

Ó Jesus, eu Vos ofereço o dia e a noite, o calor e o frio, o vento, a neve, a lua, o luar, sol, a escuridão, as estrelas do firmamento, o meu dormir, o meu sonhar, como actos de amor para os vossos sacrários…

Ó Jesus, eu vos ofereço tudo o que o mundo encerra, todas as grandezas, riquezas e tesoiros do mundo, tudo o que se passar em mim, tudo quanto tenho costume de oferecer-Vos, tudo quanto se possa imaginar, como actos de amor para os vossos sacrários…

Ó Jesus, aceitai o céu e a terra, tudo, tudo quanto neles se encerra, como este tudo fosse meu e de tudo pudesse dispor e oferecer-Vos, como actos de amor para os vossos sacrários…".

Sendo a Eucaristia que constrói uma comunidade viva e dinâmica, o Sacrário é o coração da mesma, é o ponto de encontro e de descanso, de unidade e de comunhão, de paz e de tensão, de partida e de convergência. Por isso, a restauração dos Lausperenes, a adoração do SS. Sacramento com crianças e jovens, a Bênção do SS. Sacramento, as visitas ao SS Sacramento, a comunhão aos doentes… são também o segredo duma Evangelização séria e eficaz: Jesus Cristo, vivo e presente, sem O qual não teremos a Vida em nós e nada poderemos fazer.

Karl Rahner lembrava que "a Igreja tem necessidade de redescobrir a relação íntima que existe entre a Eucaristia e a vida dos homens, mostrando que a assembleia eucarística se prolonga numa espécie de liturgia da vida quotidiana…".

Ontem como hoje. O Santuário de Fátima continua no seu posto como Altar do Mundo. Multidões aqui chegam, de perto e de longe, com fé e devoção (ou sem elas). Uns, com dores no corpo. Outros, com feridas na alma. Neste lugar ecoa o mistério de Deus e a grandeza dos simples e humildes. Este lugar incute esperança, faz-nos assumir atitudes de vida que libertam e salvam, aponta para a grandeza da vida e o valor da cruz. Proporciona-nos um encontro íntimo com Cristo na riqueza bela do silêncio e da paz.

Aqui, avivamos a nossa fé em Jesus Cristo, pão vivo descido do Céu para a vida do mundo, a entrega mútua, de Cristo á Igreja, da Igreja a Jesus Cristo Seu Senhor, de ambos ao Pai, para louvor da Santíssima Trindade e redenção do mundo.

Aqui, ao olhar para os Pastorinhos, contemplamos a eucaristia "fonte e centro de toda a vida cristã" (LG, 11). Deixamos nascer em nós o gosto da oração contemplativa perante o SS. Sacramento como fonte de santificação, de fecundidade apostólica, de compromisso solidário.

Aqui nasceu e daqui parte o Movimento da Mensagem de Fátima que vive e promove a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima. Mensagem que é eminentemente eucarística desde as aparições do Anjo até hoje. Não desanimem na expansão da Mensagem no que ela tem de central e procurem-no fazer sem sentimentalismos estéreis nem pieguices que afastam. Que as nossas comunidades saibam descobrir na Eucaristia celebrada, vivida e adorada o centro da vida espiritual de cada um, a fonte da vitalidade apostólica, o segredo da união familiar como comunidade de vida e de amor, o crescimento eclesial da comunidade paroquial que vai aprendendo a encontrar na Eucaristia e no Sacrário a meta para onde tudo deve convergir e donde tudo deve partir.

Fazer da Adoração Eucarística uma escola de oração "é um serviço pastoral importante que cada paróquia deve promover como sendo uma prioridade".

Que o Senhor abençoe o vosso trabalho de responsáveis nacionais, diocesanos e paroquiais. Que os sacrários das nossas igrejas sejam o coração das nossos paróquias e da actividade pastoral de cada um de nós.

Igreja da Santíssima Trindade, 18 de Julho de 2009

+Antonino Dias, Bispo de Portalegre-Castelo Branco

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