Pedrógão Grande/2017: «Não há memórias gratas desse drama» – padre Luis Costa

No Dia Nacional em Memória das Vítimas dos Incêndios Florestais, o presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra recorda “as feridas abertas” que permanecem e a generosidade nunca antes vista

PORTUGAL PEDRÓGÃO GRANDE
Foto: Lusa

Coimbra, 17 jun 2020 (Ecclesia) – O presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra, padre Luis Costa, disse à Agência ECCLESIA que “não há memórias gratas do drama” vivido em 2017, em Pedrógão Grande. 

“Não há memórias gratas deste drama, pelo próprio drama que afetou aquelas comunidades e, passado este tempo, há ainda muitas feridas abertas, muitas vezes escondido no rosto das pessoas; depois a dureza da intervenção, houve muito trabalho no terreno e intervenção empenhada e não isenta de sofrimento latente”, referiu.

O sacerdote recorda aquele primeiro o incêndio florestal com origem em Pedrógão Grande a 17 de junho, que se alastrou a vários territórios vizinhos, provocando 66 mortos, e a onda de solidariedade que se lhe seguiu. 

“A Cáritas de Coimbra, passados estes três anos, vê praticamente realizada a campanha a que se comprometeu, com processo de reconstrução e agora a legalização das 16 habitações, apenas em acompanhamento pontual”, afirmou.

Outro motivo que o padre Luis Costa aponta como algo que afetou toda a intervenção da Cáritas e de várias instituições foi o “ruído gerado”.

“O ruído que se instalou em torno de toda a campanha afetou a confiança dos dadores e instituições de apoio. Olhamos com seriedade e empenho, mas sentiu-se esta desconfiança latente e até visível que, de alguma forma, tocou e que também tocou para o futuro”, destaca.

Foto: Lusa

Passados três anos dos acontecimentos que marcaram o país, o presidente da Cáritas Diocesana de Coimbra salienta ainda que “as pessoas visadas encontraram o mínimo essencial para refazer as suas vidas” e considera que a comunidade ganhou estabilidade, agora “com a intervenção e apoio direto das entidades locais”.

“A mobilização e sensibilidade dos portugueses e dos estrangeiros, traduzida na solidariedade e generosidade”, “do melhor que está ao nosso alcance e no nosso sangue”, faz com que o padre Luis considere ser “algo positivo”, porque há “mais medo”.  

“Não mudou assim tanta coisa, há cada vez mais medo mas os receios não resolvem, resolve algumas medidas de prevenção e atitudes comportamentais que podem atenuar uma catástrofe daquele tipo, mas ninguém está devidamente preparado para enfrentar”. 

Outro aspeto que o sacerdote relatou foi a diminuição de apoios no segundo incêndio, em outubro de 2017.

“Em junho houve um sem número de instituições para apoiar e estar no terreno mas, em outubro a única instituição, para além das câmaras municipais, na região Centro, foi a Cáritas de Coimbra, esse é talvez o aspeto mais nebuloso da reflexão a médio/longo prazo”, assume.

SN

Assinala-se hoje o Dia Nacional das Vítimas dos Incêndios Florestais. Uma homenagem às vítimas dos incêndios florestais que ocorreram em Portugal em junho e outubro de 2017, nomeadamente às 114 pessoas que perderam a vida em circunstâncias dramáticas.

Associamo-nos a esta evocação, recordando a intensa ação desenvolvida na ocasião pela Caritas no apoio às populações afetadas.

Na sequência de um processo de lições aprendidas, nos últimos três anos, a Cáritas tem desenvolvido uma reflexão, a nível nacional e diocesano, para melhorar a sua resposta a situações de emergência.

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Agência ECCLESIA

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