Património religioso em risco

1º Congresso Internacional Europa Thesauri lança apelos à Igreja e ao Estado O património religioso, cujo valor é inestimável, está profundamente ameaçado e tem de enfrentar riscos de esquecimento, vandalismo ou degradação. Isso mesmo foi defendido nos trabalhos do I Congresso Internacional “Tesouros da Igreja, Tesouros da Europa”, que hoje se conclui em Beja. Cerca de 300 congressistas, entre os quais alguns dos principais especialistas no estudo e salvaguarda do património, deram vida a uma iniciativa que fez o diagnóstico dos problemas existentes e analisa alternativas para fazer face às situações de abandono, destruição e furto. À Igreja e ao Estado ficam vários apelos no sentido de apostarem fortemente nesta área, que marca a história e a cultura do Velho Continente. Basta lembrar que cerca de 60 por cento do património artístico da Europa são obras de arte e monumentos religiosos, estimando-se que a percentagem atinja os 75 por cento em países como Espanha, Itália e Portugal, segundo estimativas do Conselho da Europa, citadas pelo director do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHADB), José António Falcão. A criação de redes museológicas, como a da Diocese de Beja, a cedência de templos para funcionarem como oficinas de artistas, escolas de teatro e de circo e galerias de exposições, no Reino Unido, ou a criação de depósitos regionais de obras de arte em risco, em França, são exemplos apontados como alternativas ao abandono puro e simples por vários especialistas ouvidos pelo programa ECCLESIA, como Natália Correia Guedes e Bernard Berthod, Consultores da Comissão Pontifícia dos Bens Culturais da Igreja, ou Brian Clark, do Churches Conservation Trust (Reino Unido) Por isso mesmo, estiveram em cima da mesa dos trabalhos, questões como o recurso aos novos fundos comunitários e a criação de parcerias internacionais, a criação de emprego, o apoio ao turismo e a sustentabilidade de micro empresas de serviços, por exemplo na área do restauro. D. António Vitalino, Bispo de Beja, assinalou que a Diocese não poderia esquecer o património histórico-artístico, “algo que documenta a beleza da nossa fé”, sublinhando as parceiras que foram criadas para “inventariar, restaurar e dar a conhecer o nosso património”. A Europae Thesauri, com sede na Catedral de Liége, é uma Organização Não-Governamental que agrupa os principais tesouros e museus de arte sacra da Europa. Fundada em 2005, sob a presidência de honra do Príncipe Lorenz da Bélgica, a associação, que agrupa os principais museus da Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Holanda, Itália, Portugal e Suíça, tem como objectivos a “valorização, qualificação e divulgação do património religioso europeu”. Guy Massin-Le Goff, Presidente de Europae Thesauri, defende que já acabou o tempo em que as pessoas “trabalhavam sozinhas”, dando como exemplo a realização deste Congresso, onde se vão definir os princípios de trabalho para o próximo biénio. Comissão Bilateral D. Manuel Clemente admite que possa não ter passado de “um mal entendido”, mas a verdade é que o Estado ainda não nomeou todos os seus representantes na Comissão Bilateral que trata com a Igreja os problemas do património comum, prevista pela nova Concordata. “Em muitos casos do património religioso classificado, não se pode esperar muito tempo para agir, porque corre-se o perigo de ficar tudo em escombros”, alerta. O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais reconhece as restrições financeiras do Estado, mas lembra que há imóveis a necessitar de intervenções urgentes. “Tudo aquilo que é património religioso classificado está no âmbito da actuação governamental” lembra, pelo que o Estado “se quer ter monumentos nacionais, também tem de ter meios para que eles sejam mesmo monumentos vivos e não sejam apenas lembranças mortas”. O Pe. Nuno Aurélio, Director do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, considera que o espírito de cooperação assumido na nova Concordata se tem concretizado “devagar”, lamentando também o atraso no início dos trabalhos da Comissão Bilateral. “A Igreja não desiste e continuaremos sempre disponíveis para poder, na diversidade das 20 Dioceses portuguesas, promover o diálogo e a cooperação”, assegura. O responsável lamenta, contudo, que o próximo Orçamento faça diminuir a capacidade de acção de muitos organismos públicos “na área do património arquitectónico”. Guilherme Silva, deputado do PSD e vice-presidente da Assembleia da República, assinalou, por seu lado, que é preciso desmontar a ideia de que “o investimento na recuperação do património é um investimento sem retorno”.

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