Pastoral Universitária aberta ao diálogo

Entre as tradicionais bênçãos a caloiros e finalistas, a presença da Igreja no ensino superior procura cada vez mais o encontro com as fronteiras do catolicismo

A Igreja Católica deu esta semana as boas-vindas aos caloiros e restantes alunos das universidades do Porto e de Braga com missas que marcaram o início do ano académico de 2010/11.

A programação da Pastoral Universitária daquelas dioceses para os próximos dois semestres aposta em actividades que convidam à participação de estudantes, docentes e funcionários afastados do catolicismo ou de uma pertença religiosa.

No Porto, assinala-se o início de um ciclo trianual dedicado às “três virtudes teologais”, começando pela “esperança”, prosseguindo com a “fé” e terminando com a “caridade”.

Além de enquadrarem as actividades promovidas por aquele departamento até 2012/13, os temas vão proporcionar a reflexão sobre três documentos papais: “Spe Salvi”, de Bento XVI, “Fides et Ratio”, de João Paulo II, e “Caritas in Veritate”, também do actual Papa.

Semanalmente vão ser promovidos encontros de meia hora em quatro faculdades, “à descoberta de um breve trecho de cada uma das encíclicas, que para o efeito serão dividida em 16 secções – oito por semestre”, explica à Agência ECCLESIA o director da Pastoral Universitária da diocese do Porto, padre António Bacelar.

A presença da Igreja Católica no meio académico portuense recomeçou esta Quarta-feira com uma missa aberta a todos os estudantes e docentes, naquela que foi a primeira das iniciativas de “grande diversidade” previstas para este ano, cuja organização conta com a colaboração de movimentos associados ao anúncio do cristianismo no ensino superior.

“Por semana há pelo menos uma actividade, e por vezes chegam a ser três”, sublinha o sacerdote: por exemplo, a oração mensal inspirada na espiritualidade dos monges da comunidade ecuménica de Taizé, os coros de africanos e do movimento Gen Verde, assim como encontros de um grupo inter-confessional que reúne professores e investigadores de diversas Igrejas.

O departamento diocesano também está envolvido em parcerias: “Palavras Cruzadas” entre o Evangelho e a Universidade, com os Focolares, e ciclos “Eis o Homem”, com a Pastoral da Cultura diocesana e o Centro Regional do Porto da Universidade Católica.

A abrangência de actividades é, contudo, insuficiente: “Por mais esforços que façamos, dada a muita dispersão da população universitária, temos a consciência que é uma gota de água”, afirma o padre António Bacelar.

A implantação da Igreja Católica nos estabelecimentos de ensino superior é, segundo o sacerdote, outras das dificuldades com que o seu departamento se confronta: “Nos últimos anos, por variados motivos, não pudemos prestar a devida atenção à presença nas faculdades. Este ano vamos tentar voltar, embora essa inclusão seja variável e tenha de ser reconstituída anualmente”, refere o responsável, que adverte: “Corremos o risco de não termos uma estrutura suficientemente presente”.

Uma preocupação que não parece consumir o padre Eduardo Duque, coordenador da Pastoral Universitária da arquidiocese de Braga, para quem a ausência de capelanias no ensino superior, exceptuando a da Universidade Católica, não é determinante no anúncio e testemunho do cristianismo.

“Em relação aos tempos antigos, a Pastoral Universitária é hoje relacional e passa muito por dar razões de viver às outras pessoas, dizendo-lhes que é possível encontrar um sentido na vida, no estudo e nas coisas difíceis que têm de aprender”, defende.

“No meu caso, talvez tenha mais possibilidades do que os meus colegas que trabalham na mesma área: como sou professor na Universidade Católica e na Universidade do Minho, consigo estabelecer um contacto mais pessoal com os meus alunos”, assinala o sacerdote, salientando que as suas propostas são feitas no “respeito total pelas convicções religiosas de cada um”.

O encontro com as fronteiras do catolicismo constitui um dos elementos distintivos da principal actividade organizada pela Pastoral Universitária para 2010/11: as primeiras jornadas sobre religião, Igreja e sociedade, que vão decorrer a 19 e 20 de Novembro, no Auditório Vita, em Braga.

“Como é que se tem dito Deus hoje? Eu queria que esta iniciativa fosse um diálogo, não só com os crentes mas também com os não-crentes e os indiferentes”, diz o padre Eduardo Duque.

O programa para 2010/11, que começou com uma missa celebrada esta Terça-feira, propõe também actividades de voluntariado, na expectativa de “chamar um maior número de estudantes que, tendo um bocadinho de tempo livre durante a semana, possam dedicar-se a fazer alguma coisa em prol dos outros”.

Neste sentido, foram assinados protocolos com quatro instituições: Estabelecimento Prisional de Braga, Centro Social Padre David, em Ruilhe (instituição de acolhimento de crianças), Projecto Homem (ligado à toxidependência) e Casa de Saúde de Nogueiró (dedicada ao tratamento de problemas de foro psiquiátrico).

Para o padre Eduardo Duque, “a Pastoral Universitária não é uma coisa no ar. Tem projectos e actividades concretas para as pessoas que a queiram conhecer”.

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