Páscoa: É urgente levar uma «leitura de ressurreição» a um mundo «que tantas vezes se faz de morte»

Defende frei Fernando Ventura

Lisboa, 07 abr 2015 (Ecclesia) – O frei Fernando Ventura destaca a ressurreição como um “sinal maior de esperança” que “não se pode calar” no meio de um mundo “que cada vez mais caminha para a periferia do desespero”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o franciscano capuchinho sublinha a importância dos cristãos, ao contrário do que muitas vezes hoje acontece, estarem nos locais “onde a história tantas vezes se faz de morte” e ajudarem “a que estes sinais exteriores de morte possam ser lidos por uma leitura de ressurreição”, de vida.

“Às vezes custa a perceber na cara dos cristãos o sentido da ressurreição, as eucaristias parecem missas de sétimo dia por alma de Jesus Cristo”, realça o religioso.

Para o frei Fernando Ventura, “é tempo de dar voz à esperança” e de “revistar a pedagogia” do episódio de Emaús, em que Jesus ressuscitado deu alento a dois discípulos que já tinham perdido qualquer entusiasmo.

“Hoje não são só dois que vão a caminho de Emaús, são milhares os que de repente deixam as suas seguranças, perdem as suas seguranças, a capacidade de se bastar a si próprios, porque o emprego desapareceu, porque a família se desmoronou, porque a doença bateu e não há formas de apoio social, de apoio ao nível do básico, às vezes”, sustentou.

Falta hoje quem saiba “tocar no desespero, na intimidade do outro, naquilo que dói”, que crie “empatia”, que escute a “experiência do outro”.

Ao mesmo tempo, “só é capaz de descobrir as pequenas ou grandes ressurreições, os pequenos ou grandes milagres” que acontecem atualmente “quem for capaz de tocar também nos sinais de morte e de estar presente nos sinais de morte”.

O religioso capuchinho dá como exemplo o caso de João, o único discípulo que testemunhou até ao fim a morte de Cristo na cruz.

“Porque foi capaz de estar até ao fim, viu o lençol estendido, o sudário ou a peça de tecido que envolvia a cabeça colocada de lado, porque tocou a morte, foi capaz de entender a vida”, frisou o frei Fernando Ventura, para quem o mundo vive hoje “na cultura do escondimento da morte”.

“A morte é alguma coisa que procuramos afastar do quotidiano e ela entra-nos pela porta dentro todos os dias” e é algo que é preciso “ler, não como um fim em sim mesma” mas sobretudo para perceber e agir sobre “os sinais de sofrimento”.

“As pequenas mortes que nos vão matando, os medos que nos vão matando, com que nos vão querendo matar, é ali que está o nosso espaço de construção da história, da ressurreição, da nossa construção pessoal, enquanto gente com gente”, concretizou.

HM/JCP

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