Parar: o antídoto para a vida frenética

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

“Pára para pensar!” – uma recomendação sábia de todos os tempos, mas não fazia a ideia de que parar pudesse ir muito além de pensar, e ser um verdadeiro antídoto para o mundo acelerado em que vivemos.

Foto de Robbin Pierre em Unsplash

 

De acordo com o psicoterapeuta americano David Kundtz

Parar é nada fazer tanto quanto possível, por um determinado período de tempo (desde um segundo a um mês) com o propósito de nos tornarmos mais despertos e lembrar quem somos.”

No mundo acelerado em que vivemos, cada coisa que aumenta a velocidade dos acontecimentos da nossa vida é uma pedra que vamos amontoando e, num determinado momento da nossa história, esse monte de pedras acaba por se tornar na Montanha do Demasiado. E daí advém a impressão de termos demasiadas coisas para fazer, para atender, prazos a cumprir, de tal modo que o tempo – recurso finito – começa a escassear e a vida não tem o mesmo sabor.

É como se nos movêssemos pela vida sem a experimentar realmente.

”Eu tenho uma vida cheia e muito ocupada e, ocasionalmente, perguntam-me – ‘Scotty, como consegues fazer tudo o que fazes?’ – A resposta mais clara que dou é – ‘Porque gasto, pelo menos, duas horas por dia a não fazer nada.” (M. Scott Peck, psiquiatra americano, 1936-2005)

Parar, nada fazendo, acaba por ser algo muito importante porque deixamos que a vida aconteça, levando a estarmos mais atentos a cada momento que vivemos, em vez de tudo nos passar ao lado. É viver o tempo de ser, sem o restringir ao que temos para fazer.

”É bom ter uma meta para a qual caminhamos, mas o caminho é a meta.” (Ursula LeGuin, escritora)

Podemos ter a sensação de que parar é uma perda de tempo, mas não será o contrário? Quando tudo acontece à velocidade da rede, parar, nem que seja por um minuto apenas, pode tornar-se no tempo mais significativo da nossa vida.

O problema da aceleração a 4G que em breve passará a 5G, é o de sobrevoar sobre tudo, sem parar sobre nada. Logo, aumenta a tendência para a superficialidade, ou seja, deixarmos de pensar nas coisas profundas que trazem significado e valor à nossa vida para dar lugar ao pensamento-do-momento, aquele que produz uma gratificação instantânea através de um Like, ou emoji. Sinais – penso – de uma reacção que se traduz numa mensagem superficial onde as palavras perdem gradualmente o seu valor.

Parar é dar espaço para viver o tempo. O tempo que temos no momento presente. Tempo para a memória, a consciência e a contemplação.

Lembro-me de em jovem passar muito tempo em adoração ao Santíssimo. Nada fazia senão gozar da simples presença silenciosa de Deus comigo. Não tenho dúvidas da importância daqueles momentos em que confiava a minha interioridade a Deus. Quantas emoções se resolviam, ou preocupações se desvaneciam.

”Não tenho vagar para isso!” – mas não é devagar que se vai ao longe? Quando paramos, desaceleramos e começamos a notar os pequenos e importantes detalhes que podem fazer toda a diferença na nossa vida. Enquanto a lentidão permite lembrar, a velocidade leva a esquecer.

Foto de Josh Calabrese em Unsplash

Parar é um acto de contemplação contemporâneo porque nos prepara para acolher a Vontade de Deus no momento presente que se arrisca a passar ao lado quando aceleramos.

”O todo da vida reside no verbo ver.” (P. Teilhard de Chardin SJ)

Quando paramos, notamos melhor os detalhes da nossa vida, mas também começamos a dar mais valor ao espaços vazios que antes pareciam invisíveis diante da massa imensa de coisas que temos para fazer.

”Lido com as notas como muitos pianistas. Mas as pausas entre as notas – ah, é aí que reside a arte!” (Artur Schnabel, pianista)

Parar é começar a ver os espaços entre as notas e transformá-los em momentos de memória e maior tomada de consciência daquilo que pode mudar a nossa vida para a vivermos realmente.

Não é preciso muito para começar a experimentar mais e melhor a vida. Basta parar durante um minuto. Experimenta!

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