Papa com sacerdotes e consagrados – significado de um encontro

Pe. Manuel Barbosa, presidente da Confederação dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP)

No próximo dia 12 de Maio em Fátima, o Papa vai estar com sacerdotes, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas. Sendo habitual aquando das suas visitas pastorais, este encontro adquire uma importância acrescida, por ser a primeira vez que o Papa Bento Bento XVI visita Portugal e por se realizar em plena celebração do Ano Sacerdotal. Espera-se que o Santo Padre venha confirmar na fé, na esperança e na caridade aqueles que, nestas “terras de Santa Maria”, optaram por seguir Jesus Cristo em especial forma de consagração.

O encontro terá ainda sentido pela comunhão eclesial da Igreja universal com as Igrejas particulares, ao serviço das quais os sacerdotes exercem o seu ministério e nas quais se inserem carismaticamente os consagrados. Nas legítimas expressões plurais, aponta-se sempre para a unidade essencial da Igreja gerada no único Espírito de Cristo.

O encontro valerá também pela reafirmação dos princípios doutrinais da fé e pelo apelo aos sacerdotes e consagrados a viverem os seus ministérios e carismas em criativa fidelidade a Cristo e profeticamente empenhados na missão a que são chamados.

Esta vespertina presença orante do Papa só pode provocar a renovação dos grandes dinamismos pastorais da Igreja a que nos apelava João Paulo II para o terceiro milénio: a santidade, a comunhão, a missão.

O que o Papa nos dirá certamente nos pode surpreender em muito e nos deve interpelar de modo qualitativamente novo. Espero que diga coisas essenciais aos sacerdotes, como tem feito desde a proclamação deste Ano Sacerdotal, inspirado pelo exemplo do Santo Cura d’Ars: viver o sacerdócio no amor do Coração de Jesus; manter a fidelidade corajosa à sua vocação de “amigos de Cristo”; centrar a sua espiritualidade na Eucaristia celebrada e adorada, na Reconciliação, na Palavra escutada, meditada e vivida; ansiar no seu ministério pela identificação entre Pessoa e Missão em Jesus; evidenciar espaços de colaboração com os fiéis leigos; sentir a urgência do anúncio e testemunho da verdade do Amor; distinguir-se, na sua vida e acção, pelo vigoroso testemunho evangélico; viver os conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência segundo modalidades apropriadas à condição de presbítero; saber acolher a nova primavera que o Espírito está hoje a suscitar na Igreja através dos movimentos eclesiais e novas comunidades; viver a comunhão entre o seu ministério ordenado e os carismas como impulso para um renovado compromisso da Igreja no anúncio e no testemunho do Evangelho da esperança e da caridade em todo o mundo; enfim, viver como “pastores segundo o coração de Deus”.

Isso tudo nos disse Bento XVI na carta de anúncio do Ano Sacerdotal, em que não deixa de recordar que “infelizmente existem também situações, nunca suficientemente deploradas, em que é a própria Igreja a sofrer pela infidelidade de alguns dos seus ministros. Daí advém então para o mundo motivo de escândalo e de repulsa. O máximo que a Igreja pode aproveitar de tais casos não é tanto a acintosa relevação das fraquezas dos seus ministros, como sobretudo uma renovada e consoladora consciência da grandeza do dom de Deus, concretizado em figuras esplêndidas de generosos pastores, de religiosos inflamados de amor por Deus e pelas almas, de directores espirituais esclarecidos e pacientes”.

E termina o seu apelo convidando a olhar o futuro com a confiança da fé no divino Mestre: “Amados sacerdotes, Cristo conta convosco. A exemplo do Santo Cura d’Ars, deixai-vos conquistar por Ele e sereis também vós, no mundo actual, mensageiros de esperança, de reconciliação, de paz”.

No mesmo espírito, a 2 de Fevereiro deste ano, o Papa “eleva ao Senhor um hino de agradecimento e de louvor pela própria vida consagrada. Se ela não existisse, como seria mais pobre o mundo! Deixando de lado as avaliações superficiais de funcionalismo, a vida consagrada é importante precisamente pelo seu ser superabundância de gratuidade e de amor, o que se torna ainda mais verdadeiro num mundo que corre o risco de ficar sufocado na vertigem do efémero. A vida consagrada, ao contrário, testemunha a superabundância do amor que estimula a ‘perder’ a própria vida, como resposta à superabundância de amor do Senhor, que foi o primeiro a ‘perder’ a sua vida por nós”.

São apenas alguns ditos, que julgo fundamentais, do Santo Padre aos sacerdotes e consagrados. Estou certo que nos dirá “algo de novo” a 12 de Maio. Mas mais importante do que aquilo que nos possa dizer de modo repetido ou inovador, é essencial que provoque em todos nós renovados dinamismos de santidade, comunhão e missão.

Só assim seremos fecundos na renovação da Igreja que somos e construímos! Só assim seremos mensageiros da esperança e da alegria, da paz e da reconciliação!

Que o Papa nos recorde as razões da fé e da esperança, e nos fale ao coração, convidando-nos a viver segundo o coração de Deus!

Manuel Barbosa, scj

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