Os telefones causam dependência e tristeza

José Luís Nunes Martins

As consequências desta dependência são enormes. Não há pedaço nem recanto da nossa vida onde o telefone não esteja presente e não seja tido como algo de valioso.

As tecnologias da comunicação abrem portas, mas fecham muitas outras, algumas delas essenciais.

Importa que aprendamos a manejar esta arma com sabedoria, a fim de que não sejamos vítimas da nossa ingenuidade.

Chega a parecer que perdemos a capacidade de estar sozinhos, em silêncio, apenas a pensar… a lembrar ou a sonhar… Como se nos tivessem roubado o aqui e o agora. Precisamos de um auxílio que nos ajude a passar o tempo, como se o tempo fosse uma coisa má que importa combater. Como se o nosso eu fosse desagradável e precisássemos de uma distração que nos mantivesse longe dele. Uma espécie de tirano disfarçado de melhor amigo!

De tempos a tempos, vale a pena parar. Retirarmo-nos, pensarmos com paz no que queremos para nós mesmos, em quais têm sido as raízes das nossas escolhas e em quanto do que existe de adverso na nossa vida pode ser melhorado. Nisto, nem o topo de gama da tecnologia nos pode ajudar. Não há página da Internet nem aplicação que nos possa valer… Mas o botão onde se desliga o aparelho pode ajudar!

As tecnologias podem dar-nos todas as informações, mas não determinam a forma como as devemos interpretar e valorizar. A nossa existência é uma resposta ao que sucede à nossa volta, não uma mera consequência das nossas circunstâncias. Aprender a sentir, pensar, agir e reagir é essencial se queremos ser felizes e viver os nossos dias cada vez melhor.

Ninguém nos conhece melhor do que nós mesmos, ninguém nos pode ajudar tanto como nós próprios, só precisamos de oportunidades e de alguma prática! Cada um de nós tem um mundo dentro de si, montanhas, mares, desertos, selvas, planícies, praias… e tudo o mais. Vale a pena viajar por lá. A pé e de helicóptero. Dando tanta atenção às flores mais pequenas como aos horizontes mais largos. Conhecendo-nos. Criando-nos partindo do que já somos.

Quantas conclusões falta retirar das lições que a nossa vida já nos deu?

Os telefones e os computadores não servem para nada disto. Dão-nos apenas novidades, mas quantas dessas notícias são mesmo importantes?

A sede urgente por informações atualizadas é sinal de que estamos atentos ao mundo distante e aos outros ou… a fugir de nós mesmos e daqueles que nos estão próximo?

Sabemos o que os outros andam a fazer. E isso é o que nós fazemos!

O mais importante não é estarmos sempre em alerta máximo, mas conseguirmos viver de forma calma e em paz.

Vendem-nos esperanças de perfeição e nós acreditamos mesmo que a felicidade está a três ou quatro cliques de distância, só têm de ser os certos… a angustiamo-nos porque nunca acertamos. Serão necessários imensos fracassos até que alguns percebam que a verdadeira alegria não brota de nenhum ecrã, por melhor que ele seja.

Parece mais fácil confessarmo-nos por trás de um teclado, mas porque será que nessas alturas não sentimos falta do olhar e da presença do outro? Será que nos tornámos incapazes de ser humanos? Ou deixámos de acreditar no amor dos outros?

O amor é muito mais do que o visível. Mais do que palavras ou imagens, é invisível e potente como o vento, que nada diz nem se deixa ver. Apenas sentir. Quando estamos presentes.

Há quem passe os dias a tirar fotografias a si mesmo. Porquê e para quê? O que significa esta vontade de a-parecer? Será fome de amor? Do verdadeiro ou só do aparente?

Os telefones são muito obedientes, mas estão sempre a seduzir-nos. Prometem trazer-nos o universo inteiro, mas, na verdade, roubam-nos o tempo e a atenção de que precisamos para viver o mundo que está à nossa volta. São inteligentes, mas não devemos nós ser mais inteligentes do que eles?

São cada vez mais os que passam o tempo de cabeça em baixo, não estão a admirar a profundidade da vida, mas a olhar para um aparelho que nunca vai mais fundo do que a superfície da realidade.

Aproveitemos cada dia, porque cada dia é uma vida!

 

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Agência ECCLESIA

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