Os sofrimentos da etnia cigana

Os ciganos são “esquecidos e incómodos porque não dão dividendos políticos” – denuncia Francisco Monteiro. Os ciganos portugueses “sofrem muito”. Perante esta situação, Francisco Monteiro, director executivo da Obra Nacional da Pastoral dos Ciganos (ONPC) apela a medidas concretas para que se “resolvam os problemas urgentes” da etnia cigana. Depois da apresentação pública do Relatório das audições efectuadas sobre portugueses ciganos no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, este responsável disse à Agência ECCLESIA que este sofrimento tem origem nos factores básicos da exclusão dos ciganos: “habitação, educação e emprego”. Desde há 500 anos que os ciganos “são vítimas de discriminação” – denunciou. Socorrendo-se do relatório apresentado na Assembleia da República, Francisco Monteiro realça que as “feiras estão a acabar e são o «pão-nosso» dos ciganos”. E exemplifica: “A Câmara de Almada está a acabar progressivamente com a feira diária”. Neste quadro sombrio, o director-executivo da ONPC cita o exemplo da escola de Barqueiros que lecciona aulas separadas para ciganos. “É totalmente contra a constituição e a própria política do Ministério da Educação”. Se o Ministério abriu um parêntese para a Direcção Regional da Educação do Norte (DREN), “nós não sabemos, mas na prática parece isso mesmo” – afirma Francisco Monteiro. E adianta: “o estarem separados é discriminação”. Os próprios pais dos alunos ciganos da referida escola sublinharam que “os filhos sentiam-se mal porque estavam isolados”. Estes casos são frequentes. “Há ciganos que são colocados no fundo da sala e têm recreios separados dos restantes alunos” – desabafou. Acontecem casos também em que “não há lugares para os ciganos no pré-escolar” e “para os outros há” – lamentou Francisco Monteiro. Estes acontecimentos passam-se num país “que se diz multicultural”. Com cerca de 50 mil ciganos a viverem em Portugal, o director-executivo da ONPC sublinha que a Comunicação Social não lhes dá a devida atenção, visto que, muitas vezes, “são esquecidos e incómodas porque não dão dividendos políticos”. Mergulhados neste mundo discriminatório, os ciganos “revoltam-se e, ás vezes, criam problemas”. No mundo laboral, as dificuldades também são frequentes. “Quando o empregador descobre que é cigano manda-o embora” – disse. Também existem “casos positivos”, mas “nós preocupamo-nos é com os casos negativos”. E esclarece: “há iniciativas que não «colam» nos ciganos” porque “são pensados de cima para baixo e não o inverso”. Ao olhar para a vizinha Espanha, este responsável salienta que “aí os ciganos têm peso” porque “são cerca de 600 mil”. Para alterar o panorama, Francisco Monteiro apela “á consciência das autoridades públicas”. “É preciso ter a coragem para começar”. Os ciganos estão “disponíveis”. Nas questões do realojamento, Francisco Monteiro frisa que este “deve ser acompanhado antes, durante e depois”. Existem casos de “pleno sucesso” porque “ninguém gosta de estar numa barraca à chuva e ao vento”. A Assembleia da República publicou uma lei sobre os mediadores socioculturais – “são a chave da solução da educação dos ciganos” -, mas a lei “está no tinteiro porque o Ministério da Educação não quer resolver o problema da carreira dos ciganos”. E exemplifica: “há dezenas de mediadores socioculturais ciganos que estão no desemprego”. Sobre o relatório, apresentado ontem (17 de Março), Francisco Monteiro refere que “todos estamos à espera que ele se perpetue”. E finaliza: “não temos esperança nenhuma”.

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