ONU: Vaticano frisa falhanço da estratégia internacional de combate à fome

«Lamentavelmente continuamos a constatar um aumento do número de pessoas subnutridas em todo o mundo», disse hoje um representante da Santa Sé 

Cidade do Vaticano, 26 jun 2019 (Ecclesia) – O Vaticano sublinhou hoje o falhanço da estratégia internacional de combate à Fome, durante uma sessão em Roma da FAO – Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura.

O alerta foi deixado pelo observador permanente da Santa Sé junto das organizações e organismos das Nações Unidas, para a Alimentação e Agricultura, o padre espanhol Fernando Arellano, durante uma sessão da FAO na capital italiana, subordinada ao tema ‘Migrações, Agricultura e Desenvolvimento Rural’.

“Quando faltam cerca de 10 anos para a data limite estabelecida pela Agenda 2030 e os seus objetivos, através dos quais a comunidade internacional se comprometeu a criar um mundo livre da fome, e depois de alguns anos de dados encorajadores, lamentavelmente, continuamos a constatar um aumento do número de pessoas subnutridas em todo o mundo”, apontou aquele responsável.

De acordo com o representante da Santa Sé, “trata-se de uma situação dramática e escandalosa, diante da qual ninguém pode ficar insensível ou indiferente”.

“Precisamos de deixar de lado a retórica e passar à implementação de medidas urgentes, coordenadas e precisas”, prosseguiu o padre Fernando Arellano, que depois deixou a visão que o Vaticano defende e que tem no centro a aposta na agricultura como forma de fazer chegar a todos os recursos alimentares de que necessitam.

“Diante das questões relacionadas com o ciclo vicioso da fome, da migração e da pobreza não podemos, de todo, ignorar a centralidade da agricultura”, que “desenpenha um papel fundamental na dinâmica do desenvolvimento sustentável de um país”, frisou o observador permanente da Santa Sé junto da FAO, que considerou “imprescindível investir numa agricultura sustentável”.

Neste ponto, o padre Fernando Arellano elogiou o esforço daquele organismo das Nações Unidas em “promover a transformação das zonas rurais”, com a “criação de infraestruturas adequadas” e a aposta na “tecnologia e na inovação”, para que estes territórios possam crescer e ao mesmo tempo afirmar-se como catalizadores de desenvolvimento nos seus respetivos países.

Aquele responsável destacou depois a importância deste género de projetos para a resolução da atual crise migratória, já que grande parte das pessoas que estão a bater à porta da Europa estão a fugir não só à guerra mas também à fome e à pobreza.

No entanto, e “é imporante ter isto muito em conta”, acrescentou o representante da Santa Sé, não podemos “pensar no desenvolvimento simplesmente como uma ferramenta útil para diminuir a migração”, mas sim como “um direito inegável de cada ser humano”.

O padre Fernando Arellano lembrou aqui a situação dramática de “muitos migrantes, que estão a ser vítimas de contratação ilegal e a quem são negados os direitos mais básicos e fundamentais”, por exemplo no setor das pescas.

“Uma panorama atroz e lacerante que, por desgraça, afeta em particular os mais jovens provenientes das áreas mais pobres do mundo e que tem alastrado a outras zonas do planeta, devido às necessidades ditadas pela indústria pesqueira”, salientou.

Aquele representante da Santa Sé manifestou também a preocupação do Vaticano com as pessoas que vivem “deslocadas nos seus próprios países e que na realidade constituem a maioria dos migrantes em termos numéricos”, no mundo.

Muitas delas saem “das zonas rurais para as áreas urbanas”, sem terem “a preparação ou as habilitações profissionais necessárias” e assim “veem-se atiradas para o mesmo círculo vicioso da pobreza”, recordou o padre Fernando Arellano, para quem é crucial encontrar uma solução para estes casos, em que estão em causa também sobretudo mais jovens.

Uma força de trabalho, de dinamismo e de vitalidade que poderia e devia ser aproveitada no “desenvolvimento rural”, completou.

Sobre esta questão, e numa mensagem recente endereçada à FAO, o Papa Francisco frisou a importância de dar oportunidade aos jovens para se afirmarem como “agentes de mudança e desenvolvimento das suas comunidades, a partir de uma visão de ecologia integral”.

“A crise alimentar nos países menos desenvolvidos e a grave crise económica e financeira em países desenvolvidos têm impulsionado, em diversos lugares, um esforço renovado para fazer da agricultura não só uma ferramenta para o emprego mas também para o desenvolvimento do indivíduo e da comunidade”, realçou ainda o Papa argentino.

O representante da Santa Sé junto da FAO considerou essencial dar condições aos jovens para a implementação de projetos de desenvolvimento agrícola nas zonas ruais, “facilitando o acesso à terra, salvaguardando os direitos de propriedade e de segurança, bem como o acesso ao crédito e aos mercados locais”.

Na sua intervenção, o padre Fernando Arellano alertou ainda para o contexto dos “jovens pertencentes às comunidades indígenas” que “com frequência se veem obrigados a abandonar as suas terras”.

“Uma triste realidade que os leva a viver desarraigados das suas origens”, concluiu.

JCP

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