Na rota de Santiago

Agência ECCLESIA acompanha grupo de peregrinos num dos percursos mais importantes para o Cristianismo na Europa O dia amanheceu encoberto. Diz quem sabe que é melhor para caminhar e assim cedo se começou. O grupo deixou para trás o albergue de Valença, da responsabilidade dos escuteiros. É um edifício novo nas imediações da fortaleza da cidade fronteiriça. Os albergues portugueses têm a norma de camaratas separadas para homens e mulheres, situação que não se passa em Espanha, onde as camaratas são conjuntas. Os peregrinos deixaram Valença com um percurso de 18 quilómetros previstos para esse dia, até Porriño. A etapa é quase sempre plana. Os primeiros 10 quilómetros são por estradas secundárias ou caminhos, onde existe muita vegetação que ajuda a suportar o calor. Em Tuy encontra-se a primeira concha do percurso português em terras espanholas, marcando 115,454 quilómetros até à Catedral de Santiago. Antigamente o percurso era feito de barco até este local. A partir daqui, é seguir a direcção das conchas ou das setas amarelas. Apesar da atenção, alguns percalços pelo caminho ainda vão surgir. Nada que os peregrinos não estejam habituados. Em Tuy encontra-se também a Catedral, antiga sede da diocese, que presentemente é Vigo. A Catedral é um ponto obrigatório na passagem dos peregrinos. Ali carimba-se a caderneta, que permite alojamento nos albergues, repousa-se, tiram-se fotografias na escadaria, mas também se entra para rezar. À espera dos peregrinos está José Ramón Fernandez. Ali trabalha desde o início do ano, mas há uma década que trabalha nos caminhos de Santiago. Apesar disso, ainda não fez o caminho. “Só o faria por motivos religiosos”, admite, mas ainda não se proporcionou. É impossível contabilizar quantos peregrinos entram na Catedral. “Há dias que entram 40 outros dias é menos, nunca é certo”, explica José Ramón Fernandez. As identidades são mais fáceis de identificar. “Muitos portugueses, mas também franceses, alemães, dos balcãs e ingleses”. Orientações para o caminho e mapas são os requisitos mais frequentes, logo a seguir aos carimbos. Seguindo viagem sai-se de Tuy e entra-se pela natureza adentro. Os peregrinos vão percorrendo caminhos que vão conhecendo a mão do homem, mas onde a natureza ainda se impõe. Pelo cheiro das flores, pelo cheiro do campo, pelos traços das fontes antigas que vão sendo conservadas e servem de marca para ano futuro. Apesar disso, é frequente ouvir falar do desvio que se fez por causa de “alguma estrada nova” ou mesmo “olha, lembro-me de passar aqui”. Os trilhos vão-se abrindo pelos campos de milho marcados por tantas passadas humanas, rodas de bicicleta ou patas dos cavalos. A Compostela é um documento religioso que a Catedral emite como prova do cumprimento da peregrinação. Só é entregue a quem faz o percurso a pé, de bicicleta ou a cavalo. As conchas que se encontram pelo caminho vão informando da direcção, mas também do número de quilómetros a diminuir, inversamente ao conhecimento dos peregrinos que começa a aumentar. Trocam-se experiências de diferentes grupos e movimentos eclesiais. 111 499 quilómetros……105 000 quilómetros. Dentro da floresta o percurso leva-nos à Ponte das Febres. É uma pequena ponte de um só arco de velhas pedras que passa sobre o rio São Simão, um afluente do rio Louro. Neste lugar, São Telmo, patrono de Tuy, peregrinando a Santiago ficou doente com um súbito acesso de febre. Teve que regressar a Tuy, onde viria a morrer. Há uma estela onde se pode ler “Aqui adoeceu mortalmente São Telmo em Abril de 1251. Pede-lhe que fale com Deus a teu favor”. O caminho quase nos leva para dentro das casas que ficam no percurso. Num largo rodeado de casas encontra-se uma tienda. Um pequeno café – um lugar ideal para retemperar forças e beber água, antes da etapa final do dia que se vai estender ao longo de três quilómetros pela zona industrial do Porriño. Diz quem repete a experiência que “este trajecto sob um sol tórrido é terrível”. Imagina-se que sim, porque o trajecto segue pela estrada principal e só atenua a intensidade do asfalto quando no final do percurso se sobe uma ponte para transpor o caminho de ferro. O Porriño encontra-se ao fundo da rua e com ele, chega o albergue e o descanso.

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