Museus: «Recursos digitais ajudam mas só perante a obra de arte se consegue senti-la» – Fátima Eusébio (c/vídeo)

Responsável pelo departamento de Bens Culturais, da diocese de Viseu, e diretor artístico do Museu de Arte-Sacra, da diocese do Funchal, estiveram na «Conversa na Ecclesia»

Lisboa, 29 mai 2020 (Ecclesia) – Os Museus de Arte-sacra, ligados à Igreja católica, querem ser uma mais-valia no processo de desconfinamento e chamar até si “novos públicos” como forma de procurar financiamento e concretizar missão pastoral própria do património.

Fátima Eusébio, coordenadora do departamento de Bens Culturais da diocese de Viseu, explica que o digital foi um parceiro em tempo de confinamento mas importa enquadrar este campo, convidando cada pessoa a uma visita presencial.

“O confinamento exigiu o encerramento das portas dos museus, mas eu costumo dizer que quando faço uma visita a uma catedral ou museu, nunca nada foi executado para enfeitar ou decorar, tudo numa igreja fala de Deus e tudo foi feito para nos aproximar de Deus. O virtual deve servir para as pessoas terem, depois, vontade de visitar os espaços, porque só perante a obra de arte se consegue senti-la”, explica à Agência ECCLESIA.

O Museu Tesouro da Sé desencadeou, no dia 8 de abril, uma exposição virtual, denominada «Diário de grandes viagens na escuta da beleza», e a cada dia foi sendo apresentada uma peça de arte, da diocese de Viseu, e associada a cada peça “uma citação bíblica acompanhada por uma citação do Papa Francisco”; em maio, esta apresentação tem estado mais voltada para Nossa Senhora.

Também o Museu de Arte-Sacra da diocese do Funchal (MASF) encontrou no meio digital a forma de se aproximar das comunidades madeirenses, e também da diáspora, através da iniciativa «Tenho uma peça de museu – narrativas da religiosidade doméstica».

“Foi um pouco provocativa, porque a exposição não tinha como objetivo procurar valores artísticos excepcionais, mas promover a aproximação dos públicos a partilhar connosco, sem receio de deterem uma peça barroca ou quinhentista, as imagens que mostram a tradição, afecto e fazem parte da história dos madeirenses”, indica Martinho Mendes, responsável pelo serviço educativo e coordenador da programação artística do MASF.

Os responsáveis assumem a dificuldade de envolver as comunidades nos projetos e exposições e o digital foi, aqui, uma ajuda na comunicação e proximidade: “Eu procuro dizer às paróquias – tragam os vossos meninos, mas tragam também os pais dos meninos. Percebemos que as crianças vêm ao museu e os pais nunca vieram. Trata-se de procurar fidelizar público”, indica Fátima Eusébio.

Com a reabertura dos espaços no passado dia 18, as normas indicadas para as visitas em segurança foram seguidas, mas, o departamento dos bens culturais admite maior preocupação com o património nas igrejas, consequência da devoção das pessoas que necessitam, por exemplo, de “tocar no pé do Senhor dos Passos”.

“Na vontade de fazer bem, as comunidades recorrem a produtos que não são adequados para o espaço, porque são nocivos para o património e também para a nossa saúde”, indica Fátima Eusébio.

A diocese de Viseu elaborou um conjunto de recomendações dirigidas aos responsáveis das igrejas para a limpeza dos espaços sem colocar em perigo o património.

No Funchal, os poucos visitantes que o MASF recebeu puderam perceber a colocação de barreiras de acrílico, entradas e saídas mais visíveis, e uma limpeza mais regular.

“Penso que não nos causará ameaças à conservação do património porque faz parte de um comportamento a um museu os visitantes não tocarem nas obras de arte”, indica Martinho Mendes.

O tempo de confinamento não limitou o trabalho “escondido” que os responsáveis continuam a fazer, nomeadamente de inventariação e investigação, com vista a novos projetos, parcerias e exposições.

Martinho Mendes adverte que o MASF precisa de “públicos pagantes” para manter a programação e concretizar a missão da arte-sacra: dialogar “sem tempo” e, simultaneamente, cumprir uma função pastoral que “tem em si vincada”.

“A visita acontece com um interesse histórico e artístico, mas o visitante seja crente ou não crente, deve perceber que aquelas peças têm uma história e devem ser lidas numa relação que nos leva a Deus”, acrescenta Fátima Eusébio.

A optimização dos espaços ao ar livre do Museu Tesouro de Viseu, com o claustro e o passeio dos Cónegos, vão permitir continuar “a sonhar com projetos e parcerias” respeitando o distanciamento de segurança e o MASF prepara para o dia 18 de outubro, Dia Nacional dos Bens culturais da Igreja, “um preâmbulo” de algumas iniciativas que querem reforçar a “ligação entre a Igreja e a ecologia”.

“Interessa-nos perceber de que forma, uma diocese dentro da sua história regional, pode trabalhar este tema que é premente, e, a partir do seu património artístico, ativar esta preocupação atual”, explica Martinho Mendes.

LS

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