Mora: «Experiência pastoral nas paróquias com Covid tem sido muito pesada» – Padre Nelson Fernandes

Sacerdote, atualmente em isolamento, acompanha as comunidades por telefone e online

Foto: Lusa

Mora, 27 jan 2021 (Ecclesia) – O pároco de Cabeção, Mora e Pavia, na Arquidiocese de Évora, acompanha atualmente as suas comunidades pelos meios digitais e telefone, encontrando-se em isolamento profilático, admitindo que a “experiência pastoral nas paróquias com Covid tem sido muito pesada”.

“Desde funerais, desde tantas pessoas com Covid, muitas pessoas que estão isoladas, as que estão infetadas, e mexe muito com as emoções, mas também nos ajuda a amadurecer”, disse o padre Nelson Fernandes em declarações à Agência ECCLESIA.

O pároco de Cabeção, Mora e Pavia, que é também o capelão das Santas Casas da Misericórdia destas comunidades, na Arquidiocese de Évora, afirma que “têm sido tempos muito marcantes”.

“Marcou-me muito sepultar três irmãs, no espaço de três semanas”, ou sepultar um casal também em pouco espaço de tempo, pensando na “dor dos filhos”, “o luto nesta família acaba por ser aterrador, é uma realidade avassaladora”.

Segundo o sacerdote, desde novembro de 2020, “já são 38 óbitos de Covid-19”, um número elevado para um concelho como Mora, “com pouco mais de 5 mil habitantes”, onde “faleceram cerca de 130 pessoas no ano 2020”.

“Até comentou com o presidente da câmara se isto continuar, daqui a 20 anos onde vamos parar?”, acrescenta.

O padre Nelson Fernandes conta que nos funerais olha “para o rosto da família” e pensa na “oportunidade do abraço da despedida, que para alguns existiu, para uns ficou uma última imagem, e para outros ficou apenas a dor agravada pelo facto de não se poderem despedir e verem os restos mortais e dar uma despedida humana e digna, que marca muito as pessoas”.

“É uma dor tremenda, alguns dizem: ‘sei lá se o meu pai vinha no caixão’. Penso na pessoa, no sofrimento, e depois na família que tem acompanhado, por isso, têm sido momentos muito difíceis”, acrescenta.

O sacerdote que escreveu o artigo ‘a morte é o florescer para a vida eterna’, publicado pela Arquidiocese de Évora, revela que procura “ter uma relação muito próxima com as pessoas” e exemplifica que sobretudo nos lares, até chegar a pandemia, “celebrava semanalmente ou quinzenalmente, conhecia todas as pessoas” e dá “graças ao Senhor pelo dom que foi tê-las”.

 A importância da fé assume um papel único e essencial, não responde a todas as perguntas, mas vai iluminar todos os caminhos. É difícil falar da morte dos outros, mete sentimento, mete a dor, o sentido da perda neste mundo. Custa falar neste sentido geral da morte quando temos diante de nós histórias concretas, pessoas com nome e com quem de certo modo nos cruzamos”.

A Conferência Episcopal Portuguesa anunciou a suspensão das celebrações públicas da Missa, em Portugal continental, no contexto do novo confinamento por causa da pandemia Covid-19.

O padre Nelson Fernandes, que também é professor de Educação Moral e Religiosa Católica, acompanha a comunidade e os grupos pelo telefone e encontros online.

“Recebi o resultado do teste e está negativo. Celebro sozinho, mas assim que puder celebraremos com quatro pessoas do coro e dois acólitos”, adiantou à Agência ECCLESIA.

O pároco de Cabeção, Mora e Pavia, e que acompanha também a comunidade de Malarranha, refere que “todos os dias” partilha online “uma pequena reflexão”, e depois estão divididos em grupos, como o Apostolado de Oração, os grupos de jovens e os escuteiros, onde fazem a “formação, o acompanhamento espiritual, e a oração de modo virtual.

“Procuro estar disponível telefonando para aqueles que sei que estão infetados, sobretudo que são membros da comunidade, procuro acompanhar também os idosos que ia levar a comunhão a casa e outros que entrei em contacto desde o primeiro confinamento”, desenvolve, observando que “a marca de estar à disposição é certa” tanto do padre Nelson Fernandes como dos jovens que ainda mantém contacto com “idosos e pessoas mais sós”.

O sacerdote, que ainda vai estar mais uma semana em confinamento, destaca que “os padres têm uma vida pastoral muito ativa” e esta experiência “ajuda a parar, a aprofundar a parte da oração, ler mais textos espirituais, pesquisar mais, entrar mais em contacto com as pessoas”.

CB/OC

 

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