Moçambique: «Imagens de destruição» na comunicação social são insuficientes para perceber «grau de devastação», diz português no país

Coordenador dos projetos da Fundação portuguesa Fé e Cooperação em Moçambique fala em «severas consequências» na agricultura

Foto Arquidiocese da Beira

Niassa, Moçambique, 19 mar 2019 (Ecclesia) – Tiago Coucelo, coordenador dos projetos da Fundação portuguesa Fé e Cooperação (FEC) em Moçambique, afirmou hoje que as “imagens de destruição” passadas pelos meios de comunicação “não conseguem descrever o grau de devastação” que viu na cidade da Beira.

“Ao sobrevoar a cidade e arredores, todos os campos de cultivo estão alagados e cobertos de matope (lama) o que vai trazer severas consequências para a segurança alimentar das populações”, referiu à Agência ECCLESIA, após a escala rumo a Lichinga que fez esta manhã na Beira.

Tiago Coucelo revela que edifícios públicos, armazéns e casas de habitação “apresentam todas severas fissuras” e telhados arrancados, mesmo o aeroporto “tem diversas estruturas danificadas”.

A passagem do ciclone Idai deixou cenário de destruição na cidade da Beira, a quarta maior cidade de Moçambique, na quinta-feira à noite.

O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, admitiu que o ciclone possa ter provocado mais de mil mortes em Moçambique, estando confirmados atualmente 84 falecimentos.

Adiantado que não teve “oportunidade de falar com ninguém” na Beira e as comunicações com as zonas afetadas “são irregulares ou mesmo nulas”, o coordenador dos projetos da organização católica para o desenvolvimento (ONGD) em Moçambique conta que se “sente uma onda solidária em todo o país”.

Foto Arquidiocese de Beira

“Em todas as províncias que estive (Maputo e Niassa) estão a organizar-se campanhas de recolhas de bens de primeira necessidade e a ser organizados meios de transporte para os fazer chegar às zonas afetadas”, acrescenta, frisando que “Moçambique está a mobilizar-se”.

Nesta fase imediata, assinala o entrevistado, os bens mais necessários estão relacionados com “alimentação, água, roupa, medicamentos, artigos de higiene” e outros bens de primeira necessidade.

O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) está “a coordenar todas as intervenções” com os parceiros de cooperação e, posteriormente, vão ser necessárias medidas relacionadas com “a segurança alimentar, educação, proteção”.

A partir da sede em Portugal, a fundação católica está a desenvolver contactos com organizações da sociedade civil como a Fundação Gonçalo da Silveira, ONG Vida, Cáritas, entre outras, para ter “uma resposta concertada nesta grave crise humana”.

“A ideia seria numa fase posterior a esta de intervenção e socorro, e quando baixar o nível das águas, procurar criar o mais rapidamente possível condições para o regresso à normalidade. A intenção é focar nas crianças, para que estejam em espaços seguros e protegidos”, desenvolveu o coordenador de país da ONGD.

Quando começar a reconstrução das áreas afetadas pelo ciclone Idai, a FEC pretende “apostar” na “restauração do acesso à aprendizagem”: “Estima-se que 48% dos afetados são crianças que estão sem acesso a estruturas escolares.”

“A intervenção a ser considerada apostaria na reconstrução de estruturas básicas de educação, implementação de estruturas temporárias de ensino (tendas provisórias) e distribuição de kits escolares”, exemplifica Tiago Coucelo.

Para além da cidade portuária da Beira, entre outras regiões moçambicanas, o impacto do desastre natural afetou outros países como o Maláui e o Zimbabué.

No total, segundo dados da UNICEF, nas áreas afetadas pelos ventos e chuvas fortes provocadas pelo ciclone Idai vivem atualmente cerca de 1,6 milhões de pessoas.

CB

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