Moçambique: Bispos católicos mostram-se preocupados com «as desigualdades» e atos terroristas no país

«Todas estas ameaças e dificuldades não podem fazer cair o sonho de liberdade, autodeterminação e bem-estar», alerta Conferência Episcopal de Moçambique

Foto: Conferência Episcopal Moçambicana

Maputo, 16 nov 2022 (Ecclesia) – Os bispos de Moçambique manifestaram-se preocupados com a situação social e económica do país, alertando para o impacto dos ataques terroristas no “sonho de liberdade e autodeterminação” das populações.

“Todas estas ameaças e dificuldades não podem fazer cair o sonho de liberdade, autodeterminação e bem-estar que acompanha a nossa história de país independente e que em breve completará 50 anos [ndr. 2025]. As qualidades, recursos e boa vontade de que o povo moçambicano dispõe são garantia de que uma sociedade solidária e em paz é possível”, refere a Conferência Episcopal Moçambicana (CEM), numa mensagem às comunidades cristãs e a todos os homens e mulheres de boa vontade.

A nota pastoral, com data de 11 de novembro, foi enviada hoje à Agência ECCLESIA, pelo Centro Missionário da Arquidiocese de Braga (CMAB), que também desenvolve a sua missão neste país de África.

A CEM lembra a “guerra terrorista” em Cabo Delgado, província do norte de Moçambique, que começou há mais de cinco anos e atinge “zonas mais alargadas, incluindo já as Províncias do Niassa e de Nampula”.

“São semeadas destruições e mortes violentas de crianças, mulheres e homens inocentes e pessoas de boa vontade como foi a Irmã Maria de Coppi, assassinada a 6 de setembro, no ataque à Missão Católica de Chipene, Diocese de Nacala”, recordam os bispos católicos.

A nota adverte que os jovens moçambicanos “continuam a engrossar as fileiras dos que semeiam terror” e é a juventude, “o presente e o futuro da nação, que sucumbe nestas incessantes ondas de violência”, reafirmando que os jovens deixam-se “aliciar” por causa da “ausência de esperança num futuro favorável”.

Os responsáveis dizem assistir com “muita preocupação à subida insustentável do custo de vida”, que continua a arrastar “para a pobreza extrema homens e mulheres já sofridos”, e identificam algumas causas como a crise das “’dívidas ocultas’, as mudanças climáticas, as medidas restritivas para a prevenção da Covid-19 e a guerra na Ucrânia”.

“As desigualdades sociais e económicas estão a criar uma brecha profunda. Por um lado, uma minoria endinheirada que se pode permitir todo o tipo de luxo e, por outro, uma maioria empobrecida que nem o básico tem para sobreviver”, alertam, incentivando a “políticas corajosas que eliminem o crescente abismo existente entre irmãos”, e que a ‘Tabela Salarial Única’ (TSU) seja “bem gerida”.

“Nenhuma paz sobrevive a exclusões e a injustiças sociais”, acrescentam, observando que a corrupção “é outro dos grandes males” no país lusófono, onde “a avidez”, por vezes, leva ao favorecimento de “grandes projetos económicos de capitais estrangeiros” que extraem recursos naturais “sem um real e transparente envolvimento das populações”.

Todas estas ameaças e dificuldades não podem fazer cair o sonho de liberdade, autodeterminação e bem-estar que acompanha a nossa história de país independente e que em breve completará 50 anos. As qualidades, recursos e boa vontade de que o povo moçambicano dispõe são garantia de que uma sociedade solidária e em paz é possível.”

Os bispos moçambicanos assinalam que a Igreja Católica se sente “parte integrante desta sociedade e tem a peito o bem do país”, por isso, reitera o seu compromisso de continuar “na assistência espiritual, no diálogo, na educação, na saúde, no desenvolvimento para a consolidação da família moçambicana”.

A CEM informa também que vai ser realizada a II Jornada Nacional da Juventude, de 17 a 20 de novembro, em Nampula, com o tema ‘«Encontrámos o Messias» (Jo 1, 41) – Acompanhar os jovens na Igreja e na sociedade, hoje’.

Uma delegação da Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, que está a promover este evento junto dos países que integram a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), vai marcar presença nesta jornada da juventude moçambicana.

CB/OC

 

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Agência ECCLESIA

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