Missão: Sara Costa e Silva quer viver livre, obediente e «disponível para os subtis toques de Deus»

Argentina, Bolívia, Paraguai e Caparica – Pragal, em Portugal, foram destinos de missão onde aprendeu que o mais importante é a «relação com as pessoas», «o sentido da graça e de se estar ao serviço»

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 18 out 2023 (Ecclesia) – Sara Costa e Silva, formada em arte e design gráfico, diz que perceber o “inesperado como valor na vida” a torna mais “aberta, agradecida, com liberdade” e disponível para “os toques subtis de Deus”.

“Estar aberto ao inesperado e ao espontâneo é para mim a forma de viver mais tranquila, com mais liberdade e com maior atenção para os toques subtis que Deus me dá. O deslumbramento é uma aprendizagem, é olhar a vida com os olhos de uma criança. Tenho sempre a opção de ficar mesmo entusiasmada por algo ou pensar «ah, é mais uma coisa». Eu, quero debruçar-me sobre os momentos para lhes dar mais corpo, dar espaço para contemplar. E isto é algo que se vai exercitando, porque se em criança me era natural, na vida adulta já não tanto”, explica à Agência ECCLESIA.

Sara Costa e Silva assume que viver de forma “simultaneamente livre e obediente” é o caminho que lhe faz mais sentido.

“Desejo ter um coração agradecido, que olha para todas as coisas, para a minha história de vida mas também para o que vai surgindo no caminho, e percebe que tudo é oportunidade de crescimento e de que tudo isso vai desenhando a nossa essência”, reconhece.

O desejo de partir em missão surgiu cedo na vida de Sara e vinha acompanhado de uma geografia: “sabia que queria ir para África”.

Quando terminou o curso, em design gráfico, pensou ser o tempo favorável: “Estava tudo orientado para ir para o Burundi, e muito perto da data, foi impossível ir por razões de segurança”, recorda.

Sara Costa e Silva iria integrar projetos sociais das Irmãs de Maria do Movimento Apostólico de Schoenstatt e acabou por rumar à América Latina, onde permaneceu um ano, entre 2014 e 2015.

“As irmãs iriam receber, na Argentina, meninas em discernimento vocacional, vindas da Alemanha, e disponibilizaram-se para me receber para ajudar nos seus projectos sociais. Confesso que mesmo sem querer criar expectativas, tive de me adaptar. E é interessante perceber que os toques de Deus, me foram moldando para me ajudarem a viver com liberdade o que é estar ao serviço e partir em missão. Aproveitei muito o tempo, aprendi a dar espaço para que as coisas se confirmassem, se transformassem, e para sentir se o caminho seria por ali ou não”, recorda.

Na Argentina trabalhou num espaço onde os jovens podem estar para fugir a problemas de rua – droga e prostituição – e apoiando no estudo e em ateliers, sendo esta uma forma de também chegar às famílias dos jovens; no Paraguai voltou-se para a saúde e a desnutrição infantil e na Bolívia, esteve mais ligada à educação através da arte.

No regresso, o real impacto torna-se percetível não de forma imediata. Os momentos transformadores não criam um real impacto no imediato mas vão sendo revelados no caminho. No regresso não tinha consciência, estava muita coisa a borbulhar, muita coisa que eu desconhecia e me interpelou e me levou a querer explorar mais”.

Estando num processo de “juntar todos os bocadinhos da missão para perceber que passos dar”, surge a possibilidade de fazer a formação da ONGD Leigos para o Desenvolvimento.

Sara Costa e Silva elege a formação como um tempo de muita importância mas reconhece que, no seu caso, era despretensioso quanto a partir em missão – tinha sim a certeza de querer fazer a formação.

No final desse ano, é enviada juntamente com outra leiga, Sara Teixeira, para a missão da Caparica-Pragal, na diocese de Setúbal, entre 2020 e 2021.

“A maior riqueza foi descobrir a graça de poder estar ao serviço, não fazendo coisas «pelos outros» mas «com os outros». No final podemos ter imensos projetos espetaculares, mas o que fica – e dizemos muitas vezes isto em missão, principalmente nos momentos difíceis – são as pessoas. É muito fácil olharmos só para os projetos, a parte mais técnica, e reduzirmos o ano de missão ao cumprimento de objectivos.  Mas a verdade é que no final, o que fica são as pessoas: a riqueza de poder ser frágil, ver o outro frágil”, recorda.

Sara Costa e Silva assume ter uma “ vontade diária de dizer «sim»” e viver “deslumbrada”.

“Vale muito a pena viver a vida de forma entregue aos outros e a amar profundamente, procurando sempre amar mais. É um anseio que vem do interior e se desdobra depois nas moções de partir em missão, me envolver nos Leigos, nas relações que tenho com pares – esta urgência de dar a vida inteira para amar”, sublinha.

A conversa com Sara Costa e Silva pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação e no podcast «Alarga a tua tenda».

LS

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