Missão em 1988

Vasco Mina, Leigos para o Desenvolvimento

O tempo passa e olhando para trás, são já longos anos sobre a minha experiência missionária. Em outubro de 1988 cheguei, com mais outros três Leigos Para o Desenvolvimento, a São Tomé e Príncipe. Lá se encontravam outros dois que tinham partido pouco tempo antes. Sabíamos que se iniciava uma nova etapa das nossas vidas e tínhamos a noção de que iríamos conhecer uma realidade bem diferente.

Parti com muita vontade de dar, de me dar aos outros. Regressei com a sensação que tinha recebido bem mais do que tinha dado. Temos por certo que são os ricos que devem dar aos pobres e isso é verdade no que diz respeito aos suportes materiais básicos da sobrevivência. Quanto à atitude perante o que se quer mas não se tem (nem nunca teve) serão os mais pobres que têm muito para dar; sãos os tais bens (em linguagem financeira, os intangíveis) que não se quantificam mas que são verdadeiras doações de vida.

Recordo-me de um acontecimento que muito me marcou e que ainda hoje me deixa “às voltas”. Certo dia ocorreu um incêndio num edifício habitacional na cidade de São Tomé. Cerca de 40 pessoas ficaram desalojadas e despojadas de tudo (que era seguramente pouco). Formou-se uma espécie de gabinete de crise envolvendo a Caritas, a Diocese de São Tomé e os Leigos Para o Desenvolvimento. Cada uma destas entidades contribuiria com o que dispunha (uns tinham géneros alimentares, outros tinham roupa …).

Plano elaborado e ao fim de poucas horas deslocou-se uma pequena equipa ao local do incêndio para dar início às ajudas. Para espanto de todos, os desalojados tinham abandonado o local e tinham sido acolhidos pelas famílias! Ninguém ficou na rua!… A mesma situação num país rico levaria muitos dias a resolver e com muitos “diretos” nas televisões. Que grande lição de acolhimento!

Outra grande aprendizagem é viver bem com o que se tem. A felicidade não passa por se ter mais mas sim pela aceitação do que se tem. A vivência com os santomenses foi muito enriquecedora nesta dimensão. Recordo-me das conversas que tive com os que viviam na Roça onde fomos alojados e o registo que ficou é de gente que vivia em paz.

Vivemos hoje num país que empobrece todos os dias. Somos todos confrontados com a necessidade de alterar os nossos consumos e mesmo de abdicar de muito do que dispúnhamos. Alguns estão mesmo perante o flagelo do desemprego e são muitas as famílias em sérias dificuldades.

Tal como no incêndio em São Tomé, são várias as entidades que estão envolvidas na ajuda a quem mais precisa. Mas temos de aprender com os santomenses: acolher os que ficam sem nada e saber bem viver com o que se tem!

Vasco Mina, Leigos para o Desenvolvimento

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