Migrantes marcam encontro em Fátima

Rui M. da Silva Pedro, Dir. Obra Católica Portuguesa de Migrações Durante os meses de Julho e Agosto, como acontece noutros países mediterrâneos com notáveis diásporas, como a Espanha, Grécia e Itália, entre outros, Portugal muda de rosto. E isto, devido aos milhares de turistas que nos visitam e ao milhão de portugueses e luso-descendentes que todos os anos “regressa a casa”. É particularmente nesta altura de Verão que o país do norte às ilhas se torna palco de incontáveis festas de cariz popular, muitas delas ligadas à presença dos emigrantes. Foi assim que em 1972, preocupada com as consequências do grande êxodo nacional dos anos 60 causado pelo precipitar-se da guerra colonial e subdesenvolvimento económico do país, a Conferência Episcopal Portuguesa instituiu a Semana Nacional de Migrações e a Peregrinação Internacional Aniversária a Fátima de 12 e 13 de Agosto passou a ser dedicada aos Migrantes e Refugiados (ver programa em www.ecclesia.pt/ocpm). É por esta altura que muitos missionários são enviados para fundar e servir as Missões Católicas de Língua Portuguesa e grupos de sacerdotes e leigos das igrejas de acolhimento fazem estágios linguísticos e culturais em Portugal, organizados pela OCPM e pelos Secretariados Diocesanos da Pastoral de Migrações (SDPM). A Emigração é assumida como parte integrante da acção da Igreja em Portugal. A Peregrinação a Fátima, em Agosto, hoje com menor participação de emigrantes do que noutros tempos, continua a ser o evento de maior projecção de toda a Semana devido ao seu alto significado religioso para as Comunidades Portuguesas e importância mediática que ganhou devido ao tema. A tradição mantem-se e assim todos os anos se procura convidar um bispo de uma diocese onde se encontre fixada uma grande Comunidade Portuguesa para presidir à Peregrinação, e assim estreitar os laços entre igrejas irmãs e chamar a atenção sobre essa comunidade concreta. Este ano foi convidado D. Daniele Labille, bispo de Créteil, na periferia de Paris, região onde se fixaram e refugiaram os numerosos portugueses que nos anos sessenta foram “a salto” e onde surgiram os primeiros “bidonville” (bairros de lata) e “guettos” portugueses que comoveram a Igreja em França. Pretende-se partir da “memória sofrida” dos nossos acontecimentos como povo emigrante para nos comprometermos com a “situação dramática” de muitos imigrantes em Portugal. Cada vez mais, é também nesta Semana Nacional que encontra espaço e ressonância o compromisso da Igreja em prol dos imigrantes e refugiados. Outrora, uma Semana preferencialmente voltada para a Emigração. Desde há uma década também comprometida com a Imigração. Todos sabemos quanto Portugal mudou de rosto nas últimas 3 décadas devido à intensificação de fluxos migratórios com origem no Brasil e África lusófona, e na última década, fluxos oriundos da Europa de Leste, da China e Índia. O país está mais jovem, mais multicultural, mais cosmopolita, mais global. Sem deixar de ser país de emigrantes – em 2002 partiram de forma legal e permanente, sem contar os sazonais, perto de 27.000 portugueses que se juntaram aos 4.800.000 – torna-se país de acolhimento e de refúgio para 450.000 cidadãos estrangeiros (4,5% da população) que aqui já residem legalmente. E não são apenas Lisboa, Porto, Faro e Setúbal os distritos que acolhem imigrantes, como vinha acontecendo tradicionalmente deste os anos 70. Desde as dioceses marcadas quer pela ruralidade e desertificação, quer pelo urbanismo e suburbanismo, assistimos ao progressivo envolvimento de todas elas, como ficou patente nos trabalhos e conclusões das Jornadas da Pastoral de Migrações, realizadas recentemente no Funchal. Não obstante a maioria dos SDPM encontrar grandes dificuldades na dinamização da Semana devido a ocorrer em pleno tempo de férias, conforta-nos a certeza de que nessa semana, e de maneira especial, no domingo que a encerra – Dia Nacional de Migrações – em todo o país se produz uma grande corrente de oração pelas necessidades dos migrantes, de catequese sobre a mobilidade, de comunhão com os missionários de migrantes e solidariedade para com o empenhamento pastoral da Igreja no mundo da Mobilidade hodierna. Continua-se a sugerir que nessa semana aconteçam sinais de acolhimento concreto, acções de reconhecimento cultural recíproco, momentos de reflexão protagonizados pelos próprios emigrantes ou imigrantes, e de são convívio entre todos: portugueses, emigrantes e imigrantes. É também no Dia Nacional de Migrações que as comunidades cristãs partilham os seus bens através do ofertório nacional desse domingo para as estruturas diocesanas e nacionais da Pastoral da Mobilidade, a saber: o Apostolado do Mar, a Obra Nacional dos Ciganos, a Pastoral dos Refugiados e das Migrações. Uma última palavra sobre o tema: “Uma só família humana”. Inspira-se como é habitual na Mensagem que o Santo Padre escreve para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado que a Santa Sé assinala desde 1914. A mensagem que cada Conferência Episcopal difunde no seu Dia Nacional das Migrações (data móvel), para nós este ano no domingo 17 de Agosto, aborda o empenho dos cristãos “para vencer o racismo, a xenofobia e o nacionalismo exagerado”, realidades que fragmentam e dividem violentamente a família humana. Eis uma reflexão muito oportuna num Portugal influenciado por um mundo onde aumentam os sinais de intolerância religiosa, violência organizada, discriminação racial, limpeza étnica e exclusão social de estrangeiros e de minorias, entre outras, a cigana, a negra e a indiana. Que como diz o Papa, e inspirados pelo beato João B. Scalabrini, padroeiro dos Migrantes, esta Semana seja “um tempo de reflexão dos católicos sobre os seus deveres para com os migrantes” que no mundo atingem, segundo a OIM, cerca de 175 milhões de pessoas. Rui M. da Silva Pedro, Dir. Obra Católica Portuguesa de Migrações

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