Migrações: Fuga à crise cresce sem poupar ninguém

Tomar, Santarém, 02 jul 2014 (Ecclesia) – Coimbra, Santarém e Viana do Castelo são exemplos de regiões onde a emigração está a acontecer de forma “intensa”, porque a crise económica é generalizada e não poupa ninguém, mesmo a população mais idosa.

De acordo com o padre Leopoldo Gonçalves, do Secretariado Diocesano das Migrações e Turismo da Diocese de Santarém, atualmente “vê-se emigração de muita gente que à partida nunca pensaria emigrar”.

“Alguns emigrantes têm idade de avós”, realça o sacerdote, em declarações à Agência ECCLESIA.

O responsável católico está em Tomar a participar num encontro nacional de secretariados e capelanias ligadas à Pastoral das Migrações.

 Subordinado ao tema “Longe é mais perto do que se imagina”, o evento tem como objetivo ajudar os agentes pastorais a atualizarem meios e métodos na resposta aos desafios trazidos por esta nova vaga de emigração.

Um fluxo motivado sobretudo pelas dificuldades económicas e pelo desemprego generalizado.

Em Tomar, a falta de trabalho tem-se agravado desde os últimos 40 anos, com “grandes empresas” a serem obrigadas a fechar portas ou a reduzirem o seu pessoal.

Os setores mais afetados são os da “construção civil, da cerâmica e da madeira”, adianta o padre Leopoldo Gonçalves, mas o comércio e os serviços estão a decair “aos poucos”.

“Na parte velha da cidade, muitas lojas estão quase com zero clientes. Tomar sobrevive hoje com as escolas e o hospital”, complementa.

A frase que custa mais ouvir ao sacerdote é “nunca pensei que isto me viesse a acontecer”.

Há pessoas “com problemas graves”, que ficaram sem hipótese de “satisfazer compromissos que tinham assumido”, como pagar a casa.

“Pessoas que chegam ao banco e depositam na chave da casa um projeto”, lamenta o responsável católico.

Em Coimbra, a conjuntura financeira atual está a obrigar muitas pessoas a “retornarem à emigração”, sobretudo para a Suíça e Angola.

O movimento de saída, em busca de melhores perspetivas de vida, envolve também “muitos jovens com formação superior”, por exemplo em áreas como “a engenharia e a enfermagem”.

Carlos Neves, do Secretariado de Mobilidade Humana da Diocese de Coimbra, chama a atenção também para o “drama afetivo” que envolve toda esta realidade.

Enquanto nos anos 70, muitos saiam do país já com “uma família constituída, para estabilizar, para estar”, atualmente os jovens saem muitas vezes ainda “sem perspetivas de vida” e ficam “desestruturados”, sentem-se lá forma “em terra de ninguém”.

Já Ana Costa, do Secretariado Diocesano de Viana do Castelo, aponta para as implicações da elevada taxa de emigração jovem, motivada pela crise, na sua região.

“Vamos ter uma população mais envelhecida a nível local, com todas as consequências que isso tem”, conclui a agente pastoral.

PR/JCP

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