Mianmar: Associação de lusodescendentes denuncia ataques a aldeias onde vivem comunidades católicas

«Estratégia de terror» para demover revoltas atinge «minoria católica luso-descendente»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 08 jun 2022 (Ecclesia) – A Associação Internacional de Lusodescendentes (AILD) está a acompanhar a situação politica e social em Mianmar e alerta para a “estratégia de terror” dos militares que também afeta aldeias onde vivem comunidades católicas e “descendentes de combatentes portugueses”.

“A estratégia de terror adotada pelos militares, para demover novas revoltas, atua agora também sobre a minoria católica luso-descendente”, alertou a AILD, em comunicado enviado ao secretariado português da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Segundo a informação enviada hoje à Agência ECCLESIA, pela AIS, a Associação Internacional de Lusodescendentes explica que as “atrocidades” afetam milhares de católicos – os bayingyis – descendentes de combatentes portugueses que estiveram ao serviço dos monarcas birmaneses, entre os séculos XVI e XVII.

“Milhares de membros do povo Bayingyi tornaram-se refugiados, encontrando-se agora distribuídos por aldeias vizinhas ou nos complexos das organizações religiosas”, alerta.

A associação adianta que esta comunidade católica está distribuída por 13 aldeias e, desde dezembro de 2021, algumas foram alvo de violência por parte dos militares de Mianmar.

“Na verdade, não me surpreendeu a violência dos militares birmaneses pois é conhecido o seu modus operandi. Quem queima todas as casas de uma aldeia é muito capaz de matar a eito. Aliás, os quatro casos (conhecidos) de assassinato de bayingyis são reveladores”, disse o diretor-geral da AILD para a região Ásia Pacífico.

Joaquim de Castro explicou que dois bayingyis  “foram torturados antes de serem abatidos a tiro”, um terceiro tinha uma “grave deficiência cognitiva”, por isso, considera que “os soldados mataram por divertimento”.

O jornalista assinalou que no ataque mais recente, a 20 de maio, as pessoas na aldeia de Chaung Yoe fugiram “antes da chegada dos militares, caso contrário tinha havido mais mortes”.

“Mais de 300 casas foram destruídas à bomba. A aldeia era composta por cerca de 350 fogos, sendo que, neste momento, apenas 20 casas permaneceram intactas”, acrescentou Joaquim de Castro, investigador da História da Expansão Portuguesa.

A Associação Internacional de Lusodescendentes indica que têm informações de vários ataques este ano, no dia 28 de março, quando “elementos à civil, fortemente armados, tiveram como alvo o complexo da Igreja, disparando sobre a casa do clero e aprisionando três religiosos”, no dia 25 de fevereiro, a 10 de janeiro, com os soldados a tomarem a aldeia de Chan-tha-ywa., onde saquearam as habitações, abateram os animais “sustento das populações”, como vacas, búfalos, porcos, “prenderam doentes e idosos que não puderam fugir”, e mataram “três habitantes”.

No dia 6 de maio, os soldados regressaram a Chan-tha-ywa, incendiaram 22 casas e destruíram as colheitas, e a primeira aldeia a ser atacada foi Chaung Yoe, “a escassos dias das celebrações do Natal” de 2021.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre tem procurado acompanhar a situação em Mianmar exemplifica que, em fevereiro deste ano, 14 paróquias no Estado de Kayah tinham sido abandonadas, “com muitos padres e irmãs refugiados na selva ou em aldeias remotas”.

A 1 de fevereiro de 2021, os generais terminaram um período de transição democrática e desde então executam uma política de repressão que já levou à morte de quase 1500 civis, de acordo com um grupo local de monitorização, e dezenas de opositores foram condenados à morte.

CB

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