Mensagem do Bispo de Beja para a Quaresma de 2008

«Solidários com os pobres» Nunca na história da humanidade se registou um progresso económico tão acentuado como na actualidade, graças aos avanços da ciência e das novas tecnologias, mas também nunca houve tantas desigualdades como hoje, mesmo dentro das sociedades e países desenvolvidos. As manifestações de pobreza são diversas. Nos países do chamado terceiro mundo referem-se sobretudo às necessidades básicas da pessoa, sendo muitas vezes sinónimo de fome, para já nem falar de saúde, habitação, cultura, etc. Nas sociedades mais desenvolvidas a probreza manifesta-se sobretudo como exclusão social. Na comunidade europeia, Portugal apresenta uma das taxas mais elevadas de pobreza, ou seja, cerca de 2 milhões de pessoas, 20% da população, vivem com rendimento abaixo do limiar de pobreza, isto é, com um rendimento mensal inferior ao salário mínimo nacional por pessoa adulta. Este tipo de pobreza, a taxa crescente de desemprego e a precariedade do trabalho podem levar facilmente à exclusão e à ameaça à coesão nacional e paz social. Precisamos de desenvolver políticas de solidariedade social e apelar à fantasia do amor, não empurrando para os outros aquilo que está ao nosso alcance. Além disso sabemos que a pobreza, sobretudo na sua expressão de exclusão social, não se combate apenas com recursos económicos. Nunca como hoje a solidariedade tem de partir do amor ao próximo, ou melhor, da atitude de nos tornarmos próximos dos mais necessitados, para os conquistarmos para a sua e nossa dignidade de pessoas. “Cristo fez-se pobre por nós” (2 Co 8, 9) Os cristãos têm uma obrigação e força acrescidas nesta relação com os mais pobres, porque Cristo, sendo rico, se fez pobre e nos deixou como distintivo da nossa identidade de cristãos o amor mútuo, afirmando que aquilo que fizermos ou deixarmos de fazer aos mais necessitados é a Ele mesmo que o fizemos ou não (Cf. Mt 25, 31 ss). A mensagem do Santo Padre Bento XVI para a Quaresma deste ano centra-se precisamente na prática da esmola e da administração dos bens materiais de forma solidária, como uma atitude a intensificar neste tempo de seguimento mais próximo de Jesus e de preparação para a Páscoa. Nela reafirma que a esmola não é um simples acto de filantropia, mas antes uma necessidade para o cristão. Citando uma expressão do livro dos Actos dos Apóstolos, “ há mais alegria em dar que em receber”(Act 20, 35), afirma que isso diz respeito à realização do nosso ser, criados para vivermos não para nós próprios, mas para Deus e os irmãos (cf 2 Co 5, 15). Quando partilhamos com os outros experimentamos que a plenitude da vida provém do amor. Por isso podemos dizer que o rico egoísta é pobre do essencial do ser humano e nunca poderá experimentar a alegria e plenitude de vida daquele que ama e se sente amado. As pessoas, famílias e sociedades apenas se sentirão bem, em paz, incluídas na convivência social quando todos amarem aqueles que os rodeiam e se sentirem amados. Este é o caminho para superar a exclusão social e criar famílias e sociedades coesas. Este deve ser o objectivo dos nossos sistemas educativos, sociais e políticos. Na Quaresma, com a oração da Igreja e a tradição cristã, queremos viver mais atentos ao essencial da nossa fé, olhando para o caminho e a mensagem de Jesus Cristo. As práticas da oração mais frequente, do jejum e abstinência dos prazeres da alimentação e a atenção e partilha de bens com os mais necessitados poderão fazer-nos enriquecer na nossa identidade de pessoas e discípulos de Jesus Cristo, que fez da sua vida uma doação por amor. Destino da renúncia quaresmal deste ano Desde há alguns anos que as comunidades cristãs orientam a partilha do tempo da Quaresma para alguma necessidade mais grave e premente, a fim de educar as nossas atitudes de solidariedade e crescer na capacidade de amar. Na diocese de Beja, na Quaresma de 2007, o destino das nossas renúncias e partilha foi, uma parte para ajudar a lançar uma obra de apoio a mulheres grávidas com dificuldade, em Portalegre (“A vida nasce”) e outra parte para a diocese de Meliapor, na Índia. Infelizmente a generosidade dos nossos diocesanos, ou talvez o desconhecimento destes objectivos humanitários, foi menos expressiva que em anos anteriores. O resultado entregue até ao início de Fevereiro nos serviços diocesanos atingiu apenas a quantia de 14. 619,10 €. Por deliberação do Conselho Presbiteral a renúncia quaresmal deste ano destina-se às vítimas das cheias de Moçambique, sobretudo na diocese da Beira, que deixaram muitas famílias sem casa e muitas instituições sociais e eclesiásticas sem possibilidade de funcionar e cumprir a sua acção junto dos mais pobres. Por isso aqui fica o apelo à nossa generosidade, conscientes de que chegaremos à Páscoa mais ricos na capacidade de amar, ao mesmo tempo que contribuímos para minimizar as necessidades básicas dos mais pobres deste mundo, cujo clamor brada aos céus e não nos pode deixar surdos e de mãos fechadas. Para todos os diocesanos votos de uma Quaresma de 2008, mais rica nas relações com Deus e com o próximo, a começar pelos membros das nossas famílias e comunidades, estendendo-se aos mais carecidos do nosso mundo, globalmente rico, mas solidariamente pobre. Sejamos sinal de mudança! † António Vitalino, Bispo de Beja

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