Bispo de Viana do Castelo quer maior perfeição nas celebrações

Diocese conta com 49 novos MECs «Partamos para o terreno das nossas paróquias, arregacemos as mangas», foi o desafio deixado, ontem, pelo Bispo de Viana do Castelo, D. José Pedreira, aos mais de 500 participantes no XXX Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica, sublinhando que «clero e leigos têm, ainda, uma longa caminhada a prosseguir para atingir a perfeição celebrativa». Na celebração eucarística de encerramento de um encontro dominado pela reflexão sobre a “unção e pastoral dos doentes”, o prelado, sem esquecer os movimentos e obras diocesanos que podem contribuir para a «eficiência na missão» junto dos «mais pequeninos do reino», assinalou que é a paróquia, enquanto comunidade, que deve ter em conta esta «presença suavizadora» para com todos os excluídos, particularmente, junto dos doentes, idosos e de todos aqueles que «não podem participar nas celebrações realizadas no templo da igreja local». Hoje, prosseguiu o prelado, mais do que nunca, «importa ter em conta o crescente número de idosos em situação de isolamento e solidão», a quem é devido um apoio quer no aspecto material quer espiritual e religioso. Neste domínio, alerta o Bispo de Viana do Castelo, os fiéis têm uma missão «imprescindível », face à diminuição do clero, junto dos idosos e doentes, mesmo não sendo Ministros Extraordinários da Comunhão (MEC). No entanto, dirigindo-se a estes, e em particular aos 49 que ontem foram investidos, disse que os envia com a «missão muito especial» de ministrar a Santa Eucaristia aos doentes, fiéis acamados, idosos e todos aqueles que por «limitações físicas ou psíquicas » já não saem de casa com facilidade ou necessitam da ajuda de outros. Pastoral da saúde deve ser de presença A Igreja deve passar de uma «pastoral de chamada para uma pastoral de presença », defendeu sábado em Viana do Castelo o padre Feytor Pinto numa intervenção no âmbito do Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica, que terminou ontem à tarde com o envio, por D. José Pedreira, de mais 49 novos MEC. O responsável nacional da Pastoral da Saúde, uma área relativamente recente, diz que ela representa um «grande passo da nova evangelização » e que é uma oportunidade de mudança nas comunidades para que seja abandonada aquela tradição «sacramentalista próxima da morte». Feytor Pinto defendeu que esta acção organizada da Igreja, além ser enquadrada no todo da acção pastoral, porque é através dela que se realiza a acção salvífica, tem o desafio de se focar na saúde. Esta pastoral deve tender para uma educação para a saúde, encontrar meios de acompanhamento do doente e família, apoio espiritual e estar junto do doente na sua fase terminal. Tudo isto requer uma operacionalização que passa pela «humanização para todos», a evangelização para os crentes e a sacramentação para os que o pedem», especificou. Este sector da pastoral não é apenas para uns quantos, mas deve ter a intervenção de toda a comunidade, embora os “actores” tenham de ter uma «sensibilidade pastoral específica». Aquela área de intervenção, que exige uma «presença continuada », obriga a uma relação com as unidades de saúde e com os diversos serviços, além de uma ligação estreita com todos os profissionais e com os voluntários em exercício, advertiu. Feytor Pinto chamou a atenção para a espiritualidade a apoiar, seja no doente ou no profissional de saúde, que exige um particular cuidado no «método de aproximação» para ajudar a crescer na fé, na confiança e na oração, através de um «caminho» centrado na pessoa de Jesus. O cónego Manuel Joaquim Costa interveio no encontro para uma abordagem aos rituais da unção e da pastoral dos doentes, sublinhando que celebrar o sacramento é abrir o horizonte da nossa vida à novidade e abundância do mistério pascal de Cristo. O responsável pela Pastoral Litúrgica na Arquidiocese de Braga disse que é tempo de retirar preconceitos ao sacramento da Santa Unção, porque «não é um rito mágico de cura», e deixar de o celebrar de forma «intimista», onde apenas interagem o doente e o sacerdote, mas envolver toda a comunidade, em particular a família e os amigos de quem está em sofrimento. Este, como todos os outros, é sacramento da proximidade do Reino de Deus e por isso, mesmo podendo ser recebidos várias vezes e em circunstâncias diversas (perigo de vida, doença, velhice ou mesmo antes de uma intervenção cirúrgica), há que «haver o cuidado em não banalizar» a sua celebração. Urge desenvolver «cultura do cuidar» A teóloga e professora da Faculdade de Teologia de Braga, Isabel Varanda, defendeu ontem no Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica que urge desenvolver e implementar uma «cultura do cuidar» não apenas da pessoa que está fragilizada pela doença, mas também daquele que, no seio da humanidade, pratica actos abomináveis. Dissertando sobre o “significado teológico da doença e do sofrimento”, começou por chamar a atenção para a necessidade de se enveredar por uma ética da «caridade» que conduz a uma «ética dos máximos» por contraposição à ética dos princípios tradicionais que mais não conduz do que a uma ética “dos mínimos”. Isto para avançar para uma cultura do cuidar para que o mundo não se auto-destrua. Em contraposição com a cultural actual, a teóloga defendeu o «direito a sofrer» a fazer a experiência da vulnerabilidade e fragilidade humanas ao invés de olhar para essas dimensões da pessoa como «humilhação». Chamou ainda a atenção para a necessidade de se atender à «encarnação» desta fragilidade num corpo que espelha uma «narrativa » ou história de vida, muitas vezes explicitada sem palavras. Por isso, o silêncio, o olhar, o recato e o não desclassificar o sofrimento do outro são dimensões desta cultura do cuidar que cada pessoa deve cultivar. Isabel Varanda acentuou ainda que a «saúde é a força para viver com a doença e a fragilidade» e sublinhou que os cristãos «se percebessem que a morte não mata, viveriam com outra serenidade», numa clara alusão à ressurreição de Cristo que atravessou e derrotou a morte. O encontro incluiu ainda um debate, com a participação de Manuel Domingos da APPACDM, Maria Augusta Pacheco, do Movimento “Fé e Luz”, e Maria Goretti da Silva, da Fraternidade Cristã Doentes Crónicos e Deficientes Físicos, para analisar a “participação litúrgica” como espaço para uma «maior inclusão» dessas pessoas.

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