Cardeal Louis Raphael Sako explica que nesta região «não há estabilidade duradoura, há vários anos»
Cidade do Vaticano, 24 jun 2020 (Ecclesia) – O patriarca da Igreja Caldeia no Iraque afirma alertou para o impacto dos bombardeamentos turcos no norte do país, sublinhando a posição de fragilidade dos cristãos, afetados ainda por “algumas leis discriminatórias”.
“A Turquia atacou sem informar as autoridades iraquianas. Os últimos ataques atingiram uma área maior e alguns vilarejos, incluindo os cristãos, foram bombardeados. Pelo menos 10 civis já morreram, não sei se há cristãos entre as vítimas, mas devemos lembrar que cidadãos iraquianos morreram”, disse o cardeal Louis Raphael Sako sobre o ataque realizado no domingo, que também atingiu “um cemitério caldeu cristão”.
Ao portal ‘Vatican News’, o patriarca da Igreja Caldeia no Iraque contextualiza que o bombardeamento da Turquia visava os “grupos de combatentes curdos” do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) que têm as suas bases no território iraquiano, “nas montanhas, perto da fronteira”, de onde “lançam ataques para o território turco”.
A região do norte do Iraque é habitada por comunidades cristãs, caldeias e assírias e os ataques no dia 21 de junho atingiram particularmente a área de Zakho, cidade onde nasceu o cardeal Sako.
“É uma população que já sofreu muito, já foi deslocada e teve que fugir e aconteceu muitas vezes, não apenas no período ligado ao chamado ‘Estado Islâmico’. Nesta região, há vários anos, não há estabilidade duradoura. Agora as pessoas dos vilarejos afetados pelos ataques foram deslocadas novamente. Estes são problemas que se arrastam há anos mas devem ser resolvidos com um diálogo sério e não pela via militar”, desenvolveu.
O patriarca da Igreja Caldeia no Iraque referiu também que, com a pandemia de Covid-19, a situação das pessoas e o medo “piorou, porque o governo anterior deixou o Iraque sem recursos, não há economia”.
Sobre o novo coronavírus, o cardeal Louis Raphael Sako contextualiza que “o número de pessoas infetadas está a aumentar” e “há escassez de médicos e medicamentos” mas “não há dinheiro” porque “há grupos e partidos políticos que se aproveitam da situação há 17 anos”, num país “marcado por divisões”.
“Nós fazemos parte do mosaico iraquiano. Não procuramos privilégio ou prestígio, existem algumas leis discriminatórias, mas podemos resolver tudo isso. Este cenário difícil afeta toda a população, mesmo no sul do país, a situação continua grave”, concluiu o cardeal Louis Raphael Sako ao ‘Vatican News’.
A comunidade caldeia (rito oriental da Igreja Católica) no Iraque reza na mesma língua de Jesus, o aramaico, e sobrevive há 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território iraquiano; Bento XVI, agora Papa emérito, confirmou a eleição de D. Louis Sako como patriarca de Babilónia dos Caldeus (Iraque), realizada pelo Sínodo dos Bispos desta igreja, que decorreu em Roma, a 1 de fevereiro de 2013.
CB/OC