LUSOFONIAS – Nas periferias de Maputo…

Tony Neves, entre Maputo e Nampula.

Deixei Roma numa manhã quente e rumei a Lisboa. O avião que me levou em dez horas e tal até Maputo tinha um nome simbólico: ‘Fernão Mendes Pinto’, o escritor que nos legou a sua grande ‘Peregrinação’. Aterrei com frio na capital de Moçambique, já estávamos na madrugada do dia seguinte. O P. Edmilson Semedo, Espiritano Cabo Verdiano, fez-me atravessar uma parte da cidade para me levar até à Matola, onde está o grande Seminário InterDiocesano de Filosofia, confiado a Santo Agostinho. A razão de tal visita deve-se ao facto dos Espiritanos terem assumido, recentemente, a direcção desta grande Instituição, a pedido da Conferência Episcopal. São cerca de 120 os seminaristas que ali residem e têm as suas aulas, transformando a instituição numa máquina de gestão muito complexa, embora se trabalhe para que ali viva e cresça uma família.

O Campus do Seminário está numa periferia da cidade, num espaço amplo onde há um edifício da Conferência Episcopal e diversos outros ao serviço do Seminário. Há ainda um terreno grande com árvores de fruta, plantação de legumes e pequenos edifícios onde habitam porcos, cabras, coelhos e aves de muitas espécies.

Tive a oportunidade de rezar a oração da tarde com os seminaristas e de acompanhar o P. Yves Mathieu, ecónomo, para a celebração da Missa do Corpo de Deus na Capela de S. Francisco Xavier, pertencente à Paróquia de S. Francisco de Assis, nas periferias da Matola, já a caminho de Maputo. É uma área que, fora da estação das chuvas que tudo alaga, se torna muito fértil para a agricultura, vendo-se muitas plantações de couve, alface, cebola e outros legumes. A Missa foi muito participada e animada, como sempre acontece por terras de África. O ritmo é marcado pelos batuques e os cânticos, em português e em changana, acompanhados pelas palmas. Ainda demos uma volta ao bairro, mas foi tudo muito de corrida porque era preciso regressar a Maputo para voar rumo a Nampula.

Nampula fica a sul de Cabo Delgado, a Província mais falada de Moçambique pelo facto de continuar a ser vítima de ataques terroristas atribuídos a movimentos filiados no Estado Islâmico. As notícias que chegam, por fontes diversas, são muito contraditórias. Eu continuo a confiar mais no que dizem os missionários, pois estão no terreno e não alimentam interesses políticos ou económicos. Já cá em Maputo, recebi notícias de missionários segundo as quais houve novos e violentos ataques no norte do país, estando os ‘insurgentes’ a atacar áreas novas, parecendo ganhar terreno numa guerra que se quer escondida e pouco badalada. Mas são milhares as pessoas deslocadas, a fome ataca e não se sabe quando nem como esta situação vai normalizar. As populações sentem-se inseguras e abandonadas à sua má sorte, vítimas de negociatas económicas que apenas beneficiam uns poucos. O novo Bispo de Pemba tem erguido a sua voz para denunciar as atrocidades que ali se cometem. Também o Bispo de Tete falou estes dias para dizer que a situação está a piorar e pode alastrar a outras geografias, bem como abalar a já tão frágil economia do país que, nos próximos tempos não poderá contar com as chorudas receitas da exploração de gás natural. Diz-se que a Província de Cabo Delgado tem a 3ª maior jazida de gás do mundo…

A viagem para Nampula dura duas longas horas, tal a distância que separam as duas capitais de província, num país que é estreito mas muito comprido. Não havendo boas estradas, a viagem só pode ser feita por avião, o que torna as deslocações caríssimas, impossíveis para a maioria dos bolsos dos moçambicanos.

O Capítulo dos Missionários Espiritanos vai avaliar a missão que se faz em Moçambique desde há 25 anos. E, claro, em jubileu de prata, há muitas e boas razões para celebrar. Momento alto será a da presença em território moçambicano do P. Alain Mayama, Superior Geral desta Congregação, que se desloca aqui, a partir de Roma, para o Capítulo e a celebração do Jubileu.

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