LUSOFONIAS – De Roma a Glasgow

Tony Neves

Os líderes dos ‘auto-proclamados’ 20 países com as economias mais desenvolvidas do mundo (G-20) reuniram-se em Roma, a 30 e 31 outubro, na Cimeira anual. Faltaram alguns chefes de Estado, dois deles com muito peso: da Rússia e da China, um mau sintoma da (ir)responsabilidade colectiva de certos governantes. Ao pautar-se pela ausência, os líderes máximos destes dois poderosos países quiseram dizer ao mundo que preferem decidir sozinhos as suas opções governativas, bem como a sua estratégia de diplomacia mundial. Esqueceram-se do provérbio africano que diz: ‘quem anda sozinho pode ir mais depressa, mais quem anda acompanhado vai mais longe!’. Também não quiseram tomar a sério o aviso do Papa: ‘estamos na mesma barca e ou nos salvamos juntos ou morremos todos afogados!’. Assusta-me a falta de solidariedade e de um projecto comum para salvar a humanidade. Até porque os países mais ricos traficam influências e as suas decisões têm um impacto planetário. Mas passemos adiante. O G-20 incompleto analisou o estado actual do mundo, concluiu que a pandemia aumentou problemas já existentes, tornando urgente a vacinação global e a recuperação económica. Quanto às alterações climáticas, consideraram-nas como um dossier que merece respeito, compromisso e concertação, chutando a bola para Glasgow. A Caritas bem pediu ao G-20 que convertesse as promessas em vacinas e o jornal ‘Le Monde’ publicou um infografismo a provar que estes países são responsáveis por mais de 50% das emissões de CO2,  mas…De todo o encontro, o momento mais mediatizado e amplificado acabou por ser a reunião privada entre o Papa Francisco e o presidente Biden, com promessas de mais empenho dos EUA e da Igreja no que diz respeito ao drama dos migrantes e às questões ligadas às alterações climáticas. Apesar de tudo, o anfitrião Mário Draghi, no discurso final, mostrou-se optimista pelos resultados alcançados na luta contra o aquecimento global com o ‘virar da página do carvão’, mas não deixou de dizer que os governantes serão julgados pelo que fazem e não pelo que dizem. Por isso, de Roma os aviões rumaram a Glasgow, numa poupança de tempo e de dióxido de carbono para tentar dar corpo às mudanças que se afiguram urgentes, mas difíceis. Ali está a acontecer a 26.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.

A COP26, dando continuidade à Conferência de Paris (a COP 25), reúne mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos, de 31 de outubro a 12 de novembro, com o objectivo de atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030. O Papa Francisco publicou uma mensagem de estímulo aos líderes: “Os decisores políticos que vão tomar parte na COP26 de Glasgow são chamados, com urgência, a oferecer respostas eficazes para a crise ecológica que vivemos e, desta forma, dar esperança concreta às gerações futuras’. O Papa voltou a repetir o que disse na Laudato Si ao pedir que se ouvisse o grito da terra e dos pobres, o que obriga a mudar o modelo de desenvolvimento que nos governa e mata. Falar mais claro era difícil!

O dia de abertura foi para amplificar as palavras dos grandes deste mundo. O presidente americano prometeu cumprir Paris, não com palavras, mas com decisões políticas corajosas, pois é preciso liderar pelo exemplo e não pela demagogia. Para Biden, travar o aquecimento global é um imperativo moral e económico. Há, por isso, que diversificar as fontes de energia, apostando nas que garantem um desenvolvimento limpo. Na mesma linha interveio o presidente francês. Emanuel Macron lançou um pedido aos países mais ricos: que não se esqueçam da COP 25 de Paris onde ficou decidido que estes países ajudariam os mais pobres na missão de manter o planeta habitável. O primeiro ministro britânico, Boris Johnson também exigiu aos governantes o cumprimento do que já foi assinado. Caso contrário –lamentou – as promessas ficarão para a história como falsos blá blá blá!

O primeiro ministro Narendra Modi, surpreendeu tudo e todos ao garantir que a Índia, o terceiro país mais poluidor do mundo, atingirá a neutralidade carbónica em 2070.

Para terminar, um alerta de António Guterres: o Secretário Geral da ONU pediu aos líderes do mundo inteiro para pararem de cavar a sua própria sepultura. Não é uma fórmula simpática para usar num dia em que muita gente vai aos cemitérios, mas é um alerta que aponta baterias à consciência da humanidade. A Terra é a casa comum de todos.

 

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Agência ECCLESIA

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